PIB cresce 2,7% após 9 meses de retração

Depois de fechar 2003 com retração de 0,2%, o PIB (Produto Interno Bruto) – o conjunto das riquezas do país – cresceu 1,6% no primeiro trimestre de 2004 em relação ao último trimestre do ano passado. A economia brasileira também teve expansão de 2,7% na comparação com o mesmo trimestre de 2003. Mas o cálculo que aponta a taxa de crescimento no PIB no acumulado dos últimos 12 meses mostrou que a economia ficou estagnada, com expansão zero na comparação com os quatro trimestres imediatamente anteriores. Isso significa que o crescimento de 2,7% no primeiro trimestre compensou as quedas registradas nos três trimestre anteriores.

O resultado coloca em risco a previsão do governo de um crescimento de 3,5% neste ano. E recebe o efeito da base baixa de comparação, especialmente quando se trata do primeiro trimestre de 2003 -período no qual a atividade econômica estava travada, com uma taxa de juros que chegou a 26,5% ao ano.

Os dados oficiais divulgados ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), de certa maneira, confirmam as expectativas, mas não sinalizavam uma forte recuperação da economia, que cresceu basicamente por conta da continuidade de aumento das exportações.

O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão ligado ao Ministério do Planejamento, previu 0,8% em relação a igual trimestre de 2003 e 1,5% na comparação com o quarto trimestre. Analistas do mercado previam alta em torno de 1% em relação ao quarto trimestre e em torno de 2% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior.

As exportações de bens e serviços apresentaram alta de 5,6% em relação ao quarto trimestre do ano passado e 19,3% na comparação com mesmo período do ano anterior.

Mercado interno

O consumo interno ainda se ressente da renda deprimida e da alta taxa de desemprego. Segundo o IBGE, o consumo das famílias brasileiras teve leve recuperação em relação ao quarto trimestre do ano passado, de 0,3%. Em relação ao primeiro trimestre de 2003, a expansão foi de 1,2%. A taxa média de desemprego no primeiro trimestre ficou em 12,2%.

Já os investimentos medidos pela formação bruta de capital fixo, continuaram a crescer. A expansão foi de 2,3% em relação ao quarto trimestre do ano passado e de 2,2% na comparação com o mesmo período do ano passado.

Agronegócio

A agropecuária foi o setor que mais puxou a economia. Impulsionada pelas exportações, o setor registrou expansão de 3,3% em relação ao quarto trimestre do ano passado e de 6,4% na comparação com o primeiro trimestre de 2003.

No segmento industrial, o crescimento foi de 1,7% em relação ao quarto trimestre e de 2,9% na comparação com o primeiro trimestre de 2003. No quarto trimestre, o setor havia crescido 1,8% em relação ao trimestre imediatamente anterior.

O setor da indústria que mais cresceu foi o da indústria de transformação (6%) devido ao aumento da produção de máquinas e equipamentos e automóveis. Em seguida ficaram os Siup (serviços industriais de utilidade pública) (1,3%).

A área extrativa mineral teve queda de 3,9%, a maior desde o quarto trimestre de 2001. No trimestre anterior, esse segmento havia crescido 4,2%. A construção civil também registrou queda, de 2,3%, após ter caído 0,9% no trimestre anterior. A base de comparação é o primeiro trimestre de 2003.

Serviços

O setor de serviços teve alta de 0,4% na comparação com o quarto trimestre de 2003 e de 1,2% em relação ao mesmo período do ano passado. Dos sete grupos que formam o setor de serviços, cinco tiveram alta quando se compara com o mesmo trimestre do ano passado.

Os setores de transporte e comércio foram os que tiveram as maiores altas, de 7,4% e 5,1%, respectivamente. Também registraram expansão as instituições financeiras como bancos (1,9%), aluguel (1,1%) e administração pública (1,1%).

O setor de comunicações apresenta pela terceira vez consecutiva retração, de 1,9%, Neste caso, a principal razão foi a queda no consumo do serviço de telefonia fixa. Outros serviços – que é detalhado pelo IBGE – teve queda de 2,1%.

País está vivendo fase de crescimento

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, disse ontem em Xangai, na China, que o Brasil está vivendo uma nova fase de crescimento. “O primeiro ano de uma nova etapa de crescimento está acontecendo neste momento. Estamos vivendo agora o quarto trimestre de retomada de crescimento, embora isto nem sempre seja tão visível”, afirmou o ministro, que acompanha a delegação presidencial na visita oficial à China.

O ministro fez suas afirmações antes da divulgação, também ontem, do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) no primeiro trimestre. O PIB cresceu 1,6%, em relação ao trimestre anterior, e 2,7%, em relação ao mesmo período do ano passado.

Os números ficaram acima do que era previsto por boa parte dos analistas de mercado.

Bons números

Palocci já havia afirmado que o Brasil poderia superar os índices previstos de crescimento. No entanto, ele também havia dito que o dado desta quinta-feira não é o mais importante.

“O mais importante não é isso, se vai crescer 3,5 ou 4%. É o que fazemos para garantir que no próximo ano e nos próximos anos, podemos continuar a crescer com taxas cada vez maiores.”

O ministro da Fazenda também defendeu que a política econômica brasileira vem seguindo o caminho certo.

Segundo Palocci, os sinais de crescimento econômico são indicativos “daquilo que a gente vem falando, que o Brasil no ano passado dedicou a sua estrutura macro-econômica para ordenar seus indicadores e equilibrar sua economia”.

“Nós tivemos um aumento da atividade industrial de 5,8% no trimestre e estamos vendo reagir os números do emprego e os números de venda no comércio varejista.”

Juros dos EUA

Em outra entrevista, durante uma participação no Fórum do Banco Mundial para Estratégias de Financiamento de Redução à Pobreza, Palocci negou que um possível aumento dos juros da economia dos Estados Unidos não irão afetar o Brasil.

“Não, porque o crescimento da economia americana será importante para nossa balança comercial”, afirmou o ministro.

Depois das reuniões na China, o ministro embarcou para o Japão, onde irá se encontrar com o ministro das Finanças do Japão, com investidores locais e presidentes de bancos privados e de empresas japonesas.

Crescimento é um dos menores

O crescimento PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro no primeiro trimestre do ano foi melhor do que o esperado pela maioria dos analistas de mercado, mas ainda está aquém do desempenho da economia da grande maioria dos países emergentes no mesmo período. O PIB do Brasil cresceu 1,6%, em comparação ao trimestre anterior, e 2,7%, em relação ao mesmo período do ano passado.

O desempenho da China no mesmo período foi de 9,8% (em relação ao mesmo período de 2003). Ainda na Ásia, a Malásia cresceu 7,6%. No Chile, o crescimento foi de 4,8% e, no México, de 4,6%. Outro vizinho do país com desempenho bem mais forte que o brasileiro é a Venezuela, cujo PIB deu um salto de 29% entre 2004 e 2003, embora em boa medida o resultado se deva ao grande aumento do preço do petróleo, principal produto de exportação do país.

A Argentina também teve um salto muito superior ao do parceiro do Mercosul: 10,5%.

Embora existam peculiaridades em cada país – como deixa claro o caso venezuelano -, a diferença entre o que ocorre no Brasil e na grande maioria dos outros países emergentes mostra que o país tem sérias restrições internas para crescer e não tem conseguido se beneficiar da onda de crescimento que tem ocorrido em outras nações com características semelhantes.

Gargalos

Para o economista da corretora paranaense Global Invest, Alex Agostini, o governo brasileiro exagera em sua política monetária nas reações a crises internacionais.

“Sempre que há uma turbulência fora os juros são elevados de maneira absurda. Um aumento de juros tem de ser dosado e, na minha opinião, a meta de inflação pode ser flexibilizada”, diz o economista.

Mercado reage de forma satisfatória

O dólar fechou em queda de 1,32%, cotado a R$ 3,121, após uma alta de 0,76% na véspera. A moeda americana acompanhou o cenário mais calmo no exterior, onde o barril do petróleo caiu mais de 3%. Os bancos voltaram a “desovar” divisas adquiridas dos exportadores nas últimas semanas. Houve ainda uma repercussão positiva da ata do Copom (Comitê de Política Monetária) e dos dados do PIB (Produto Interno Bruto) trimestral do Brasil e dos EUA.

Esses fatores ofuscaram a preocupação dos investidores com o risco de derrota do governo no STF (Supremo Tribunal Federal). Anteontem, após um placar desfavorável ao Planalto (2 votos a 1), foi suspenso o julgamento da principal medida da reforma da Previdência – a cobrança de contribuição dos servidores inativos.

“Sem essa incerteza sobre o julgamento no STF, o dólar poderia ter caído mais”, disse a diretora de câmbio da corretora AGK, Miriam Tavares.

No final da tarde, o risco Brasil, que mede a desconfiança estrangeira no país, recuava mais de 2%, aos 704 pontos. Os principais títulos da dívida externa se valorizaram, e a Bovespa subiu mais de 3%.

Bovespa

A Bovespa subiu pelo quinto pregão consecutivo e já zerou as perdas acumuladas no mês. Em Wall Street, o mercado também teve um pregão de ganhos.

O Ibovespa fechou em alta de 3,49%, aos 19.734 pontos. Em cinco pregões de alta, já subiu 8,2%. Com o resultado de ontem, o índice acumula ganho de 7,9% na semana e leve alta de 0,6% no mês, mas ainda tem perdas de 11,2% no ano.

Resultado inviabiliza a previsão do governo

O PIB brasileiro terá que crescer, em média, 3,8% nos três últimos trimestres deste ano, para alcançar a alta de 3,5% – variação esperada pelo governo. No primeiro trimestre, o PIB cresceu 2,7% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Para o economista da Global Invest, Alexsandro Agostini Barbosa, embora a baixa base de comparação seja favorável até o final do ano, o PIB não chegará a 3,5%. “O efeito base deprimida ajuda mas não é suficiente”, afirmou.

Sua projeção é de um crescimento de 2,9% para 2004. “A manutenção dos juros afetou a expectativa das empresas no segundo trimestre. E no final de abril, houve uma reversão de expectativas do cenário externo”, disse.

Barbosa ressalta o fato da renda ter voltado a cair e o desemprego ter sido recorde em abril. Sem uma recuperação da renda e do emprego, o consumo das famílias brasileiras (que representa 60% do PIB) não tem fôlego para crescer de forma significativa.

No segundo trimestre do ano passado, o PIB havia registrado queda de 1,1%. No terceiro e quarto trimestre, foram registradas quedas de 1,5% e 0,1%.

Crescimento não se reflete no emprego

O crescimento de 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre desse ano em comparação ao mesmo período de 2003 é “importante para a economia, mas ainda não se refletiu no emprego”. O comentário é do presidente da Força Sindical, segunda maior central do País, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho.

“O crescimento só é de fato interessante se houver geração de emprego e, pelos números que vimos nas pesquisas do próprio IBGE e da Fundação Seade e do Dieese, o desemprego atingiu níveis recordes nos quatro primeiros meses do ano”, disse.

Segundo o sindicalista, o PIB poderia ter crescido “muito mais” se o governo tivesse acelerado a queda da Selic no início do ano e, além disso, limitasse o contingenciamento de investimentos públicos para geração do superávit primário. “Não deixa de ser curioso o fato de esse crescimento certamente ter gerado mais arrecadação aos cofres públicos federais e os investimentos em infra-estrutura permanecerem contingenciados, inibindo a geração de emprego”, avaliou.

“O único segmento da indústria onde vemos algum crescimento de fato é o exportador, porque quem depende do mercado doméstico está paralisado por causa da retração da renda dos trabalhadores”, complementou.

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