Parmalat vai reduzir operações

Quase US$ 1 bilhão em investimentos e 13 anos depois de iniciar um processo de expansão acelerada no país, com a aquisição de 19 empresas, a gigante italiana Parmalat começa a promover o desmonte de sua megaestrutura. A empresa quer ganhar rentabilidade diminuindo de tamanho, mas ainda não conseguiu mudar a cor da última linha do seu balanço. Neste ano, o prejuízo já atingiu R$ 174,8 milhões, até setembro, três vezes o valor das perdas em nove meses de 2001.

E, para piorar, a marca italiana está perdendo espaço para a concorrência. A Parmalat, que já foi líder absoluta no mercado de leite longa vida, reduziu sua participação de mercado, neste ano.

Também no segmento de iogurtes sua presença encolheu. No primeiro semestre ela tinha 14,4% das vendas, e em novembro ficou com 11,7%, segundo dados da pesquisa Nielsen. No setor de biscoitos finos ela também andou para trás.

Analistas do setor de alimentos dizem que a perda de “market share” da Parmalat é resultado do processo de encolhimento da empresa, com o fechamento ou venda de fábricas, e redução de linhas de produtos. O requeijão da marca, por exemplo, sumiu das gôndolas refrigeradas.

Neste ano, a empresa vendeu ou desativou quatro unidades de produção. No mercado é dada como certa a venda, nos próximos seis meses, das fábricas fora das regiões Sul e Sudeste. Na lista estariam as unidades de Natal, Garanhuns (PE), Ouro Preto D?Oeste (RO) e Santa Helena (GO).

A empresa informou por meio de sua assessoria que “o processo de desmobilização de ativos já terminou”, e que “o objetivo da reestruturação é racionalizar sua base industrial”. Apesar de ter-se firmado como marca líder no setor de leite e estendido sua teia para lacticínios, sucos, biscoitos, molhos e sobremesas, a Parmalat passou a maior parte de sua história no país no vermelho.

Segundo levantamento da consultoria Economática, entre 1986 e setembro deste ano a Parmalat só registrou lucro em dois anos (1989 e 1997). Desde 1990, até o último balanço, de setembro deste ano, o prejuízo da empresa somava R$ 441,8 milhões.

O ex-diretor industrial e atual consultor da empresa, Derli Forte, explica a falta de lucros pelos investimentos na expansão da empresa ao longo da última década.

“A Parmalat cresceu investindo os recursos que gerava no país”, diz ele. Segundo Derli, a maior parte das aquisições feitas no passado, foram com dinheiro obtido na atividade local. Mas o ciclo das aquisições esgotou-se em 1995, quando a Parmalat deu uma guinada na sua estratégia de crescimento entrando em novos mercados. E o lucro não veio.

Apesar da diversificação, a empresa ainda obtém metade de suas receitas na comercialização do leite longa vida. E, na opinião de Pasquali, por ser a maior nesse setor, ela deveria conseguir um bom retorno. “A Parmalat tem grande poder de barganha ante os pequenos produtores dos quais compra o produto”, diz ele.

A oferta leiteira do País está pulverizada em milhares de pequenos produtores rurais e a demanda concentrada em uma centena de empresas de beneficiamento do longa vida.

“A margem operacional do setor é pequena, de 20% a 25%, mas uma grande empresa pode conseguir mais”, acrescenta. Segundo o último balanço, a margem operacional da Parmalat é de 30%.

Na opinião de Pasquali, “ou a empresa esconde o lucro ou tem um nível de endividamento que destrói seus resultados”. Na divulgação do último balanço a Parmalat justificou o prejuízo acumulado neste ano devido “à realocação e baixa de ativos e ao crescimento de suas despesas financeiras em consequência da desvalorização do real”.

O balanço mostra que R$ 81 milhões (do endividamento de curto prazo de R$ 236,7 milhões) são em moeda estrangeira.

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