Presidente do BC não descarta voltar a usar swap

O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, afirmou nesta terça-feira que a instituição financeira liquidou no fim de março todas as posições com derivativos cambiais, mas não descartou voltar a usar as operações de swap para corrigir distorções no mercado cambial. “Não temos posição vendida ou comprada, mas isso não significa que este mecanismo tenha sido abolido. É um instrumento que tem se mostrado importante para reduzir a volatilidade e corrigir as distorções no mercado cambial”, afirmou, em audiência pública na Comissão Mista de Orçamento do Congresso.

Tombini apresentou os dados do resultado do BC em 2012, quando a autoridade monetária teve um lucro de R$ 24,6 bilhões. No segundo semestre, o BC teve resultado positivo de R$ 12,3 bilhões. A administração das reservas também levou a um resultado positivo de R$ 21,2 bilhões e as operações com swaps cambiais levaram a um ganho de R$ 21,1 bilhões em 2012.

‘Vigilante’

O presidente do BC afirmou que o banco está “vigilante” e que fará o que for necessário, com tempestividade, para por a inflação na meta no segundo semestre de 2013. De acordo com Tombini, a inflação nos próximos três meses (abril, maio e junho) será menor que no primeiro trimestre de 2013, e começará a cair no segundo semestre.

Ele afirmou que choques de oferta registrados no segmento de alimentos contribuíram para manter a inflação em níveis levados, acima do esperado nos últimos trimestres. “Mas quero reafirmar que a inflação está e continuará sob controle. As ações do BC têm sido consistentes com esta visão”, disse.

Tombini lembrou que, em janeiro, a instituição manifestou a preocupação com a inflação e a dispersão do nível de preços. Em março, sinalizou que poderia ter uma resposta da política monetária, com o aumento da Selic. “A comunicação é parte importante de condução de política monetária. Mas ações também foram tomadas e a mais importante foi o ciclo de ajuste na taxa básica de juros na economia”, disse.

Risco

O presidente do BC traçou uma análise sobre a economia mundial e avaliou que o ambiente internacional permanece complexo. “Os riscos para a estabilidade financeira global ainda permanecem elevados”, disse. Ainda assim, Tombini destacou avanços importantes nas economias maduras e lembrou que as emergentes mantêm bom desempenho. “A tendência é de que ocorra uma intensificação da atividade econômica global em 2014”, acrescentou.

Não obstante, o presidente da autoridade monetária relatou que os BCs de economias maduras continuam com limitado espaço para política econômica convencional e, por isso, estariam até mesmo aumentando a adoção de políticas não convencionais. “Ademais, permanecem restrições fiscais nas economias maduras neste e no próximo ano”, avaliou.

Segundo Tombini, enquanto a economia dos Estados Unidos tende a ganhar tração nos próximos semestres e as perspectivas em relação ao Japão melhoram, a atividade na Europa continua a mostrar sinais de fragilidade. “Há previsão de retração este ano na Itália, França e Espanha, e arrefecimento do crescimento na Alemanha”, citou. “Como reflexo, as taxas de desemprego permanecem elevadas nos países atingidos pela crise, principalmente entre os jovens”, completou.

Já nas economias emergentes, expôs, o ritmo de crescimento tem se intensificado graças à demanda doméstica destes países. Conforme o presidente do BC, essas economias não fazem parte do epicentro da crise internacional e, além disso, nesses países, havia espaço para a adoção de medidas macroeconômicas anticíclicas.

“No Brasil, o principal suporte da atividade tem sido e continuará sendo o mercado doméstico. O consumo das famílias continuará crescendo apoiado pela expansão do crédito, o crescimento do salário e a manutenção do emprego”, projetou. De acordo com Tombini, os investimentos voltaram a crescer a partir do quarto trimestre de 2012 e se intensificaram a partir dos primeiros três meses de 2013. “O acesso de empresas brasileiras à poupança externa tem sido facilitado”, acrescentou.

O presidente do banco destacou ainda o programa de concessões de serviços públicos e avaliou que o fortalecimento da confiança do empresariado tornará viáveis estes investimentos. “Uma logística mais eficiente contribuirá para viabilizar projetos de investimentos que hoje são inviáveis. A poupança externa continuará fonte importante de recursos para financiar no crescimento do País. O capital desloca-se para regiões com melhor perspectiva de desenvolvimento, com melhor taxa de retorno”, afirmou. Na análise de Tombini, no entanto, os atuais níveis de liquidez externa e taxas de juros refletem circunstâncias especiais, que são temporárias e tendem a desaparecer nos próximos anos. “Mas o Brasil está preparado para ventos contrários”, concluiu.

‘Sinais alvissareiros’

Tombini afirmou que “o que o BC está fazendo é compatível com a recuperação gradual da economia brasileira”. Disse também que a projeção do BC de expansão de 3,1% para 2013 é compatível com o combate à inflação. “A redução da inflação à frente vai aumentar a confiança na economia e proteger renda real do trabalhador. O combate à inflação é necessário nesse momento”, afirmou.

Sobre a indústria brasileira, disse que o governo adota medidas para aumentar a competitividade. “Recentemente, vimos sinais alvissareiros da nossa indústria”, disse. “Creio que há política em curso, algumas já bem-avançadas, que irão surtir impactos na indústria ao longo dos próximos meses e trimestres. O próprio programa de infraestrutura vai nesse sentido.”