Brasília (AG) – Uma missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) chega hoje ao Brasil para fazer a nona e penúltima revisão do acordo de ajuda financeira de US$ 14,8 bilhões da instituição ao País. Os técnicos vão desembarcar em São Paulo e, até o fim da semana, chegam a Brasília para encontros com representantes do governo. Se aprovada, a revisão dará ao País o direito de sacar mais uma parcela de US$ 1,3 bilhão.
Entre os dados que serão apresentados ao FMI pelo governo estão aqueles que têm metas previstas no acordo. O País já conseguiu, por exemplo, cumprir a meta de superávit primário para o setor público consolidado até setembro: R$ 56,9 bilhões. Nos nove primeiros meses do ano, o superávit primário acumulado foi de R$ 69,7 bilhões. A meta do acordo para o ano todo é de R$ 71,5 bilhões.
A dívida do setor público consolidado somou R$ 940,5 bilhões – 53,7% do Produto Interno Bruto (PIB) – até setembro. A meta no acordo com o FMI era de R$ 1,034 trilhão nos nove primeiros meses do ano. Para 2004, a meta é de R$ 1,052 trilhão.
Inicialmente, o acordo do Brasil com o FMI deveria acabar no fim de 2003, mas o governo e a instituição decidiram prorrogá-lo por mais 15 meses. Segundo o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, a idéia do governo foi renovar o programa de forma preventiva e sem o objetivo de sacar o dinheiro. “A extensão proposta visa a prover um seguro contra o impacto de uma eventual deterioração do cenário internacional”, afirma a carta de intenções do governo brasileiro sobre a renovação do acordo.
Até agora, o País não sacou qualquer das parcelas a que teve direito durante as revisões feitas em 2004. Juntas, elas somam US$ 5,2 bilhões. Palocci já afirmou que a intenção do governo é não renovar o acordo com o Fundo, mas isso ainda não foi formalizado.
A retirada de recursos para investimentos em infra-estrutura do cálculo da meta de superávit primário (receitas acima das despesas do governo, antes do pagamento dos juros da dívida) também é um dos temas que vêm sendo discutidos pelo Brasil com o FMI. Mas, segundo técnicos do governo, o assunto só deve ser tratado no fim do ano, com outra equipe do Fundo.
O País já faz parte de um projeto-piloto do FMI que está avaliando a possibilidade de fazer as mudanças defendidas pelo governo brasileiro no cálculo da meta de superávit primário. O projeto inclui retirar da contabilização investimentos em obras selecionadas, que sejam sustentáveis e de retorno financeiro garantido e rápido. As áreas prioritárias são transporte, saneamento e energia, consideradas essenciais para a manutenção do crescimento econômico.
Os técnicos da instituição devem ter encontros no Banco Central e nos ministérios da Fazenda, do Desenvolvimento, do Planejamento e da Previdência. Eles também costumam visitar os ministérios setoriais, entre os quais os de Minas e Energia, Transportes e das Cidades.
Escalada do petróleo não influencia
São Paulo (AE) – A desaceleração do ritmo de crescimento da economia brasileira está dada e independe da escalada do preço do barril de petróleo no mercado internacional segundo o professor de Economia Paulo Picchetti, da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Há uma linha de economistas que defendem a tese de que o aumento do preço do petróleo arrefecerá o ritmo de desenvolvimento mundial e, por conseqüência, o brasileiro, o que trará um certo alívio para a condução da política monetária.
Para Pichetti, o Produto Interno Bruto (PIB) do País não manterá as mesmas taxas de crescimento que mostrava até agora por causa, em primeiro lugar, da base de comparação, que foi melhorada. “Se lembrarmos bem, a recuperação da economia começou em setembro do ano passado”, diz, destacando que, daqui para a frente, o comportamento da atividade passa a ser comparada com uma base mais forte.
Outro ponto que contribuirá para que a taxa de desenvolvimento econômico se desacelere é a falta de vigor das exportações para continuar crescendo na mesma velocidade que mostrava no decorrer do ano. Para ele, a desaceleração do ritmo das exportações deverá mostrar-se de forma generalizada, uma vez que falta até mesmo contêineres e espaço nos portos.
Dólar a R$ 2,85 não afeta exportações no trimestre
São Paulo (AE) – A cotação do dólar na faixa de R$ 2,85 não afeta e não deverá causar dificuldades para as exportações neste trimestre. De acordo com o diretor de Comércio Exterior do Banco do Brasil (BB), José Maria Rabelo, o câmbio não reduziu os Adiantamentos sobre Contratos de Câmbio (ACCs) e Cambiais Entregues (ACEs) realizados pela instituição. “Não há oscilações nesses dois produtos. As empresas já precificaram que o patamar atual é adequado para seus negócios e que o câmbio deve ficar por aí mesmo”, afirma.
De janeiro a setembro, o BB concedeu US$ 6,65 bilhões em ACCs e ACEs, o equivalente a 32% desse mercado. Para o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto Castro, as exportações de outubro a dezembro – segundo ele, responsáveis por cerca de 25% do total vendido pelo País no ano – não são alteradas pelo câmbio atual porque os contratos foram realizados há alguns meses, quando a cotação estava mais elevada.
“A preocupação fica mais para as exportações em 2005, quando há a expectativa de redução das vendas externas”, afirma. “Isso deverá ocorrer, especialmente, por causa da tendência de desaceleração dos Estados Unidos e da China, além da queda dos preços de commodities agrícolas, como a soja.” De acordo com Castro, a cotação do grão em 2005 ficará bem abaixo dos níveis registrados em 2004, sobretudo por causa do recorde da safra norte-americana e da expectativa de produção bem alta no Brasil e Argentina.
Na avaliação de Castro, o Brasil deverá fechar o ano com um superávit comercial de US$ 34 bilhões, provocado por exportações de US$ 95 bilhões e importações de US$ 61 bilhões. Para 2005, o vice-presidente da AEB estima que as vendas externas ficarão estáveis, ao redor de US$ 95 bilhões, com importações próximas a US$ 65 bilhões. “Como o próximo ano será mais difícil para os produtos brasileiros no exterior, o saldo positivo não deverá passar do teto de US$ 30 bilhões”, afirma.
Para Castro, este superávit deverá ser alcançado com mais facilidade se o câmbio médio ficar em R$ 3,00 em 2005. Mas, mesmo que a cotação média fique mais próxima de R$ 2,90 em 2005, o vice-presidente da AEB não acredita que o resultado final deverá ser alterado. “O exportador, sobretudo de produtos manufaturados, fará um esforço para compensar a eventual menor rentabilidade com maior quantidade de mercadorias vendidas”, afirma, ressaltando que muitas empresas exportadoras não querem perder clientes que levaram anos para conquistar.
“Quem vai para fora não volta. Muitas companhias perceberam que é importante estar presente no mercado externo, pois é uma oportunidade boa de vendas, dado que a demanda do mercado interno nem sempre está bem.”


