Petrobras não faz acordo e reajusta gás

Terminou sem acordo a reunião realizada ontem em Porto Alegre (RS) entre representantes da Petrobras e das três distribuidoras de gás natural no Sul – Compagas, do Paraná; SCGás, de Santa Catarina; e Sulgás, do Rio Grande do Sul. A Petrobras vai mesmo aplicar o reajuste de 13% no gás natural boliviano no dia 1.º de setembro, conforme havia anunciado na semana passada. No Paraná, a Compagas avisou que não vai repassar o aumento para os consumidores neste primeiro momento. A distribuidora juntamente com as outras duas do Sul vão continuar tentando renegociar o aumento de 1.º de novembro (10%) e o de janeiro de 2006.

O resultado da reunião com a estatal frustrou a expectativa das distribuidoras. O objetivo era renegociar não só o índice de aumento, mas o tempo de implantação. A Compagas defende o tempo de implantação em três anos, para não provocar grande impacto aos consumidores, especialmente as indústrias, que respondem por quase 60% do consumo de gás natural no Estado. Em setembro, o assunto será novamente discutido, desta vez em Florianópolis (SC).

De acordo com a assessoria de imprensa da Compagas, a distribuidora só vai definir se irá repassar o aumento aos consumidores, assim como o índice, quando souber qual será o reajuste integral. Conforme comunicado da Petrobras na última sexta-feira, o aumento se deve à ?retirada de incentivo?. Com isso, haveria um aumento de 63% no valor da commodity do gás natural – o que impactaria para as distribuidoras em cerca de 33% no preço final, que inclui commodity mais transporte.

Perda de competitividade

Para o presidente do Sindicato da Indústria de Vidros, Cristais, Espelhos, Cerâmica de Louça e Porcelana no Paraná (Sindilouças-PR), José Canisso, a situação deverá ficar muito difícil, caso o reajuste do gás natural realmente se concretize. ?Com o aumento, vamos acabar perdendo competitividade?, afirmou. O setor de cerâmica é o segundo maior cliente da Compagas, responsável por 10% do total de vendas da distribuidora, atrás apenas do setor de madeira, que responde por 12%.

Segundo Canisso, algumas indústrias instaladas no Paraná têm fornos também em estados do Nordeste e Sudeste. Com o aumento do preço do gás natural, a tendência é que a produção deixe o Estado. ?A Incepa, por exemplo, tem fornos no Nordeste; a Schmidt, em São Paulo. No final, esse reajuste vai acabar matando as indústrias do Paraná e de Santa Catarina?, afirmou.

Canisso seguiu ontem para Brasília, onde participa hoje do Fórum Industrial Parlamentar Sul na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), juntamente com representantes das distribuidoras de gás natural. Segundo ele, além da revisão do reajuste, as indústrias do setor no Sul devem pedir a isonomia de preços. É que o gás boliviano, que abastece os três estados do Sul, terão aumento de 23% ainda este ano e novo reajuste em janeiro de 2006. Já o gás brasileiro terá aumento de 11,5%. ?Queremos que o preço seja um só, assim como ocorre com a energia elétrica.?

De acordo com Canisso, a indústria não terá como repassar o reajuste para o produto final, pois corre o risco de perder espaço no mercado. ?Não adianta repassar o aumento, senão não vende. Há produtos mais baratos, mas com qualidade não tão boa?, arrematou.

Petrobras

Em nota, a Petrobras reafirmou o seu compromisso com o mercado de gás natural brasileiro. ?Esta semana, ao divulgar para o mercado a revisão de seu Plano de Negócios, no qual prevê investimentos de US$ 56,4 bilhões no período de 2006-2010, a companhia deixou claro esse compromisso: mesmo em um ambiente de maiores custos dos empreendimentos, contempla US$ 6,5 bilhões especificamente para a área de gás e energia, além dos recursos destinados à exploração e produção de gás natural?, dizia a nota.

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