Petróleo bate recorde, mas eleição segura a gasolina

O governo evita aumentar os preços dos derivados de petróleo para contornar a polêmica e não prejudicar seus aliados políticos nas eleições de outubro, de acordo com Adriano Pires, da consultoria CBIE (Centro Brasileiro de Infra-Estrutura). “O PT não aumenta (os preços) porque a Petrobras é administrada politicamente.” Para o analista, os preços do diesel estão defasados entre 13% e 15% e o da gasolina, em 20%.

Pires diz que o aumento dos derivados de petróleo é inevitável e, “com certeza”, ele irá ocorrer após o segundo turno das eleições municipais.

Também há uma chance de esse reajuste acontecer antes – daqui dez ou 15 dias. Segundo ele, isso é possível caso os preços no mercado internacional subam ainda mais e o real se desvalorize em relação ao dólar.

Ontem, o preço do barril do petróleo cru atingiu novo recorde em Nova York ao atingir a cotação de US$ 44,24.

Em junho, após o aumento de 10,8% nos preços da gasolina e de 10,6% do diesel nas refinarias, a ministra Dilma Rousseff (Minas e Energia) disse que esse reajuste não seria suficiente para compensar as perdas da Petrobras com a elevação dos preços dos derivados de petróleo no mercado internacional. Naquela ocasião, o governo acreditava que o barril fosse ficar em um patamar próximo a US$ 35.

O cuidado do governo com o impacto inflacionário também é político, diz Pires. “A Petrobras controla artificialmente o aumento da inflação porque está querendo beneficiar o partido.”

A meta da inflação, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), é de 5,5% em 2004, com variação de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo. A UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) prevê que o índice fique em 7,1% neste ano sem um novo reajuste. Caso ocorra um aumento no preço dos derivados de petróleo, o IPCA deve subir para 7,5%, explica o professor Carlos Tadeu de Freitas Gomes Filho.

Na opinião de Edmar Luiz Fagundes Almeida, professor do Instituto de Economia da UFRJ, os preços no Brasil não estão defasados. “A Petrobras não está preocupada com o preço do petróleo no curto prazo” porque ele é muito variável. No entanto, o professor admite que o patamar está muito elevado devido ao aumento da demanda.

“A Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) não tem capacidade ociosa para suprir esse aumento da demanda”, explica. Para ele, os preços só deixarão de sofrer pressão no curto prazo se os EUA elevarem a taxa de juros de forma a desaquecer a economia norte-americana.

Administração

A administração da estatal não prioriza as decisões empresariais, o que prejudica os acionistas da empresa, avalia o analista da CBIE. Ele prevê que neste ano o lucro da Petrobras será menor que o registrado no ano passado. Em 2003, a Petrobras lucrou 17,795 bilhões, resultado 120% maior do que o de 2002.

Ainda de acordo com o analista, no ano passado os preços no Brasil ficaram acima da média internacional, o que fez a estatal formar um “colchão” de aproximadamente R$ 2 bilhões. No entanto, neste ano, a defasagem já fez esse valor cair para R$ 200 milhões, e a tendência é que ele desapareça nos próximos meses.

Pires teme que algum fato de importância política muito grande ou um ataque terrorista relevante pressione mais ainda as cotações no mercado internacional em um momento que a Opep diz não estar preparada para suprir o aumento da demanda.

Ele lembra que no primeiro choque do petróleo, ocorrido em 1973 por conta da Guerra do Ion Kipur, o preço do óleo aumentou em quatro vezes – de US$ 3 para US$ 12. No segundo choque, durante a revolução iraniana de 1979, o barril subiu em duas vezes – de US$ 15 para US$ 30. Como “o patamar está muito alto”, ele teme que um novo choque faça dobrar o preço das cotações atuais.

Petrobras já admite reajuste

A Petrobras só irá reajustar novamente os combustíveis se o preço do petróleo se firmar entre os US$ 40 e US$ 45. Segundo o presidente da estatal, José Eduardo Dutra, se isso acontecer, haverá um novo aumento.

“Estamos aguardando definição de patamares. Não sabemos se vai se consolidar o novo patamar entre US$ 40 e US$ 45 do preço do petróleo. Se isso acontecer, a Petrobras, coerente com o que já vinha fazendo, vai fazer ajuste”, afirmou Dutra.

O último aumento da gasolina e do óleo diesel ocorreu no dia 14 de junho, quando o barril era vendido ao valor recorde de US$ 40. Na época, a Petrobras calculava que o petróleo estava em um patamar entre US$ 35 e US$ 37. Nesta semana, o barril negociado em Nova York bateu novo recorde, acima de US$ 44.

Mas segundo Dutra, ainda não está caracterizado um “novo patamar”, e os preços recordes ainda refletem a volatilidade do mercado.

“A Petrobras não repassa para o consumidor brasileiro a volatilidade permanente do mercado externo, isso vale tanto para baixo como para cima”, afirmou.

Ele disse que a empresa mantém a sua política de manter os preços no País alinhados com o mercado internacional para definir qual será o momento para fazer um novo reajuste.

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