Plano agropecuário terá R$ 65 bilhões em crédito

“A crise financeira mundial não deve prejudicar o agronegócio no Brasil.” A afirmação é do ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Reinhold Stephanes, que está confiante de que o Brasil deve driblar a situação. Segundo ele, não é a primeira vez que o País enfrenta esse tipo de colapso e os alimentos são os últimos itens a serem atingidos.

Para garantir a produção e tentar superar a safra passada, o Plano Agrícola e Pecuário 2008/2009 do governo federal tem disponíveis R$ 65 bilhões em crédito para a agricultura empresarial e R$ 13 bilhões para a agricultura familiar. Somando R$ 78 bi, os recursos são 7,8% maiores que no ano passado. No entanto, Stephanes já adiantou esta semana que é “desejável” a liberação de pelo menos mais R$ 5 bi para o financiamento da safra.

No Paraná, os reflexos da crise ainda não foram sentidos. Contudo, de acordo com o economista da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Jefrey Albers, a longo prazo, o Estado poderá sofrer com as conseqüências pelas quais o mundo está passando. “O produtor paranaense não foi pego de surpresa porque fez as compras de insumos agrícolas, como, por exemplo, fertilizantes, antes dessa crise mundial.”

Para Albers, as safras de verão de milho, feijão e, em especial, trigo – que deve colher em média quatro toneladas por hectare -devem ser boas para o produtor. “Porém, se nada mudar no cenário mundial, acredito que as safras de inverno 2009 e verão 2009/2010 podem ficar comprometidas”, teme o economista, que adianta queda nos índices de crescimento e aumento de preços. “Somente após resolver essa crise é que as coisas voltarão ao normal.”

Bancos e cooperativas disponibilizam dinheiro

Arquivo
Safras de verão, como a de trigo, devem ser boas, mas há risco de produtividade ficar comprometida ano que vem.

O agricultor paranaense que necessitar de crédito rural poderá recorrer ao Banco do Brasil (BB). A instituição está disponibilizando R$ 2,15 bilhões para a modalidade – R$ 1 bi já foram contratados. Além disso, o governo também acertou na última semana linha de crédito de R$ 1 bi , por meio do BB, para financiar a Cédula do Produto Rural (CPR). Só não terá crédito o produtor que apresentar irregularidade na documentação. Para adquirir o crédito rural o produtor deve procurar uma empresa que dê assistência técnica para confeccionar um projeto antes de ir ao banco. A maioria dos financiados serão contemplados com juros iguais ou inferiores a 6,75% ao ano, com prazo de pagamento de até 90 dias após a colheita. O produtor poderá também procurar outras instituições para adquirir crédito. É o caso do Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi), que atendeu toda a demanda para a safra de verão e informa que não deverá ter dificuldades para trabalhar com a produção de 2009. Segundo o presidente da instituição, Manfredi Dasenbrock, mesmo em plantações de risco, como a de trigo, haverá créditos disponíveis.

Soma ideal seria de R$ 200 bilhões

Chuniti Kawamura
Kaefer: com menos insumos, safra pode ficar de 10% a 15% menor.

Os R$ 78 bilhões disponibilizados pelo governo federal para custear a próxima safra, ainda que venham a ser acrescidos dos R$ 5 bi pleiteados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), estão lo,nge de ser suficientes, na opinião do deputado federal Alfredo Kaefer (PSDB-PR). “Para preparar a terra, custear semente, adubo, colheita, entre outras etapas de uma safra, precisaria de um montante bem maior do que o ofertado”, antecipa o deputado, que esperava um pacote de crédito de pelo menos R$ 100 bilhões, estimando, no entanto, que a soma ideal seria de R$ 200 bilhões.

O Mapa admite que a crise econômica mundial afetou o financiamento agrícola, mas, para Kaefer, os recursos federais destinados ao crédito rural podem representar perdas na produção nacional. “Com menos adubo, tecnologia, entre outras coisas, acredito que poderemos ter uma safra de 10% a 15% menor, isso sem contar o fator clima”, diz. Um agravante no atual momento é que as instituições privadas, frente à crise financeira mundial, não querem se arriscar e oferecer crédito aos produtores.

A consequência disso, para o deputado, é que agronegócio no Brasil está agora sem recursos. O senador Osmar Dias (PDT-PR) diz que o governo deve agir rápido para evitar problemas posteriores. “Se o produtor não tiver crédito para compra de insumos, haverá queda na colheita. E reduzir a safra de 2009 será fatal para as metas do governo, que espera manter um crescimento econômico acima dos 2,5%”, afirma o parlamentar.

Setor está apreensivo

Embora os recursos disponibilizados este ano tenham aumentado, ainda estão aquém da necessidade do mercado, na opinião do economista da Faep Jefrey Albers. A atual conjuntura mundial e a disparada dos preços teriam atrapalhado governo e produtores. Em Maringá, os agricultores ligados à cooperativa Cocamar estão preocupados com o próximo plantio. De acordo com a Cocamar, apesar da boa projeção da safra atual, a incerteza para o ano que vem deixa-os apreensivos, principalmente os que plantam milho e soja.