Posto nem sempre é sinônimo de lucratividade

Foi-se o tempo em que abrir um posto de combustíveis era lucro garantido. Para muitos, o empreendimento continua sendo um bom negócio, mas para tantos outros não restou alternativa senão mudar definitivamente de ramo. Os principais fatores são a baixa lucratividade, aliada à concorrência desleal. Levantamento do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis no Paraná (Sindicombustíveis-PR) revela que de um total de 356 postos existentes em Curitiba, 16 não resistiram e encerraram as atividades.

“A rotatividade nesse setor é alta. Tem muita gente saindo, mas também gente entrando e pensando que é um negócio bom”, afirmou o ex-proprietário do Posto Martin Afonso, no bairro Mercês, Enoel Veiga Arantes. O empresário conta que dedicou 42 anos – hoje está com 71 – de sua vida ao ramo de combustíveis. Resolveu passar o negócio para frente em 1999. “Quando encerrei, a gasolina custava R$ 1,00 e a margem de lucro era de R$ 0,20. Hoje, a gasolina custa mais de R$ 2,00 e a margem caiu para R$ 0,17. Isso para quem ganha bem”, apontou.

Segundo Arantes, não foi apenas a baixa lucratividade que o fez desistir do negócio. Também houve pressão por parte do comércio de combustível adulterado. “Eu não ia entrar nessa de misturar combustíveis e jogar no lixo todo o bom serviço que prestava. Não tive escolha: ou entrava nessa ou entregava o ponto para a companhia. Hoje ganho bem menos, mas foi melhor assim”, desabafou Arantes, que não opera mais o posto, mas continua sendo o proprietário da área de quase 2,5 mil metros quadrados, na esquina das ruas Brigadeiro Franco com Martin Afonso. Atualmente, administra apenas o restaurante anexo ao Posto Martin Afonso. “Eu costumava dizer que cobrava caro porque era gasolina pura e não misturada.”

Para o ex-operador, outro fator que pesou negativamente na margem de lucro dos donos de postos foi o fim do serviço de lavagem, proposto pelas companhias há quase 15 anos. “Só a lavagem pagava as despesas do posto. O resto era lucro. Mas as revendas entraram nessa de ‘posto seco’, com serviços apenas de troca de lubrificantes, venda de acessórios, e o lucro caiu.”

Segunda geração no ramo de combustíveis, Arantes conta que a família só deve voltar a operar postos quando a margem de lucro melhorar.

Inadimplência: inimigo

O empresário Fábio Possamai, 40 anos, viveu as duas situações: foi operador de posto durante três anos e locador durante outros três. Depois da experiência, afirma que não vai voltar para o ramo tão cedo. “Vou mudar de área”, promete. Por enquanto, Possamai conta que está atrás dos clientes inadimplentes. Ele revela que tem cerca de R$ 20 mil em haver, resultado de cheques sem fundo de clientes, e confessa que já perdeu a esperança de recuperar o dinheiro. “O meu caso ainda não é dos piores. Sei de gente com mais de R$ 100 mil para receber”, diz.

Para ele, só quem é operador e proprietário do terreno consegue sobreviver no setor de combustíveis – negócios geralmente passados de pai para filho. “Para quem tem que pagar aluguel, arcar com os custos, a inadimplência, acaba ficando dois ou três anos no ramo e pegando dinheiro no banco. Para esses, é melhor sair, senão vira uma grande bola de neve”, aconselha. Possamai critica ainda a posição das distribuidoras. “Fica muito (lucro) para a companhia e pouco para o operador.”

Sobre a concorrência de outros postos e o quanto isso influencia no fechamento de um ponto, Possamai afirma que ela só é prejudicial quando o estabelecimento compra combustível a preço menor e repassa a diferença para os consumidores – caso dos postos de bandeira branca. “Um por cento parece não ser nada, mas tem reflexo no preço final”, diz, referindo-se ao custo de trabalhar com bandeira (distribuidora). “Com o diferencial do preço na bomba e com a economia capenga do jeito que está, as pessoas acabam procurando o mais barato”, diz. Ele estima que perdeu no primeiro negócio – quando era operador de posto – cerca de 20% do que investiu. “Vou procurar outro negócio que não dê tanta dor de cabeça”, arrematou.

Concorrência compromete

Para o empresário Jefferson Benedito Rigolino, 51, este é o momento para avaliar se vale a pena continuar no ramo de combustíveis ou se dedicar exclusivamente à área de reparação de veículos, onde já atua e que, segundo ele, é mais rentável. O negócio, no Alto da Glória, foi aberto por um amigo do avô no início do século passado e vendido a seu pai, em 1945. Mas agora, Rigolino pensa em encerrar a atividade de revenda de combustíveis. “O posto é antigo e precisa passar por readequação por conta da lei ambiental. Acontece que teríamos que substituir os tanques, as bombas e tudo isso demandaria um custo de cerca de R$ 200 mil”, conta. O posto está desativado há cerca de 60 dias.

Para Rigolino, a concorrência desleal é o fator que mais prejudica o setor. “Há duas concorrências: daqueles que vendem produtos adulterados, abaixam o preço e você é obrigado a segui-lo, e outros, que se estabelecem e não recolhem tributos”, aponta. Segundo o empresário, a situação começou a degringolar nos últimos dez anos. “Houve a liberação de preços, mas não está havendo por parte do governo o mesmo cuidado na hora de exigir que haja igualdade de condições para aqueles que trabalham no mesmo ramo”, critica. “Quem trabalha desonestamente está levando vantagem.” (LS)

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