Ouro rendeu mais em ano ruim para os investidores

Num ano considerado ruim para investimentos por causa das turbulências na economia mundial e brasileira, o ouro foi a aplicação com melhor rentabilidade em 2002 (80,93%), a exemplo do que ocorreu em 2001. O segundo maior rendimento foi o dólar comercial, que fechou o ano com valorização de 53,2%, quase três vezes mais que a alta de 18,6% alcançada no ano anterior. As aplicações atreladas ao IGP-M (Índice Geral de Preços ao Mercado), que acumulou 25,31%, também se destacaram. Já a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) amargou a lanterna no ranking, com perda de 17,01%. Pela primeira vez, fechará três anos consecutivos em queda. Mesmo assim, algumas ações específicas propiciaram ganhos.

“O ano de 2002 só começou para o mercado financeiro após as eleições”, destaca o economista Sérgio Martenetz, diretor da SM Consultoria Econômica. Entre os fatores externos que contribuíram para o cenário econômico instável no Brasil, ele aponta as ameaças terroristas nos EUA, os escândalos contábeis nas multinacionais, a recessão européia e a moratória argentina. Os problemas internos, segundo ele, foram a grande volatilidade do mercado e a expectativa em relação ao processo eleitoral. “Tudo isso contribuiu para que os investimentos ficassem agitados durante o ano”.

Martenetz comenta que os negócios com ações melhoraram após as eleições, mas não o suficiente para recuperar o prejuízo acumulado. Porém a desvalorização da Bovespa em 2002 foi bem menor que em outros países – na Alemanha, a Bolsa caiu em torno de 44%. Em dezembro, a Bovespa liderou o ranking de aplicações, com crescimento de 7,23%. Quem adquiriu ações da Vale do Rio Doce em março se deu bem. Como a empresa é uma grande exportadora, com custos em reais e receitas em dólares, foi diretamente beneficiada pela alta do dólar. O papel da Vale valorizou 67,65%. Já quem preferiu manter as ações da Petrobras compradas em 2000 ganhou bem menos: 6,61%. Os analistas lembram que a ação já tinha subido muito nos últimos anos e agora foi depreciada pelas incertezas econômicas.

O comportamento do dólar também mudou após as eleições. “Até lá, houve a pressão forte que influenciou os índices de preços”, lembra o economista. Já os títulos de renda fixa atrelados ao DI, embora tenham registrado variação positiva no ano que passou, tiveram os ganhos reduzidos com a alteração do sistema de cálculo. Ao invés da marcação pela curva dos juros, o Banco Central adotou a marcação a mercado.

A liderança do ouro está diretamente ligada à intranqüilidade que marcou o mercado no último ano. “O ouro é considerado o abrigo financeiro dos investidores”, explica Martenetz. Além de ser cotado em dólar, beneficiando-se das altas do câmbio, as crises internacionais elevaram a procura pelo metal, aumentando os preços no mercado externo.

Onde investir?

O ano novo e a mudança de governo exigem cautela dos investidores. “É evidente que o simples fato de se iniciar um novo governo, com um discurso em princípio coerente e com algumas propostas novas, não significa que os problemas estruturais e de conjuntura do País estejam resolvidos”, considera Martenetz. “O que está acontecendo é que as expectativas dos agentes internos e externos estão melhores do que estavam, e, como é do conhecimento geral, os mercados trabalham em cima das expectativas”, acrescenta.

Entretanto, o economista ressalta que a perspectiva não é de otimismo linear, já que a volatilidade é uma característica dos mercados. Ele não descarta também rápidas mudanças no humor dos agentes econômicos, decorrentes de alterações no discurso governamental, seja por circunstâncias econômicas internas ou externas imprevistas ou mudanças na vontade política.

Diante deste cenário projetado, Martenetz recomenda que os investidores aguardem as primeiras ações do presidente eleito Lula antes de mudar suas carteiras. “Continuo achando os fundos DI o melhor local para investir no início do ano, porque eles acompanham os juros e há possibilidade da taxa subir”, aponta. Quando os juros iniciarem uma trajetória declinante, será a vez de investir nos fundos pré-fixados. Na avaliação do economista, as ações de boas empresas devem recuperar boa parte do valor perdido em 2001 e 2002. Já os fundos cambiais deverão ser escolhidos apenas por quem precisa de proteção (“hedge”). Fundos referenciados ao IGP-M serão boa alternativa enquanto a inflação estiver alta.

“O temor dos odiosos confiscos e calotes, o dinheiro em baixo do colchão e a fuga das aplicações financeiras serão práticas do passado, porque a mudança democrática inegável por que passa o País consolidará o respeito pelos contratos e pelos compromissos, tirando dos ombros do Brasil a fama de País que não é sério”, analisa Martenetz.

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