ONU constata que avanço dos países pobres foi desigual

Genebra – Os países mais pobres do mundo registraram um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e de suas exportações entre 2000 e 2002, mas esse avanço foi muito desigual e está sujeito a ameaças que vão desde o crescente endividamento até a epidemia de aids e os conflitos armados. O alerta foi feito ontem pelo secretário-geral adjunto da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), o chileno Carlos Fortin, ao apresentar um relatório da organização sobre a relação entre comércio internacional e redução da pobreza.

Segundo os últimos dados disponíveis, que correspondem ao período entre 2000 e 2002, o índice de crescimento anual médio do PIB desse grupo de 50 países, na maioria africanos, além do Haiti e vários asiáticos, foi de 4,9%. O PIB real por habitante cresceu a um ritmo anual de 2,6%, superior à taxa de 1,8% registrada em outros países em desenvolvimento mais avançados.

A melhora foi favorecida por um forte aumento da chegada de capitais em forma de ajudas públicas para o desenvolvimento e investimentos estrangeiros diretos: o fluxo total de recursos passou de 12,4 bilhões em 2000 para cerca de 17 bilhões de dólares em 2002.

Em 2002, as exportações de mercadorias por parte desses países alcançaram um novo recorde, com 37,8 bilhões de dólares frente aos 26,1 bilhões em 1998, o que representa um crescimento de 45% em valor nominal, superior aos 15% para o resto dos países em desenvolvimento, com exceção da China.

No entanto, se a análise fosse feita separadamente e não em bloco, os Países Menos Avançados (PMA) registrariam resultados muito diferentes: em 14 deles, o PIB real per capita superou 3%, enquanto em outros 24 se manteve estável ou caiu.

Por outro lado, embora a entrada de investimento estrangeiro direto tenha alcançado 5,2 bilhões de dólares em 2002, em 87% beneficiou apenas 10 países: Angola, Chade, Sudão, Moçambique, Guiné Equatorial, Uganda, Tanzânia, Zâmbia, Birmânia e Mali.

Os quatro PMA exportadores de petróleo (Angola, Guiné Equatorial, Sudão e Iêmen), assim como o Chade, que está desenvolvendo sua infra-estrutura para exportar o produto, captaram 63% do total desses investimentos.

A ajuda ao desenvolvimento, embora menos concentrada geograficamente que o investimento estrangeiro, foi também repartida desigualmente, e em valor real diminuiu em 13 países e aumentou 20% em outros 16.

Quanto às receitas por exportações, apenas cinco países (os quatro produtores de petróleo e Bangladesh) exportaram 56% do total de mercadorias procedentes do grupo no período entre 2000 e 2002.

Entre 1998 e 2002, enquanto aumentaram de maneira espetacular as exportações do grupo, diminuíram 6% em valor nominal as dos exportadores de produtos agrícolas e até 16,6% as dos exportadores de minerais.

No caso dos países exportadores de produtos manufaturados, as vendas cresceram 43% e até 134,4% no dos exportadores de petróleo. No entanto, o valor nominal das exportações de mercadorias dos 23 PMA diminuiu entre 2000 e 2002.

Apesar do caráter positivo de alguns desses dados, o relatório da Unctad levanta dúvidas sobre a duração da melhora e aponta vários riscos, começando por uma dependência excessiva do financiamento exterior e por uma insuficiente taxa de economia interna.

Outro perigo é o aumento do endividamento exterior do grupo, que passou em 2002 para 145 bilhões de dólares. Quarenta e três PMA aumentaram sua dívida externa devido principalmente aos empréstimos multilaterais concedidos em condições favoráveis, e em 2002 o serviço da dívida chegou ao recorde de 5,1 bilhões de dólares.

Também são fatores de risco a queda de preços e a instabilidade das matérias-primas, que contribuem para 67% das exportações de mercadorias, e a erosão das preferências comerciais quando acabarem as cotas previstas pelo Acordo sobre Têxteis e Confecção, que dão vantagem a suas exportações.

O crescimento também se vê ameaçado pela falta de recursos financeiros para programas de saúde, de manutenção da ordem e de uma administração eficaz e a aids, que atinge os países africanos, por reduzir a expectativa média de vida de 58,7 para 46,1 anos, e os conflitos civis.

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