Palocci diz que não há meta para os juros

Madri – O ministro da Fazenda, Antônio Palocci, disse ontem que não pode se comprometer com meta de taxa de juros para o fim do ano, mas reafirmou o compromisso de não provocar bolhas de crescimento econômico a partir do que chamou de “permissividade perigosa” com a inflação. “Trabalhamos com meta de inflação, de 5,5% para o ano que vem, e não de juros. Não se pode ter duas metas desse tipo estabelecidas: ou é uma ou é outra”, observou o ministro. O comentário foi feito em almoço com investidores espanhóis e brasileiros em Madri.

Antes, ao participar de seminário na Confederação Espanhola de Organizações Empresariais (CEOE), Palocci ouviu do brasileiro Armando Monteiro Neto, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que os empresários trabalham com a expectativa de taxa básica de juros de 19% até dezembro e crescimento de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2004.

“A economia costuma reagir bem em momentos de desafio e um índice de crescimento de 4% não está fora de propósito”, argumentou o ministro. “Quanto a juros, não há meta, mas eu insisto: não brigo com otimistas.” Repetindo as palavras do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Palocci disse que haverá uma queda sistemática de juros, a partir de agora, se tudo continuar dando certo na economia.

Ele negou, no entanto, que tenha falado em meta de juros de 20% no fim do ano. Hoje, a taxa básica está em 26%. Haverá reunião do Conselho de Política Monetária (Copom) na próxima semana.

No almoço com investidores, com a presença de diretores da Telefónica, do Santander e da Iberdrola, o ministro foi taxativo ao garantir a nova fase da economia de crescimento sustentado. “Nossa crise, senhores, foi debelada”, anunciou. Todos queriam saber se haverá mudanças nas regras do jogo a curto prazo, com possibilidade de volta das turbulências. Palocci garantiu que não. “O risco da inflação explosiva, da alta do risco país e das dificuldades para a rolagem de nossa dívida não mais existem no horizonte de curto prazo.”

Telefonia

Mais uma vez, o ministro assegurou que todos os contratos serão respeitados e afirmou que o índice usado para fixar as tarifas telefônicas deve ser mudado, mas somente em 2006. Hoje, o índice usado na correção traz embutida a inflação passada – o que força um reajuste maior da tarifa. “Isso provavelmente vai mudar porque causa um desencontro”, adiantou Palocci.

“O problema é que temos perspectiva de inflação de 6,75% e contratos com a inflação passada. Então, fica um choque entre a inflação passada no atacado, que está próxima de 30%, e a futura, de 6,75%. Vamos respeitar as regras atuais, mas depois ou você faz uma cesta de índices ou um índice setorial ou utiliza IGP e IPCA combinados. Há uma série de possibilidades que devem ser estudadas para os novos contratos, a partir de 2006.”

IPI

Quanto à proposta de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros populares, o ministro informou que não está nada acertado. “Mas não me parece adequado apenas proteger alguns setores”, ressaltou. “Precisamos tomar medidas gerais, que podem proteger a economia como um todo.” Palocci discorda das análises indicando que câmbio baixo afeta as exportações por causar forte retração na economia. “Não podemos fazer com que as exportações dependam do câmbio e também não acho que vamos ter perda”, comentou o ministro. E concluiu: “Câmbio alto é que significa inflação”.

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