Nova meta de superávit deve ficar fora do acordo

São Paulo – Se depender da iniciativa do governo, a elevação da meta de superávit primário para 4,25 por cento do PIB poderá ficar de fora do acordo com o Fundo Monetário Internacional. O ministro da Fazenda, Antônio Palocci, afirmou ontem que não pretende sugerir ao Fundo alterações nos termos do acordo, que passará por sua segunda revisão a partir de hoje, quando técnicos da instituição chegam a Brasília para reuniões com representantes do governo.

“(Alteramos a meta) não por exigência do contrato com o Fundo, portanto eu não tenho nada a mudar no contrato com o Fundo”, afirmou Palocci a jornalistas. “Vamos ver se o Fundo pede isso (ajuste da meta fiscal), não me parece ser o caso de eu fazê-lo.”

Na última semana, o governo anunciou uma elevação da meta de superávit primário de 3,75 para 4,25 por cento do PIB, em um esforço para manter a dívida pública em níveis considerados administráveis.

O acordo com o FMI, que garantiu um financiamento de 30 bilhões de dólares ao país, prevê que o país alcance superávits fiscais correspondentes a 3,75 por cento do PIB em março, junho e setembro deste ano.

A liberação das novas parcelas do empréstimo é condicionada ao cumprimento das metas fiscais acordadas.

Inflação

A inflação é o tema de maior preocupação da equipe do Fundo Monetário Internacional (FMI) que está no Brasil para a segunda revisão do acordo com o governo brasileiro. A informação é de representantes de instituições financeiras que estiveram reunidos com a equipe do FMI em São Paulo anteontem e ontem. As discussões sobre a natureza do processo inflacionário e as expectativas dos agentes financeiros sobre a política monetária do Banco Central tomaram a maior parte das reuniões que a equipe chefiada pelo economista Jorge Marquez Ruarte teve com economistas e representantes de bancos.

A deterioração das expectativas do mercado em relação ao comportamento da inflação, apesar dos sucessivos aumentos na Selic desde outubro, também foi alvo de interesse da missão do FMI. As expectativas sobre as possíveis reações do governo e do BC diante de uma guerra no Iraque, que deve afetar o câmbio doméstico e os preços do petróleo, também foram analisadas.

A equipe do FMI também demonstrou interesse pelo impacto político da nova meta fiscal e das demais medidas de política econômica que o governo Lula vem adotando, especialmente sobre a chamada ala radical do PT e dos outros partidos da base governista.

Outro alvo de atenção ligado à questão política foi a velocidade das reformas constitucionais que o novo governo se propôs a fazer, com destaque para a Previdência e a reforma tributária. Ouviram dos bancos que o risco de tais reformas não ocorrerem é muito pequeno, mas que dificilmente o governo conseguirá aprová-las rapidamente como tem anunciado.

Saldo comercial

Nas reuniões privadas com representantes do setor financeiro e economistas, a missão do FMI demonstrou ainda tranquilidade com o balanço de pagamentos, tendo como principal base para esse otimismo o bom desempenho da balança comercial nestes últimos meses. Uma das poucas preocupações do Fundo nessa área está na conta de capitais, relacionada às rolagens da dívida externa em um ambiente de grande aversão ao risco em nível global – e aí ganha importância a utilização ou não dos US$ 30 bilhões oferecidos pelo Fundo no último acordo firmado com o governo, em setembro (US$ 6 bilhões já foram sacados).

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