Paraná diversifica missões empresariais para mercado

O Paraná tem cerca de 1,3 mil indústrias que vendem regularmente ao exterior. Isso em um universo de quase 2 mil companhias do Estado, registradas pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), que fizeram exportações em 2009. Este ano, o País, que tinha 20,6 mil empresas exportadoras no ano passado, pretende totalizar US$ 180 bilhões em vendas externas. Muito desse aumento virá de negócios concretizados ou iniciados em missões empresariais. A prática, que sofreu uma queda durante a crise, voltou forte este ano, e vem incluindo países e continentes cada vez mais diversificados.

Um exemplo deve ocorrer daqui a um mês, aproximadamente. O Centro Internacional de Negócios (CIN) da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) está preparando duas missões que levarão empresários a feiras comerciais na África. Serão duas comitivas que visitarão, separadamente, a Feira Internacional de Luanda (Filda), em Angola, e a Feira de Indústria e Comércio de Moçambique (Facim), para buscarem novos mercados para seus produtos.

As missões na África são uma novidade mais recente. Destinos comuns de empresários paranaenses, principalmente, têm sido mesmo a Europa e a Ásia. No continente asiático, a China é o local mais procurado, mas graças às missões, portas também estão se abrindo em locais como o Vietnã, por exemplo. No velho continente, França e Itália são os países preferidos. Agora, um país que pertence aos dois continentes a Turquia está sendo inserido nos roteiros dos empresários.

As federações estaduais das indústrias brasileiras têm toda uma rede montada para facilitar as missões dos empresários. Cada estado cuida de um ou alguns setores, normalmente escolhidos dentre as vocações de cada um a Fiep, por exemplo, costuma organizar missões nas áreas de vestuário, agronegócio, alimentação, metal-mecânica e construção civil. É normal, também, que haja divisões por países nesse caso, o Paraná costuma organizar mais missões a locais como China e França. Se a indústria é de um setor não gerenciado pelo CIN de seu estado, os empresários podem, através do Centro local, se inserirem facilmente em uma missão organizada por outro local.

A coordenadora do CIN da Fiep, Janet Pacheco, cita um ditado que atribui aos chineses para defender a efetividade das missões: “Vale mais olhar uma vez do que ouvir 100 vezes”, diz. Além disso, a forma de olhar também conta muito. Pacheco lembra que os empresários até podem se organizar para irem sozinhos a países que os interessam. Porém, com a chancela de uma missão, a tarefa fica bem mais tranquila. “Temos, por exemplo, bons empresários, que gerenciam indústrias grandes, mas não falam inglês. Daí fica inviável ir sozinho”, exemplifica.

Mas o idioma pode não ser é o único obstáculo. Com uma instituição organizando a viagem, cotando pacotes mais baratos, acertando traslados entre aeroporto, hotel e os locais dos eventos, contratando intérpretes e guias e pré-agendando contatos e visitas, entre outros detalhes, sobra aos empresários participantes apenas focar no objetivo principal da viagem: fechar ou plantar sementes para futuros negócios. “Dessa forma, os participantes se sentem seguros e confortados”, completa Pacheco.

Constante

O empresário Rommel Barion, que é vice-presidente da Fiep e sócio-gerente da fabricante de chocolates Barion, é presença constante em missões internacionais. As viagens, segundo ele, começaram perto, na Argentina, e chegaram até o outro lado do mundo, em países como Coreia e Vietnã. Hoje, ele revela que exporta para a maioria dos continentes, sendo que na maior parte dos casos os negócios foram viabi,lizados durante missões.

“É complicado ir por conta própria, chegar sozinho no aeroporto e não saber aonde ir. No Vietnã, por exemplo, que é um país estranho aos brasileiros, tínhamos toda a estrutura disponibilizada para a missão pela Secretaria de Indústria e Comércio local. Fomos recebidos pelo ministro”, conta Barion. De acordo com ele, a maioria das missões é prospectiva. “Dificilmente negócios são fechados naquele momento”, ressalta.

Custo

Ingressar em uma missão empresarial ao exterior não chega a ser um investimento muito caro. No caso das viagens organizadas pelo Centro Internacional de Negócios (CIN) da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), a secretaria faz cotações com até quatro agências de turismo para descobrir os pacotes mais baratos. Uma missão a Paris e Milão a próxima acontece em setembro custa cerca de 2,3 mil euros. Para a China, o custo varia entre US$ 3,5 mil e US$ 4 mil. Apenas os gastos com alimentação e transporte nas cidades não estão incluídos.

Negócio é bom, mas nem sempre é o objetivo final

Nem só de negócios fechados ou viabilizados vivem as missões. Muitos empresários aproveitam as viagens apenas para observar o comportamento de mercados, ou produtos e métodos novos. “As viagens abrem os olhos dos empresários”, diz a coordenadora do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Janet Pacheco. Ela lembra de um caso de uma empresária do ramo de vestuário que, depois de uma missão, decidiu melhorar a qualidade das roupas que fabricava e aumentou seu mercado em 40%, no Brasil mesmo. Em outro caso, um empresário do vestuário aprendeu uma forma mais barata de fabricar um colarinho. “Outro da área do mobiliário descobriu uma nova forma de fazer uma corrediça de uma estante para home theater”, conta.

A coordenadora do CIN afirma que o objetivo não é que os empresários vão ao exterior para copiar ideias, mas sim motivá-los, ou inspirá-los, a melhorar a qualidade de seus produtos. No caso do empresário Adilson Filipak, proprietário da fábrica de roupas ecologicamente corretas Joyful, uma missão a Milão, na Itália, e a Paris, na França, serviu como uma sondagem de como andava o mercado, na Europa, para o nicho que tinha decidido entrar.

“O resultado foi muito positivo”, avalia Filipak. “Conversei com jornalistas de moda, com pessoas da área técnica. Na feira em Paris, tinha um setor com produtos ‘eco-friendly’. Vi que [o nicho] vendia muito bem por lá”, completa. Segundo ele, embora feiras como as que visitou fossem bastante interessantes para fechar contratos de fornecimento de matéria-prima, a sua viagem foi mais para buscar informações, mesmo. Como confirmou que o tipo de produto que estava prestes a produzir realmente era uma tendência, a experiência lhe deu segurança para continuar investindo na área. Agora, ele está programando voltar à Europa, no ano que vem, mas com outros objetivos, já que seus negócios já estarão mais consolidados. (HM)

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