Papéis da Bovespa não estimulam investidores

Rio (AG) – O resultado da mais recente tentativa do BNDES de incentivar o mercado de capitais brasileiro ? o lançamento do fundo Papéis de Índice Brasil Bovespa (PIBB) ? decepcionou o presidente do banco, Carlos Lessa. Na última sexta-feira, ele disse que “observou com tristeza, perplexidade e estranheza” o fato de os pequenos investidores terem ficado com apenas 50% do total das cotas vendidas, o equivalente a R$ 303 milhões. A meta era que os investidores de menor porte representassem cerca de 80% dos compradores.

Com base em um levantamento apresentado pela ouvidoria do banco, Lessa afirmou que não foi por falta de interesse que os pequenos investidores deixaram de aplicar no fundo. Segundo ele, foi grande o número de reclamações de pessoas que não conseguiram aderir à operação devido à falta de informação e preparo de funcionários de bancos de varejo envolvidos na oferta.

? O resultado, nesse sentido, foi pífio. Causa estranheza esse número insignificante (de pequenos investidores), em contrapartida a um interesse descabido dos investidores institucionais (fundos de pensão e bancos, por exemplo), que não nos interessavam ? afirmou Lessa, emendando que o desempenho dos bancos no atendimento ao grande público foi canhestro. ? Não sei se por displicência, falta de tempo ou desinteresse.

Lessa disse que houve grande empenho do banco em divulgar o PIBB. O fundo é formado pelas principais ações da BNDESPar (braço de participações do BNDES), que correspondem ao IbrX-50, índice da Bolsa de Valores que reúne os 50 papéis mais negociados do pregão. Segundo ele, foram confeccionadas 20 mil cartilhas para serem distribuídas aos investidores, que os bancos não se interessaram em enviar para seus clientes.

De acordo com Paulo Mendes, vice-presidente do JP Morgan, um dos bancos responsáveis pela coordenação da operação, a demanda total pelas cotas do PIBB ? incluindo investidores de varejo e institucionais ? foi de R$ 1,6 bilhão, dos quais R$ 1,3 bilhão de grandes aplicadores. O banco, no entanto, manteve a oferta em R$ 600 milhões e os grandes investidores ficaram com cerca da metade.

? É necessário multiplicar o número de brasileiros sócios de empresas nacionais. A intenção do PIBB era justamente essa. Foi um ato pedagógico ? disse Lessa.

Procurados, os representantes dos bancos envolvidos na operação (Banco do Brasil, BankBoston, Bradesco, Banespa/Santander, Itaú e Unibanco) não comentaram as declarações do presidente do BNDES.

Lessa não descarta a possibilidade de lançar outros fundos no mesmo modelo do PIBB, mas admite que está estudando a possibilidade de a oferta ser apenas para pequenos investidores:

– Já consultei o jurídico do banco para ver se isso é possível. Podemos, inclusive, dar um prêmio aos bancos que tiverem melhor desempenho.

Bancos admitem falta de preparo para o varejo

A participação dos pequenos investidores na oferta do PIBB foi surpreendente, segundo o vice-presidente do JP Morgan, Paulo Mendes. Segundo o executivo, a demanda de R$ 306 milhões do varejo numa oferta de ações ao mercado foi a maior da história. Enquanto a parcela de aplicadores de pequeno porte no total ofertado pelo BNDES foi de 50%, a média fica em torno de 10%.

? Foi um resultado sem precedentes. Ofertas recentes no mercado, da Natura, da Gol e da ALL, tiveram demanda no varejo de R$ 120 milhões, R$ 88 milhões e R$ 107 milhões, respectivamente ? explicou o vice-presidente.

Mendes admite, no entanto, que houve problemas no atendimento ao grande público. Segundo o executivo, nem todos os bancos tiveram tempo para treinar seus funcionários.

Outra fonte ligada à oferta admitiu que a venda no varejo foi feita sem o devido preparo. A instituição a que pertence esse executivo teria privilegiado os investidores de alta renda, em vez do varejo em geral, de olho na possibilidade de vultosos volumes de aplicação.

? Pecamos um pouco no treinamento de vendas no varejo, mas era preciso fazer uma escolha. Os investidores especializados sabem como funciona a aplicação em Bolsa de Valores e conhecem os riscos da oferta ? explicou a fonte, que pediu para não ser identificada. ? Partir do zero com um investidor de varejo significa gastar muito tempo em treinamento de funcionários, explicando as dúvidas básicas, e não tínhamos o tempo a nosso favor. Por tudo isso, já esperávamos que a reserva de pequenos investidores ficasse aquém do desejado.

Um executivo ligado a um dos bancos coordenadores da operação afirmou que, uma vez constatada a falta de informações generalizada no atendimento aos pequenos aplicadores, chegou-se a cogitar a hipótese de esticar o cronograma de reserva ? que foi ampliado em apenas um dia ? mas essa hipótese foi colocada de lado para privilegiar a aplicação dos pesos-pesados investidores estrangeiros:

? Adiar o cronograma era correr o risco de comprometer seriamente as vendas no exterior, já que o início do período de férias escolares nos Estados Unidos ocorre em agosto e isso poderia afastar grandes aplicadores.

Para Gustavo Alcântara, gestor de fundos do Banco Prosper, a venda decepcionou. Segundo ele, o mercado esperava uma explosão na procura, principalmente após operações bem-sucedidas como as do FGTS-Vale e do FGTS-Petrobras e as vendas de ações da Natura e da Gol.

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