Prefeito de Paranaguá e sindicalistas são indiciados

O Centro de Operações Policiais Especiais – Cope indiciou anteontem (12) o prefeito de Paranaguá (litoral do Paraná), o presidente da Câmara Municipal local, um deputado estadual e mais 17 pessoas por envolvimento no locaute que paralisou as atividades do Porto de Paranaguá por seis dias no mês passado. O inquérito será remetido ao Tribunal Regional Federal 4.ª Região e ao Ministério Público Federal. As acusações se baseiam no Código Penal e na Lei de Segurança Nacional.

Entre os acusados estão Mário Manoel das Dores Roque, prefeito da cidade, Antônio Ricardo dos Santos, presidente da Câmara, Waldir Turchetti da Costa Leite, deputado estadual e os presidentes dos sindicatos dos Operadores Portuários, Edson Cezar Aguiar, dos Vigias Portuários, Pedro Henrique Martins, e dos Arrumadores de Paranaguá e Pontal do Paraná, além de outras 14 pessoas, também ligadas a entidades de classe. Eles foram indiciados por formação de quadrilha (artigo 288 do Código Penal Brasileiro), incitação ao crime (art. 286) e suspensão ou abandono coletivo de trabalho, provocando interrupção de serviço de interesse público (art. 201).

De acordo com o relatório, assinado pelo delegado Messias Antônio da Rosa, também é imputado aos indiciados o crime de sabotagem, conforme prevê a Lei de Segurança Nacional 7.170 (14/12/1983). O artigo 15 da referida lei diz: “Praticar sabotagem contra instalações militares, (…), estaleiros, portos, aeroportos, fábricas, (…) e outras instalações congêneres”.

Segundo apurado durante as investigações policiais, participaram diretamente da mobilização que resultou na paralisação, além de Aguiar, Mauro Fontana Marder, Carlos Roberto Frisoli, Jorge Tacla Filho e Luis Sérgio da Silva, com o auxílio do presidente do Sintraport, Wilson Moraes da Silva. Eles também foram indiciados nos mesmos artigos.

Histórico

Na tentativa de desestabilizar a atual direção do porto e pressionar a liberação de transgênicos, operadores portuários realizaram uma “operação tartaruga”, e chamaram caminhoneiros sem a comercialização das cargas, o que provocou fila de caminhões de mais de 80 quilômetros. No dia 19 de março, os sindicatos dos trabalhadores e de empregados do porto aderiram ao movimento e todas as atividades portuárias foram paralisadas em Paranaguá.

Havia 14 navios à espera de carregamento e cerca de três mil caminhões parados. Os trabalhadores, de operadores a estivadores, cruzaram os braços reivindicando melhores condições de trabalho. Já os operadores portuários exigiram o cancelamento de medidas administrativas adotadas pela superintendência do porto, visando a privatização do porto.

No dia 22, o governador Roberto Requião confirmou a permanência de Eduardo Requião na superintendência do Porto de Paranaguá, não cedendo às pressões de operadores que pediam a sua saída. No mesmo dia, os estivadores voltaram ao trabalho e o locaute começou a enfraquecer. Mesmo com o fim da paralisação, os estivadores não puderam voltar imediatamente ao serviço porque os patrões não emitiam as ordens de serviço.

Na terça-feira (23), o delegado da Polícia Civil de Paranaguá, Sebastião Gaspar, passou a coletar os primeiros depoimentos dos representantes das entidades acusadas de promover o locaute no porto. No mesmo dia, o governador chamou os grevistas para conversar em Curitiba. Requião abriu o canal de negociação e se dispôs a atender as reivindicações, como o cumprimento do acordo coletivo de trabalho que há dois anos não vinha sendo implementado. Seis dias depois de ter iniciada, a greve no porto acabou e os trabalhadores se apresentaram ao serviço logo cedo.

Fila de caminhões aumenta

O Porto de Paranaguá voltou a operar com sua capacidade máxima depois da intensa chuva que atingiu o litoral no domingo. Com a volta do trabalho 24 horas sem interrupção, a direção do terminal público espera reduzir a fila de caminhões que chegou ontem ao km 11 da BR 277 – Cidade Industrial de Curitiba.

De acordo com a Polícia Rodoviária Estadual, a fila de caminhões passou de São José dos Pinhais, pegou o Contorno Leste e voltou para a BR-277, em direção a Campo Largo. A estimativa é que a fila tenha passado de 100 quilômetros.

O temporal do fim de semana foi considerado um dos mais intensos dos últimos 40 anos na região. Por causa da inundação, que atingiu alguns terminais e impediu o carregamento de navios, o porto teve de paralisar suas atividades na tarde de domingo até à 1h30 de segunda-feira. Os terminais privados recomeçaram o trabalho logo depois.

Ontem, 15 navios estavam atracados no Porto de Paranaguá e dois no Porto de Antonina. Entre os navios que embarcavam produtos em Paranaguá estavam dois que, juntos, recebiam 120 mil toneladas de soja com destino à Índia e China. Outro, que vai seguir para Roterdã, está recebendo 50 mil toneladas de farelo.

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