Ostra vira alternativa de renda para pescadores

A ostreicultura (cultivo de ostras) no litoral do Paraná vem se consolidando como uma das principais alternativas para a geração de renda da população que, até então, vivia da pesca artesanal. De acordo com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), 103 famílias contam com licenças de instalação e manejo das culturas e vivem da criação de ostra em oito regiões produtoras no litoral do Estado.

No mês de junho, o Ministério da Aquicultura e Pesca oficializou a entrega de 72 Termos de Autorização de Uso de Águas para a instalação de cultivos marinhos no litoral do Paraná. Para a Emater, que elaborou os projetos encaminhados ao Ministério, os termos de autorização, que também tiveram o aval de órgãos ambientais, da Marinha do Brasil e da Secretaria de Patrimônio da União, devem contribuir para a profissionalização do cultivo, o que deverá otimizar a margem de lucro das produções. Para o órgão, a medida também poderá motivar novos produtores a cultivar a ostra.

De acordo com a Emater, o sistema de cultivo de ostra funciona no Paraná desde 2003, porém a maior parte das culturas é feita de uma forma amadora. Com a autorização do uso de águas, ganha corpo a implementação do ações como as do Projeto de Desenvolvimento da Aquicultura e Pesca do Litoral do Paraná, que prevê subsídios para a produção de ostra, mexilhão, camarão e outros moluscos. Desenvolvido em parceria entre Secretaria de Estado da Agricultura, Emater, Fundação Terra, Centro de Produção e Propagação de Organismos Marinhos/PUC-PR (CPPOM) e Prefeituras da região, o projeto é financiado pela Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e visa a promoção da pesquisa e geração de alternativas de renda para as famílias de pescadores artesanais.

Segundo a Emater, as ostreiculturas paranaenses estão concentradas nos municípios de Pontal do Paraná, Antonina, Guaratuba, Paranaguá e Guaraqueçaba. Atualmente cada produtor produz 100 dúzias de ostras por ano. Com o novo sistema proposto pelo programa, a expectativa é de que a produção individual passe para 4,3 mil dúzias/ano.

O engenheiro de pesca da Emater, Astrogildo José Gomes de Melo, conta que foram sete anos de espera para que as 72 famílias pudessem contar com a autorização de uso de águas. “A maior parte dos pescadores criavam ostra para consumo próprio e agora percebem que pode dar lucro”, diz. Segundo ele, com a medida, os novos produtores contarão com recursos do governo que subsidiará 50% do custos de cada unidade, cuja instalação gira em torno de R$ 9 mil. “Estas primeiras famílias trabalharão como agentes multiplicadores das técnicas, que serão transferidas para outras comunidades”, diz Melo.

O engenheiro de pesca da Secretaria de Agricultura e Pesca de Paranaguá, Luiz Augusto Sineiro de Azevedo, confirma que a criação de animais marinhos pode ser fundamental para a autosustentabilidade dos pescadores. Segundo ele, a prefeitura tem implementado um projeto socioeconômico e ambiental, já que a qualidade da pesca na Baía de Paranaguá vem caindo. “Hoje temos feito um trabalho com filhos de pescadores, que estão aprendendo novas tecnologias para qualificar a produção. Além de gerar renda, o trabalho também visa a proteção do meio ambiente”, afirma.

Valorização pela qualidade do produto

Outra vertente do projeto Cultimar destacada por Marcus Giroto é a valorização da ostra produzida em Guaratuba. Com o objetivo de promover o produto, o Cultimar vem realizando eventos envolvendo o comércio e os produtores de ostras. Um esses eventos foi o 1.º Festival Paranaense da Ostra em Guaratuba e Matinhos, realizado em junho, quando foram vendidas mais de 8 mil ostras. O evento co,ntou com o apoio da Associação Guaratubana de Maricultores e a Cozinha Comunitária Encanto e Delicias de Caieiras.

Segundo Giroto, os festivais ajudam a incrementar a comercialização de ostras durante a baixa temporada. “O festival contribui para divulgar a qualidade das ostras de Guaratuba, o que faz com que o produto tenha uma maior procura”, afirma. Entre outras ações, o projeto Cultimar fornece material publicitário que são distribuídos em restaurantes. De acordo com Giroto, o período de verão é o melhor para a venda de ostras, o que garante o sustento da maioria dos ostreicultores durante o resto do ano. Entretanto, se por um lado diminuem as vendas após a temporada de verão, durante o inverno os produtores têm um argumento que pode conquistar o consumidor pelo paladar. Segundo Giroto, as ostras no inverno são mais saborosas pois estão mais maturadas, com as gônadas repletas. (NA)

Projeto é referencial de capacitação

A possibilidade de complementar a sustentabilidade das famílias no litoral do Paraná através da criação de ostras fez com que um projeto se tornasse um referencial de capacitação e apoio à maricultura em Guaratuba. Idealizado pelo Grupo Integrado de Aqüicultura e Estudos Ambientais (GIA) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o Cultimar atua com foco na maricultura de Guaratuba, que hoje conta com 11 cultivos, e 38 Membros da Associação Guaratubana de Maricultores (Aguamar). O projeto ressalta a importância da criação de ostras na geração de renda para famílias de pescadores.

Em 2009, o Cultimar capacitou mais de 120 pescadores, nas nas áreas que vão desde o manejo das ostras à culinária realizada com o produto. De acordo com a direção do projeto, os produtores que apoiados pelo Cultimar tiveram aumento de 30% em sua renda com as ações de capacitação. De acordo com um dos organizadores do Cultimar, Marcus Vinícuis Giroto, o objetivo é agregar qualidade certificada aos produtos e sustentabilidade ambiental à produção. O projeto também visa conscientizar as comunidades litorâneas tradicionais.

Segundo Giroto, os técnicos do projeto realizam estudos para aprimorar técnicas de cultivo das ostras. Atualmente, são realizados dois experimentos com ostras nativas (Crassostrea brasiliana). O primeiro é relacionado à captação de sementes com a utilização de coletores artificiais; o segundo é um estudo comparativo entre três sistemas de cultivo. “Finalizados os experimentos os resultados são repassados para os produtores que podem otimizar a produção, aumentar o volume de dúzias vendias e, consequentemente, aumentar a margem de lucro”, afirma Giroto.

Para monitorar a qualidade sanitária das ostras, de acordo com o zoólogo, os produtores apoiados pelo Cultimar contam com uma análise microbiológica periódica feita pelo Laboratório de Histologia e Microbiologia (LHM) do GIA, que fica no Setor de Ciências Agrárias da UFPR, em Curitiba. Na análise, são considerados parâmetros estipulados pela legislação brasileira (Salmonella sp. e Staphylococcus coagulase) e adotadas internacionalmente (Escherichia coli). “Os produtores recebem um laudo mensal com os valores encontrados nas ostras produzidas”, explica Giroto.

O projeto Cultimar, que é desenvolvido com patrocínio do Instituto HSBC Solidariedade e CNPq, começou a ser implementado em 2005, tendo como base as comunidades de Guaratuba e Ilha das Peças, no estado do Paraná. (NA)

Voltar ao topo