O presidente dos EUA, Barack Obama, apresentou um plano para conter o crescimento do déficit do país ao longo dos próximos 12 anos e pediu ao Congresso norte-americano que se comprometa “de forma generalizada” com cortes de gastos e aumentos de impostos se a dívida não diminuir até 2014.

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A aprovação do plano de Obama, no entanto, deve enfrentar dificuldades, visto que a maioria dos republicanos é contra aumentos de impostos e os democratas estão resistindo em aceitar cortes nos gastos públicos.

Obama apresentou seu plano durante um discurso feito nesta quarta-feira na Universidade George Washington, próxima à Casa Branca. Ele pediu aos líderes da Câmara e do Senado para designar deputados e senadores que participariam de reuniões em maio com o vice-presidente Biden com o objetivo de “chegar a um acordo sobre a estrutura legislativa de uma redução abrangente no déficit”.

Os EUA devem atingir o teto de endividamento até 16 de maio e as autoridades do Tesouro acreditam que o país pode ser obrigado a declarar o não pagamento de suas dívidas até 8 de julho se esse limite não for expandido.

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Depois de reunirem com Obama para receberem uma prévia do discurso, os líderes do partido republicano deixaram claro que não vão aceitar medidas para elevar a arrecadação federal como parte de um acordo para o orçamento.

“Acho que o presidente nos ouviu claramente”, disse o presidente da Câmara dos Representantes, o deputado republicano John Boehner. “Se vamos resolver nossas diferenças e fazer algo significativo, o aumento de impostos não fará parte disso.” Ele acrescentou, no entanto, que os líderes do partido entendem a urgência de o Congresso aprovar um novo teto de endividamento. “Não cumprir as nossas obrigações, nossas obrigações com dívidas, é uma ideia muito ruim”, disse Boehner.

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Plano

O plano de Obama inclui uma série de aumentos de impostos – particularmente para os mais ricos – e cortes nos gastos com as forças armadas e planos de saúde públicos, entre outros. O objetivo da Casa Branca é reduzir o crescimento do déficit orçamentário em US$ 4 trilhões ao longo dos próximos 12 anos ou menos. Essa redução deve permitir que o governo arrecade o suficiente para cobrir todos os seus gastos, excluindo aqueles relacionados aos juros da dívida.

Obama pediu também a eliminação de uma série de isenções fiscais, algo que corresponderia a US$ 1 trilhão dos US$ 4 trilhões previstos no plano de redução do déficit. O restante da redução viria de uma combinação de cortes nos gastos e de redução na quantidade de juros que os EUA pagam sobre a própria dívida.

Atualmente, o país possui US$ 14,2 trilhões em dívidas, enquanto o déficit orçamentário deve ficar entre US$ 1,5 trilhão e US$ 1,65 trilhão em 2011. O aumento crescente nos gastos com saúde, o envelhecimento da população nascida na época do chamado “baby boom” e os encargos da dívida devem tornar o país ainda mais instável do ponto de vista fiscal nos próximos anos. Membros dos partidos Democrata e Republicano descrevem o cenário atual como insustentável.

Na semana passada, os republicanos da Câmara dos Representantes apresentaram um plano para reduzir o nível de endividamento do país, que consistia em uma série de cortes nos gastos públicos e incluía reformas em programas de saúde federais, como o Medicare e o Medicaid.

Polêmica

No plano apresentado por Obama, a proposta que deve gerar mais polêmica consiste em um mecanismo legislativo que permitiria a adoção automática de cortes de gastos e aumentos de impostos se até 2014 as projeções orçamentárias mostrarem que a relação dívida/PIB não se estabilizou e começou a cair. Programas de previdência social e de saúde seriam poupados dos cortes nos gastos até mesmo nesse cenário, de acordo com a proposta do presidente dos EUA.

Um grupo bipartidário do Senado, conhecido como “grupo dos seis”, está trabalhando em uma proposta própria para reduzir o orçamento com mecanismos semelhantes ao citado acima. Eles também têm como meta reduzir o nível de expansão do déficit em US$ 4 trilhões ao longo dos próximos anos. É possível que a Casa Branca tente alinhar sua proposta com o plano bipartidário.

Durante seu discurso hoje, Obama também apresentou o que ele classificou como diferenças entre a visão republicana e a democrata do governo, algo que deve pautar o debate nas eleições de 2012. O presidente norte-americano comparou as diferenças entre o plano da Casa Branca e o elaborado pelos republicanos no que diz respeito a programas sociais.

Segundo Obama, a proposta republicana para programas de saúde, como o Medicaid e o Medicare, teria um impacto adverso sobre os cidadãos mais necessitados e aumentaria o custo de vida da população mais velha.

O líder da minoria no Senado, o republicano Mitch McConnell, disse que há senadores de ambos os partidos que são contrários a elevar o teto de endividamento, “exceto que haja mudanças significativas em relação ao orçamento”.

Democratas liberais temem que Obama e outros líderes democratas estejam cedendo com muita facilidade à premissa básica dos republicanos, de que qualquer aumento no teto de endividamento deveria estar atrelado a amplas reformas no orçamento ou a cortes nos gastos públicos. As informações são da Dow Jones.