Metas de Lula serão conservadoras e ousadas

O projeto do governo Lula de combinar o conservadorismo macroeconômico à ousadia nos gastos sociais, na opinião dos economistas brasileiros, não embute contradições. Ao contrário, é muito bem recebido, porque sugere o compromisso da nova equipe econômica com variáveis fundamentais, inclusive, para o sucesso de investimentos sociais. Entusiasmado, o economista Luiz Roberto Cunha, professor da PUC-Rio, diz que o discurso dos ministros recém-empossados deixa claro que o governo petista planeja adotar novas idéias na área social, sem esquecer da racionalidade macroeconômica.

? Sem estabilidade não é possível fazer nada. O que o novo governo tem de fazer na área social é mudar o perfil do gasto, que beneficia principalmente os 20% mais ricos da população. Dos alunos das universidades públicas, 90% vêm de escolas particulares. Ou seja, a sociedade financia gente que não precisa de ajuda ? completa o economista José Márcio Camargo, da PUC-Rio.

Armando Castelar Pinheiro, chefe do Departamento Econômico do BNDES, afirma que qualquer programa que ponha em risco a estabilidade macroeconômica é, antes de tudo, anti-social. Ele lembra que, durante a campanha eleitoral, todos os candidatos se reuniram com Fernando Henrique Cardoso e se comprometeram a cumprir o acordo com o FMI:

? Não há nenhum feito que tenha beneficiado mais os pobres do que o fim da inflação. As pessoas estão cientes do valor da estabilidade.

Mesmo quem sempre se destacou como crítico do modelo econômico do governo anterior enxerga os méritos da preocupação do governo petista com a austeridade fiscal e o controle dos preços. Lauro Vieira de Faria, economista do Ibre-FGV, diz que a administração pública, hoje, não tem espaço para aumentar os gastos sociais nem via emissão de moeda nem pelo aumento do endividamento. Primeiro pelo risco de descontrole da inflação, depois porque a dívida pública já é alta demais.

Faria compara as primeiras ações do governo Lula ao começo da gestão do primeiro-ministro da Inglaterra, Tony Blair, em 1997. Os ingleses abraçaram o Trabalhismo depois de serem governados pelo Partido Conservador por duas décadas. Tal como no governo petista, a desconfiança dos investidores em relação à condução da política econômica era do tamanho da expectativa da população pelo investimento social.

? Tão logo assumiu, Blair anunciou uma postura macroeconômica conservadora, mas desenvolveu ações sociais interessantes. O novo governo parece estar se pautando no Trabalhismo inglês ? compara.

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