O duro sacrifício dos desempregados

Cláudia Oliveira defendeu sua tese de doutorado em História Social na semana passada para se tornar mais uma doutora desempregada. A crise do emprego, que atinge 13% da força de trabalho, de acordo com a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, já não poupa nem os profissionais altamente qualificados, com títulos de pós-graduação obtidos inclusive fora do Brasil. Pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2002, havia 215 mil desempregados com 15 anos de estudo ou mais no Brasil. Uma alta de 5,36% em relação ao ano anterior.

Rio (AG) ? “O País investiu oito anos em mim, inclusive custeando meus estudos na Inglaterra, e, agora, não terei bolsa para continuar a desenvolver minhas pesquisas”, reclama Cláudia, que mandou currículo para seis universidades particulares, sem sucesso.

Na semana passada, os recém-doutorados cobraram do governo uma solução para a falta de mercado de trabalho num seminário no Rio promovido pela Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC). Mas o secretário de Política de Informática e Tecnologia do Ministério de Ciência e Tecnologia, Francelino Grando, não conseguiu explicar aos doutores o corte nas bolsas para pesquisa, que vão de mil reais a R$ 2 mil:

“Teremos R$ 120 milhões para pesquisa este ano”, limitou-se a dizer.

São formados anualmente 31 mil mestres e doutores no Brasil. Mas as universidades públicas, tradicionais campos para os supergraduados, fecharam as portas das salas de aula e dos laboratórios para os doutores, devido ao enxugamento da máquina estatal:

“E só há procura na iniciativa privada de profissionais voltados para tecnologia de ponta. As pesquisas de emprego mostram uma queda dos salários quando se ultrapassa o nível da pós-graduação”, afirma Lauro Ramos, do Ipea.

A importância da academia pública fica clara nos números da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), ligada ao governo. A Capes financia os estudos de 24 mil mestrandos e doutorandos dos 105 mil estudantes nesse nível de graduação. Cerca de 80% estão na academia, com exceção dos profissionais médicos e de administração e dos advogados (destes, 70% vão para o setor produtivo).

Além do encolhimento do Estado, o empresariado brasileiro pouco investe em pesquisa e tecnologia, revelou levantamento feito pelo IBGE sobre inovação tecnológica. Somente 31,6% das indústrias fizeram algum tipo de inovação. Destas, apenas 16% investem em pesquisa e desenvolvimento:

“É preciso criar uma cultura no empresariado para contratar doutores e investir em pesquisa”, afirma Luiz Carlos Scavarda do Carmo, coordenador de projetos de desenvolvimento da PUC.

As incubadoras das universidades são um caminho. Segundo Maurício Guedes, da incubadora da UFRJ, as empresas criadas absorveram 400 pessoas, cem delas pós-graduadas.

Há outro entrave à expansão deste mercado. Adalberto Cardoso, sociólogo do Iuperj, alerta que o Conselho Nacional de Educação não exige mais que, para se tornar universidade, a instituição tenha, pelo menos, um curso de pós-graduação reconhecido pela Capes.

“Hoje, basta ter um centro de pesquisa, o que não dá garantia de qualidade, com a presença de mestres e doutores”, diz Adalberto.

Mesmo com as dificuldades que surgem no caminho desses profissionais, o desemprego atinge apenas 3,5% dos trabalhadores com 15 anos de estudo ou mais, contra a média nacional de 9,1%, de acordo com a Pnad/2002.

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