Dança das cadeiras

Nelson Barbosa vai substituir Joaquim Levy no Ministério da Fazenda

A presidente Dilma convidou o atual ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, para assumir o lugar de Joaquim Levy à frente do Ministério da Fazenda. O ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Valdir Simão, será o novo ministro do Planejamento no lugar de Barbosa. 

As notícias sobre a saída do ministro ganharam força nos últimos dias, turbinadas pela decisão do governo de buscar uma meta de superávit primário para 2016 que previsse abatimentos que poderiam, na prática, anular o esforço fiscal – estratégia que não contava com o aval de Levy.

Na quinta-feira (17), no fim da reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), o ministro da Fazenda surpreendeu os presentes. Disse que talvez não estivesse no próximo encontro do colegiado, agradeceu pelo trabalho realizado ao longo de 2015 e desejou boas festas. O gesto foi visto com um sinal claro de que Levy deixaria o cargo em breve.

Na manhã desta sexta, Levy admitiu conversas com a presidente Dilma Rousseff sobre sua saída do governo, mas deu muitas respostas evasivas sobre o assunto e em nenhum momento foi direto sobre sua permanência no cargo, mesmo após intensos ruídos de que estaria deixando a pasta.

Em uma mensagem de fim de ano enviada a jornalistas durante a tarde, o ministro fez uma crítica à atuação do país no esforço fiscal, ao mesmo tempo que afirma ter feito sua parte no ajuste que propôs. Na nota, o ministro não afirmou que estava deixando o cargo.

Ao longo do ano, medidas de aperto fiscal propostas por Levy acabaram modificadas e abrandadas pelo Congresso Nacional. “Em alguma medida, a falta de maior sinalização de disposição mais imediata de esforço fiscal por parte do Estado brasileiro também piorou as expectativas dos agentes econômicos, inibindo decisões de investimento e consumo, com reflexos negativos no nível da atividade econômica e na geração de empregos, que poderão se estender por 2016”, disse o ministro.

“Eu e minha equipe fizemos o que foi proposto em janeiro, pelo menos naquilo que dependia de nós”, afirmou Levy, ponderando que foi possível avançar em parceria com outros órgãos do governo e especialmente com o Congresso. “O tempo saberá mostrar os resultados que se colherão de tudo que foi feito até agora”, escreveu na nota.

Levy disse ainda que chega ao fim de 2015 preocupado com a situação do país, mas mantém confiança na capacidade de recuperação da economia.

Troca

Antes de assumir o Planejamento no fim do ano passado, Nelson Barbosa foi secretário executivo do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. Barbosa já havia trabalhado no governo de 2003 a 2013, sempre assessorando Mantega, primeiro no Ministério do Planejamento e, depois, na Fazenda, onde assumiu a secretaria executiva em 2011.

Além de Barbosa, os ministros Jacques Wagner (Casa Civil) e Armando Monteiro (Desenvolvimento) também estavam sendo cotados para assumir a Fazenda no lugar de Levy. Outro nome que chegou a ser citado nesta sexta-feira foi do ex-ministro da Integração Nacional Ciro Gomes (PDT-CE), que foi ministro da Fazenda durante o governo do ex-presidente Itamar Franco, na década de 1990.

Último Ministro da Fazenda a cair no primeiro ano foi Ricupero, em 94

Há 21 anos, ex-ministro deixou o cargo após conversa informal com jornalista vazar, no chamado escândalo da parabólica

Desde 1994, quando o escândalo da parabólica levou o então ministro da Fazenda Rubens Ricupero a deixar o cargo depois de apenas seis meses de gestão no governo de Itamar Franco, o Brasil não tinha uma troca de comando nesta pasta em menos de um ano. Vinte e um anos depois, nesta sexta-feira, após 11 meses frente ao ministério, o nome de Nelson Barbosa será anunciado em substituição a Joaquim Levy.

Em 1994,, Ricupero, que era chamado de “o sacerdote do Plano Real” pelo ex-presidente Itamar Franco, por ir semanalmente à TV tirar dúvidas da população sobre a nova moeda, foi levado a pedir demissão, em setembro, após o chamado escândalo da parabólica.

Renunciou assim que se soube do vazamento, via satélite, de uma conversa informal sua com o jornalista da Rede Globo Carlos Monforte, no qual revelava detalhes sobre o Plano Real, e comentava sobre economia brasileira, inflação, o IBGE, Petrobras e a possível eleição de Fernando Henrique Cardoso. Na ocasião, ele foi substituido por Ciro Gomes.