| Foto: João de Noronha/O Estado |
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| Daniel Pimentel Slaviero: ferramenta de inclusão social. |
O prazo de dez anos para a implantação da TV digital no Brasil, anunciado pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa, na semana passada, gera opiniões divergentes entre os segmentos envolvidos no processo.
Para o coordenador-geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Celso Augusto Schröder, o prazo previsto pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa, é equivocado. Na avaliação dele, o período pode ser considerado curto, se comparado com o tempo de desenvolvimento dessa tecnologia no mundo. ?Do ponto de vista histórico, da experiência dos países, o prazo que o ministro sinaliza é muito exíguo?, avaliou Celso Schröder. Segundo ele, a TV Globo não pretende fazer a transição em menos de dez anos, porque não teria possibilidades econômicas nem interesse imediato na implementação dessa tecnologia, que poderia abalar a hegemonia do canal.
A escolha do padrão nipo-brasileiro de TV digital, segundo o coordenador do fórum, teria sido feita para demarcar espaço e garantir o modelo, evitando assim a entrada de novos atores no processo, principalmente as empresas de telecomunicações que poderiam trazer grandes novidades nesse novo negócio. Schröder avalia que o mercado, no fim das contas, é que determinará o prazo para a transição do padrão analógico para o digital. ?As novidades tecnológicas têm uma certa velocidade que não se ajusta aos desejos do estado ou dos próprios agentes.? O prazo médio de implantação do sistema de TV digital no mundo tem sido de dez anos, segundo ele, mas ele vai se dilatando de acordo com o modelo de negócio e as exigências tecnológicas, que estão em transformação, esclareceu Schröder. Na Europa, por exemplo, ele informou que o padrão, embora instalado há mais tempo, ainda apresenta problemas graves de fragilidade e de recepção de sinal, com interferência de eletrodomésticos.
O cronograma divulgado pelo ministro estabelece que o dia 3 de dezembro de 2007 marcará o início da transmissão da TV digital no Brasil, na Região Metropolitana de São Paulo. O sistema se estenderá progressivamente nos anos seguintes às demais cidades brasileiras. A desativação do atual padrão analógico é prevista para ocorrer até 29 de junho de 2016.
Adequado
Já o presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Daniel Pimentel Slaviero, disse que ?é muito adequado? o cronograma apresentado pelo governo para a implantação da TV digital no país. ?Muito adequado porque ele não é restritivo e começa com a cidade de São Paulo, que é o grande centro de consumo de televisão e de entretenimento, com 5,5 milhões de domicílios com TV?, salientou. Slaviero afirmou que esse período de transição será uma boa experiência para a indústria brasileira ganhar escala e também para que as emissoras desenvolvam conhecimento na implantação da TV digital no Brasil.
O presidente da Abert considerou acessível o preço mínimo de R$ 100, estimado pelo ministro Hélio Costa, para os aparelhos que irão fazer a conversão do atual padrão analógico para o digital nos equipamentos de televisão existentes. Ele recordou que o ministro já está, inclusive, cuidando para que haja financiamento à população. ?Esse é um preço inicial muito bom para que haja a popularização da TV digital no Brasil.? Slaviero disse não ter dúvidas de que o processo de substituição do padrão analógico de televisão pelo digital contribuirá para promover a inclusão social no país. ?É entendimento do setor que isso vai ser um grande fomento e uma ferramenta de inclusão social, principalmente pelo fato de que ele vai renovar a televisão aberta e manter o alcance em todo o Brasil?, analisou.
O presidente da Sociedade de Engenharia de Televisão (SET), Roberto Dias Lima Franco, também concorda que é ?muito adequado? o cronograma de implantação da TV Digital no Brasil, publicado no Diário Oficial da União. Alertou, no entanto, para a necessidade de capacitação de pessoal para acompanhar o processo.
Conteúdo da televisão aberta no celular
A chegada da televisão digital tornará possível assistir no telefone celular a programação da televisão aberta – e talvez muito mais conteúdo. O professor Eduardo Antônio Barros de Castro, do Programa de Engenharia Elétrica da Coordenação de Programas de Pós-Graduação de Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro, disse que a transmissão de dados em formato digital permitirá comprimir vídeos e transmiti-los por ondas.
O modelo adotado pelo governo brasileiro para essa transmissão por ondas – a modulação – é o japonês. Para a parte que transforma o sinal de televisão em bites – a digitalização – foi escolhido o padrão H264, internacional. Em termos tecnológicos, Eduardo Silva disse que não faria muita diferença quanto à qualidade de imagem escolher entre o padrão japonês ou o padrão europeu para a modulação da TV digital.
A grande diferença, segundo indicou, está na transmissão do vídeo para celular. No padrão europeu, o vídeo para celulares exigiria a criação de outro canal ou banda de freqüência, onde poderiam ser transmitidos centenas de canais de televisão para celulares. Já no padrão japonês, segundo ele, haverá apenas um canal para cada emissora de televisão atual, em paralelo à transmissão normal de tv fixa, repetindo, de modo geral, a programação da emissora.
O professor disse que a vantagem do modelo japonês é que essa transmissão será feita de graça para os celulares. No padrão europeu, há maior flexibilidade na exploração desse serviço porque vários provedores podem participar da operação, além das emissoras que têm os canais de televisão aberta. A desvantagem é que o serviço tenderia a ser pago.
?Interessava às emissoras o padrão japonês?, afirmou Silva. Já as empresas de telecomunicações, a indústria e diversas organizações da sociedade civil preferiam o padrão europeu. A razão das teles e da indústria era a facilidade de exploração dos serviços de transmissão e de exportação, uma vez que o modelo é usado por um maior número de países do mundo, informou.



