Para analistas, Selic cairá 0,25 ponto percentual

São Paulo  – O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidirá pelo corte de 0,25 ponto percentual da Selic na reunião que termina amanhã, segundo a expectativa de 37 analistas de um universo de 41 instituições financeiras. Se a maioria dos economistas ouvidos estiver certa, a taxa de juro básica brasileira será de 16% ao ano a partir deste mês. Para três profissionais, a autoridade monetária optará pela manutenção da Selic, que seria a terceira deste ano, e apenas um banco aposta numa queda maior da taxa, de 0,50 ponto percentual.

O consenso dos analistas que esperam um corte de 0,25 ponto percentual é de que o Copom avaliará que o quadro econômico está bom, mas não tanto a ponto de a redução ser “mais consistente”, principalmente após o anúncio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março (0,47%) ficou levemente acima das projeções dos analistas (de 0,35% a 0,45%) e de que seus núcleos dispararam. E o IPCA é o indicador oficial utilizado pelo BC para monitorar o cumprimento da meta de inflação.

“O cenário não está tão otimista para um corte maior e isto inspira cautela”, disse a economista do Banco Santos, Márcia Dantas. Segundo ela, foram basicamente os índices de inflação que influenciaram em sua aposta de corte de ¼. Márcia acredita que tanto o álcool combustível quanto as carnes já devem apresentar uma deflação menor nos próximos indicadores. Além disso, salientou, a energia elétrica reajustada acima do esperado pode pesar na inflação.

O economista David Beker, da Merrill Lynch do Brasil, disse que, mesmo que o BC reduza a Selic em 0,25 pento percentual pela segunda vez consecutiva, isto não significa que esta se tornará uma tendência. Beker apontou a redução apresentada recentemente pelos indicadores de inflação, como o IPC-Fipe (de 0,19% fevereiro para 0,12% em março), do IGP-DI (de 1,08% para 0,93%) e até mesmo do IPCA (de 0,61% para 0,47%) como um ponto favorável para o corte. Mas salientou que tanto os núcleos do IPCA quanto seu índice de difusão pesam contra.

“O BC encontrará este mês dados não muito diferentes dos de março, mas não há espaço, entretanto, para grandes ousadias, até porque os núcleos do IPCA de março vieram altos, projetando uma variação de 9% para 12 meses”, enfatizou o economista-chefe da Itaú Corretora, Marcelo Carvalho. O economista-chefe do Banco Schahin, Cristiano Oliveira, também aposta na queda de 0,25 ponto percentual, mas salientou que o País passa por um miniciclo de cortes que se estenderá por pouco tempo. Sua aposta para o próximo mês é de uma nova baixa da mesma proporção.

A visão de que o cenário econômico brasileiro piorou desde a última reunião do Copom é o principal argumento dos economistas que apostam na manutenção da Selic em abril. A principal “prova” disto apontada pelos profissionais foi o resultado do IPCA de março, divulgado pelo IBGE no meio da semana passada. O índice cheio subiu além do que o mercado esperava: uma variação de 0,47%, ante expectativa de 0,35% a 0,45%. Mas o que assustou mesmo foram os núcleos do indicador calculados pela metodologia de médias aparadas (com e sem suavização) e o índice de difusão, que vieram bem acima das previsões.

Se eles estiverem corretos, esta será a terceira vez apenas este ano que os membros do Copom optarão por não alterar a taxa de juros básica. Apenas em março houve um corte de 0,25 ponto percentual, para 16,25% (taxa atual), que também surpreendeu a grande maioria dos analistas. Na ocasião, eles aguardavam que o BC iria manter a Selic, como já havia ocorrido no primeiro bimestre.

Piora

O economista da GAP Asset Management, Alexandre Maia, argumentou que a opção pela manutenção da Selic não vai de encontro à decisão da reunião passada. De acordo com ele, o cenário econômico na ocasião da reunião do Copom de março estava mais favorável do que o atual. Segundo seus cálculos, o núcleo do IPCA não está compatível com a meta de inflação, que é de 5,5% ao ano. “O IPCA foi um sinal amarelo e o BC deve respeitá-lo”, argumentou Maia.

Vale lembrar, no entanto, que o BC tem uma margem de manobra de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo. Na avaliação do analista, ao não cortar os juros agora, a autoridade monetária está mostrando na prática que persegue o centro da meta, conforme vem defendendo seus dirigentes, inclusive o presidente Henrique Meirel-les, em aparições públicas. “O compromisso da meta seria reforçado com uma postura mais cautelosa”, justificou. Para ele, o debate sobre a mudança da meta, logo após a consolidação dos primeiros números fechados do primeiro trimestre, é precipitada.

Inflação

Dois economistas acreditam que o Banco Central já esteja trabalhando com dados econômicos visando o não-cumprimento exato da meta de inflação deste ano, que é de 5,5%, mas sim se concentrando em sua margem superior, de 2,5 pontos percentuais.

Para o economista-chefe do Deutsche Bank, José Faria, isto está ocorrendo apesar dos discursos do presidente do BC, Henrique Meirelles, que enfatizam que a autoridade persegue o centro da meta. Ele afirmou ter ficado com esta “impressão” após a decisão do Copom de março. “Tanto, que se o corte for de 0,50 ponto percentual em abril não vou me surpreender”, disse. Ele projeta uma redução de 0,25 ponto percentual.

Furlan acha que Copom vai cortar

O ministro do Desenvolvimento, Comércio e Indústria, Luiz Fernando Furlan, disse que espera um corte de pelo menos 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros nesta semana. O Copom (Comitê de Política Monetária) começa a se reunir hoje define amanhã o futuro da taxa Selic, que atualmente está em 16,25% ao ano.

“Espero (um corte) de no mínimo 0,25 ponto”, disse Furlan, pouco antes de um evento na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) para anunciar medidas de estimulo às exportações.

Questionado sobre o corte de apenas 0,25 ponto ser pequeno, Furlan disse que uma maior agressividade na redução da taxa “vai depender de uma análise do Banco Central”.

Na última reunião, o Copom reduziu a taxa Selic em 0,25 ponto, para os atuais 16,25%, após ter interrompido os cortes de juros em janeiro deste ano. No ano passado, a taxa Selic foi reduzida em 10 pontos percentuais – de 26,5% em janeiro para 16,5% em dezembro.

“Divisão” intriga analistas do mercado

Um dos pontos que mais intrigaram analistas do mercado financeiro na reunião de março foi o anúncio de que a decisão pelo corte de 0,25 ponto percentual da Selic, para 16,25%, no mês passado, não foi unânime. Para o economista David Beker, da Merrill Lynch, a divisão da votação poderá ocorrer novamente este mês, já que o cenário está composto tanto por dados positivos (como redução da inflação em março ante fevereiro), quanto por negativos (os núcleos dos índices não estão tão bem comportados como no mês anterior).

A análise mais para um lado ou para o outro pode ser o ponto de divergência entre os diretores do BC. Na reunião passada, quando não houve unanimidade, especulou-se logo após a divulgação da Selic, sobre o que pensariam os três dos nove membros do comitê. A questão era saber se eles teriam votado por um corte maior da taxa de juros básica ou pela estabilidade, o que foi confirmado, uma semana depois, com a divulgação da ata da reunião.

O único sinal que os diretores do BC deram para o mercado tentar entender o corte de 0,25 ponto percentual, inesperado pela maioria dos agentes financeiros após dois meses seguidos de manutenção, foi a seguinte frase: “Tendo em vista as indicações recentes de redução do risco de desvio da inflação em relação às metas, o Copom decidiu, por seis votos a três, reduzir a taxa Selic em 16,25%, sem viés.”

No último encontro das autoridades, a segunda parte da reunião, que precede o anúncio sobre a Selic, durou três horas.

Unibanco espera por redução maior

Se a aposta do economista-chefe do Unibanco, Marcelo Salomon, estiver correta, o Brasil terá a partir desde mês a menor taxa de juros básica desde março de 2001. Salomon está isolado na avaliação de que o Banco Central tem espaço para cortar a Selic em 0,50 ponto base no Copom dos dias 13 e 14. Esta decisão faria com que a Selic recuasse para 15,75% ao ano. Há três anos, a taxa de juros básica vem sendo praticada acima deste nível.

De acordo com o economista, se os índices de inflação continuarem a mostrar desaceleração, abre-se uma janela de oportunidade para a autoridade monetária reduzir a Selic. “Se os indicadores continuarem a cair, tanto mostrando que não há repasse da alta dos preços do atacado para o varejo, quanto revelando que o avanço da inflação no atacado está sob controle, o BC poderá reduzir a Selic em 0,50 ponto percentual”, disse.

Para Salomon, a queda dos juros básicos não deve implicar em aumento de preços. “Temos uma capacidade ociosa muito alta na indústria brasileira e ela poderá ser preenchida”, afirmou o economista.

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