Presidente parece determinado a criar estatal para pré-sal

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece determinado a criar uma nova empresa totalmente estatal para administrar as reservas de petróleo da área do pré-sal (abaixo do leito marinho), diz reportagem desta quinta-feira (11) do jornal britânico “Financial Times”. O governo, conforme a publicação, já iniciou conversas com a Noruega para obter informações sobre a forma de atuação da empresa Petoro no Mar do Norte, que serviria de modelo para o Brasil.

Em reportagem de quase uma página, a publicação traz a foto de Lula e do presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, com as mãos sujas com o primeiro óleo extraído do pré-sal, no Campo de Jubarte, no Espírito Santo. O título da reportagem é “O novo lucro de Lula”.

De acordo com o FT, as companhias estrangeiras poderão ser impedidas de entrar no processo. “Esta é uma má notícia quando essas empresas não estão conseguindo repor as reservas usadas com novas descobertas.

O jornal explica que há um grupo do governo discutindo qual será o modelo adotado pelo País no setor. Entre as possibilidades estão os sistemas de partilha de produção e a participação das empresas por meio de contratos de prestação de serviço. “O que parece quase certo é que o atual modelo de concessão, em vigor desde 1997, vai mudar.

As discussões, diz o jornal, causaram uma “tempestade política” no Brasil, provocando reações negativas até de políticos que geralmente apóiam o governo. Reclamações sobre os direitos dos minoritários da Petrobras e acusações de uso eleitoral do tema surgiram.

“A insatisfação é compartilhada com a própria Petrobras”, afirma o jornal. A companhia, diz a publicação, investiu e acumulou experiência por anos e agora a indústria que ela mesma ajudou a criar está em risco.

Ao FT, Gabrielli descreveu as conversas com o governo como “aquecidas”. “Acreditamos que podemos desenvolver os campos do pré-sal por conta própria”, afirmou o presidente da Petrobras, depois mudando a frase para: “Talvez não 100%, já que não conhecemos 100% do que está lá”.

Conforme a publicação, executivos da indústria concordam que há espaço para mudanças no modelo do setor brasileiro, a partir da redução do risco de exploração no pré-sal, devido à constatação de que existe petróleo na região. “Se a Noruega é o guia, ter uma nova parceria dessa natureza no futuro não é motivo para ficar assustado”, diz um executivo sênior de uma petroleira. Mas outros especialistas consultados pelo FT estão mais céticos. “Não faz sentido”, afirma Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE).