“Paradão” dividido faz caminhoneiro ficar em casa

Poucos caminhoneiros do Paraná aderiram ao Paradão Nacional, nome dado à paralisação da categoria iniciada ontem em dez estados brasileiros. Eles reivindicam a aplicação de R$ 8 bilhões provenientes dos recursos da Contribuição de Intervenção de Domínio Econômico (Cide), arrecadada no preço dos combustíveis e destinada à recuperação das estradas. A greve foi organizada pela Associação Brasileira de Caminhoneiros (Abcam), mas não obteve o apoio das entidades paranaenses representativas dos trabalhadores deste setor.

Devido à organização isolada do movimento, as informações foram desencontradas no primeiro dia de mobilização, previsto para durar 72 horas. O presidente da Abcam, José da Fonseca Lopes, afirma que os estados do Rio Grande do Sul, Bahia, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo foram os locais onde grande quantidade de caminhoneiros aderiram à parada. Lopes estima que 94 milhões de cargas deixarão de ser transportadas em todo o País neste período. “Nós não queremos piquetes e bloqueios de rodovias. Quem aderiu está em casa”, aponta.

O presidente da Associação Paranaense dos Caminhoneiros e Transportadores Autônomos, Marcos César de Carvalho, revela que há poucos caminhões parados no Estado. A maioria deles está aguardando o desenrolar dos fatos para começar ou continuar a viagem. Para ele, a reivindicação é justa, mas não há a necessidade de se fazer greve neste momento.

Há duas semanas, integrantes de várias entidades dos caminhoneiros se reuniram com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que considerou a recuperação das rodovias uma prioridade nacional. Na quinta-feira passada, eles conversaram com os ministros do Transporte, Alfredo Nascimento; da Justiça, Márcio Thomaz Bastos; e da Integração Nacional, Ciro Gomes. De acordo com Diumar Bueno, presidente do Sindicato dos Caminhoneiros do Paraná, esta foi a primeira vez que o atual governo dialogou com a categoria sobre a crítica situação das estradas. “Estamos tendo uma conversa aberta sobre os problemas e confiamos na resposta do governo”, declara. As duas partes voltam a se encontrar no dia 11 de agosto, quando haverá um posicionamento sobre a solução para o problema.

Bueno avalia que a paralisação está sem consistência e que contraria o pensamento da maioria dos caminhoneiros. “A maioria nem sabe o que é Cide, somente que é preciso melhorar as estradas com urgência. Os ministros nos falaram que esta é uma prioridade, pois as rodovias movimentam o País. A greve só é feita, principalmente no caso dos caminhoneiros, em última instância e não é isso que está acontecendo”, observa.

O coordenador do Movimento União Brasil Caminhoneiro na região de Ponta Grossa e Curitiba, Neuri Leobet, não descarta a possibilidade dos caminhoneiros paranaenses aderirem à paralisação. “Em caso de resposta negativa do governo, o Paraná pode aderir à greve. Mas estamos dando voto de confiança ao governo”, explica. Nenhuma entidade soube dizer quantos caminhoneiros estão efetivamente parados no Estado.

Tráfego normal

Segundo a Polícia Rodoviária Federal, o tráfego de caminhões não foi menor ontem no Paraná, por conta da mobilização nacional. A Ecovia, concessionária que administra o trecho entre Curitiba e Paranaguá, também não registrou a redução de fluxo. Ao contrário: na segunda-feira passada, o fluxo de caminhões foi de 1.673 nos dois sentidos, e ontem, 1.780, no horário das 6h às 14h50. O aumento pode ser atribuído à interdição da ferrovia em direção a Paranaguá.

Paralisação teria atingido 37,5%

A Abcam (Associação Brasileira dos Caminhoneiros) estima que 150 mil caminhoneiros aderiram ao “paradão nacional”, iniciado à 0h de ontem. Esse número representa 37,5% dos 400 mil caminhoneiros filiados à associação, segundo a Abcam.

“Nossa paralisação é pacífica. Orientamos os caminhoneiros a não sair de casa ou então a parar em postos de abastecimento ou pontos de apoio nas estradas”, disse o presidente da associação, José da Fonseca Lopes.

Segundo ele, a paralisação dos caminhoneiros pode ser “sentida” nas estradas, onde o tráfego de caminhões teria caído 40% em relação a um dia normal da semana.

Fonseca Lopes afirmou ainda que o movimento da categoria – que deve durar 72 horas – já cumpriu parcialmente seu objetivo.

“Já conseguimos chamar a atenção da sociedade para o problema da Cide, que é paga por toda a sociedade, mas não foi aplicada ainda na melhoria das rodovias”, disse.

Pelas estimativas da Abcam, a paralisação é mais forte nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Também há paralisação parcial em São Paulo e Minas Gerais.

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