Presidente do BNDES acha neoliberalismo “fantasia”

O novo presidente do BNDES, Carlos Lessa, afirmou, em seu discurso de posse, ontem, que pretende exaltar as características desenvolvimentistas do banco. Lessa também criticou duramente a filosofia neoliberal, opção do Brasil nos anos 90. Segundo ele, o “desmantelamento de setores estratégicos em nome da ideologia neoliberal” cria riscos estratégicos e o apagão sofrido pelo país foi uma evidência disso. – A fantasia neoliberal não nos conduz a lugar algum, disse.

São Paulo (das agências) – Lessa declarou que nenhum país conseguiu construir vantagens competitivas sem uma interconexão entre o Estado e as empresas, “que o liberalismo em princípio abomina e execra”. Para Lessa, a presença no comércio exterior muitas vezes despreza o tamanho e o dinamismo dos mercados internos.

O novo presidente do banco reforçou a necessidade de reestruturar setores fragmentados da indústria e de estimular as pequenas e médias empresas a exportar.

Carlos Lessa pretende promover uma revolução na estrutura do banco. Segundo técnicos da instituição próximos ao novo presidente, o número de superintendências deverá cair de 26 para 12, o que representará o corte nos salários de pelo menos 140 executivos. Estes funcionários estão sediados basicamente no Rio de Janeiro. Eles não deverão ser demitidos, mas perderão os cargos de confiança – em geral, de assessores ou superintendentes, que recebem comissões.

Funcionários contratados de outros órgãos ou de consultorias privadas serão devolvidos ou exonerados. Isso já começou a ser feito pelo ex-presidente do BNDES, que demitiu todos os seus assessores.

O banco tem um orçamento de R$ 34 bilhões este ano, valor 6,38% superior ao de 2002. Pela programação do governo anterior, cerca de 42% desse montante seriam para financiar as exportações e R$ 2,4 bilhões se destinariam à área social, contra R$ 1,5 bilhão no ano passado. Nesse caso, os recursos seriam aplicados em projetos, já aprovados e contratados, de microcrédito, saúde, educação, agricultura familiar, gestão municipal e infra-estrutura urbana.

Não se sabe se com a chegada de Lessa ao banco haverá alterações na destinação dos recursos. Ele tem afirmado que o grande desafio da instituição é promover a inclusão social. Isso, segundo Lessa, significa ter o social como estratégia central para o crescimento do país.

A escolha de Lessa, ex-reitor da UFRJ, causou polêmica devido ao fato de ele divergir do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, em relação à retomada do desenvolvimento do país. Enquanto Lessa criticava a atuação do banco, defendendo que este se voltasse para o social, o projeto de Furlan para o BNDES – subordinado ao seu ministério – era de dar prioridade ao financiamento das exportações e à promoção comercial.

Os dois parecem ter afinado seus discursos nos últimos dias, agora voltados para a inclusão social mas sem deixar de lado a questão das exportações e da promoção comercial. Há dúvidas, porém, se Lessa terá autonomia para desenvolver seus projetos ou se terá de submetê-los ao ministro do Desenvolvimento, como acontecia nas gestões anteriores.

Nos últimos dois anos, o modelo de gestão do BNDES vinha sofrendo algumas alterações, mas sem mexer no quadro de 1.600 funcionários. O antecessor de Eleazar, Francisco Gros, já havia criticado a estrutura do banco, que, segundo ele, tinha “feudos”, referindo-se a áreas como Finame e BNDESPar, que operavam de forma muito independente.

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