Prejuízo, de US$ 3,8 bilhões, leva United à concordata

Chicago  – A United Airlines entrou ontem com um pedido de concordata. A unidade da UAL Corp. continuará voando por todo os EUA até que consiga reorganizar suas finanças sob a proteção do Capítulo 11 da Corte de Falências americana, em Chicago. O juiz Judge Eugene Wedoff será o responsável pelo processo, que deve durar cerca de 18 meses.

Durante o processo iremos fundo em nossos esforços para reduzir custos. Estamos desenvolvendo um plano de reorganização que nos permitirá emergir com êxito como uma companhia forte e com estrutura de custos competitiva – disse o CEO da United, Glenn Tilton.

A United, que emprega cerca de 83 mil funcionários, teve dois de seus Boeings destruídos nos ataques terroristas de 11 de setembro. Desde então, a empresa registrou um prejuízo recorde de US$ 2,1 bilhões em 2001 e de US$ 1,7 bilhão nos três primeiros trimestres de 2002, sem perspectiva de reversão deste quadro.

Uma outra grande aerolínea, a U.S Airways, também pediu concordata em agosto. Para a United, que tem um dos mais altos custos trabalhistas da indústria, estava ficando cada vez mais difícil sobreviver. O governo americano, semana passada, rejeitara o pedido de garantia de crédito feito pela empresa, última esperança de obter capital.

O pedido de concordata já era esperado e os analistas estimam que o processo deve ser bem sucedido, embora lento. Fontes ligadas à situação, disseram que a rejeição do governo americano foi feito mesmo depois que um grupo de sindicatos ofereceu US$ 500 milhões em concessões salariais anuais.

Cerca de 55% da empresa é de propriedade dos empregados, com pilotos e mecânicos ocupando um assento no conselho. Um voto da maioria simples do conselho foi necessário para requerer a concordata que, na maioria das vezes, deixa as ações ordinárias da companhia sem valor.

Os papéis da UAL estavam sendo negociados a US$ 0,55 no pre open market desta segunda-feira na Bolsa de Nova York.

Negócio de última hora

Neste domingo, a United confirmou ter obtido financiamento de US$ 1,5 bilhão, montante a ser usado durante o processo de concordata. Na última hora, a GE Capital desistiu de particpar do grupo de credores e foi substituído pelo CIT Group.

Os outros três credores são JP Morgan Chase, Citibank e Bank One. Baseado em Chicago, este último terá a maior exposição: US$ 600 milhões. Metade desse valor será usado em uma linha de crédito separada. O restante dos US$ 1,2 bilhão do financiamento será dividido igualmente entre as quatro instituições.

Cronologia da derrocada

A falência da United Airlines é a maior da história da aviação americana e a segunda de uma companhia aérea americana em 2002. Em agosto, a US Airways recorreu à lei de proteção à falência (capítulo 11), que permite a uma companhia com problemas financeiros continuar operando enquanto busca acordos com seus credores.

Segue abaixo uma cronologia das maiores falências de companhias de aviação americanas desde 1989, incluindo os ativos das companhias na época.

– Dezembro 2002: United Airlines (US$ 24,19 bilhões); Agosto 2002: US Airways (US$ 8,03 bilhões); 2001: Midway (US$ 350 milhões); 2000: Tower Air (US$ 350 milhões); 1992: TWA (US$ 2,860 bilhões); a TWA conseguiu superar a falência decretada em 1992 e recorreu à proteção do Capítulo 11 outra vez em 1995; 1991: America West (US$ 1,17 bilhões); 1991: Midway (US$ 470 milhões); 1991: Pan Am (US$ 2,44 bilhões); 1990: Continental (US$ 7,66 bilhões); 1989: Braniff (US$ 240 milhões); 1989: Eastern (US$ 4,04 bilhões).

Vôos para o Brasil continuam normais

A United Airlines reafirmou ontem que seus serviços estão normais e não sofreram alteração por causa dos problemas financeiros enfrentados pela empresa, que formalizou o seu pedido de concordata nos Estados Unidos. Todos os vôos da United cerca de 1.700 por dia, estão operando normalmente, inclusive os quatro vôos diários entre Brasil e Estados Unidos. “Horários reservas e planos de milhagem não foram alterados pela situação financeira”, afirmou, em comunicado, o vice-presidente da UAL (holding da United Airlines), Chris Bowers. A companhia fatura por ano cerca de US$ 200 milhões no País, o que o torna o sexto principal mercado fora dos EUA.

A empresa inaugurou no dia 30 de outubro seu quarto vôo diário entre o Brasil e os EUA (São Paulo-Washington), em substituição à freqüência São Paulo-Nova York, cancelada em novembro do ano passado por causa dos atentados terroristas. Três vôos diários ligam o Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, às cidades de Miami, Washington e Chicago. Mais um vôo sai todos os dias do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro (Galeão) para Miami.

A United completou este ano dez anos de operação no Brasil. Ela começou em fevereiro de 1992, com 80 funcionários, e hoje conta com um quadro de 400 pessoas. A companhia aérea opera no País com os Boeings 777 e 767. As aeronaves também carregam carga entre EUA e Guarulhos.

A Varig e a United têm acordo de code share (compartilhamento mútuo de assentos), pois são parcerias na aliança internacional Star Alliance – a maior aliança global da aviação. As duas empresas têm 75 anos de fundação e ambas atravessam a pior crise financeira. A UAL, controladora da United Airlines, tem uma dívida de quase US$ 1 bilhão que venceria nesta semana. A Varig têm dívidas de US$ 768 milhões.

Alerta

A United pediu concordata na Corte de Chicago. Sua situação coloca em estado de alerta, além da Varig, os outros 12 parceiros da Star Alliance. Isso ocorre porque, para as companhias da aliança, um parceiro norte-americano é absolutamente essencial, pois os EUA são o maior mercado do mundo para a aviação.

A alemã Lufthansa já sinalizou com a possibilidade de socorrer a United, desde que mantidas determinadas condições.

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