Mercado instável reflete descontentamento com BC

O dólar comercial desacelerou sua alta no final dos negócios, mas, apesar disso, fechou no maior valor do ano pelo segundo dia consecutivo. A moeda norte-americana encerrou o dia cotada para venda por R$ 2,529 (compra a R$ 2,527) pela taxa do Banco Central, uma leve alta de 0,12%. Uma hora e meia antes do fechamento, a moeda norte-americana era vendida por R$ 2,545. Na maior parte do dia, o dólar rondou a cotação de R$ 2,54, como chegou a acontecer pela manhã, ao passo em que a taxa de risco do Brasil disparou e atingiu marca superior a 1.000 pontos.

Às 16h15, a taxa de risco medida pelo índice EMBI, do banco JP Morgan, reduziu a alta e passou para 985 pontos básicos, 1,76% acima do fechamento de ontem (968 pontos, segundo a agência Reuters). Os 985 pontos, no entanto, são a maior marca desde o dia 14 de novembro. O recuo foi atribuido por alguns analistas ao resultado das contas públicas divulgado ontem, francamente favorável ao governo.

O diretor de tesouraria do Banco Fator, Sérgio Machado, afirmou que o dólar e o risco-país sobem por pressão com a manutenção da política “muito ortodoxa” do Banco Central, que anteontem decidiu manter a taxa básica de juros em 18,5% ao ano.

“Essa política muito ortodoxa do BC gera um desconforto. Sinaliza que vai ter que ter uma situação totalmente perfeita para baixar a taxa de juros. Com isso, começa a haver cansaço do mercado. Começa a haver descrédito”, afirmou Machado.

A moeda americana chegou a ser vendida a RS 2,542 às 10h30, em 0,80% de alta, mas a alta foi desacelerada após a divulgação dos resultados do balanço de pagamentos. O déficit em conta corrente do Brasil caiu para US$ 19,380 bilhões nos 12 meses encerrados em abril deste ano, contra US$ 19,775 bilhões no período anterior. Na prática, o déficit passou de 3,88% do Produto Interno Bruto para 3,79% do PIB.

O dólar já havia fechado anteontem no valor mais alto do ano, vendido por R$ 2,526. Também anteontem, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central do Brasil decidiu manter a taxa básica de juros do País (Selic) em 18,5% ao ano, para a frustração de alguns setores do mercado, que esperavam rebaixamento da taxa.

Risco-país

A taxa de risco do Brasil não atingia os 1.000 pontos desde novembro do ano passado. O risco-país é medido pelo EMBI (Emerging Markets Bonds Index), índice calculado pelo banco JP Morgan com base nos valores dos títulos das dívidas dos países emergentes. A taxa de risco é o principal termômetro para medir a desconfiança dos investidores externos no país.

Contas públicas

O governo central – Tesouro Nacional, Banco Central e Seguridade Social – acumula um superávit primário de 16,263 bilhões de reais (cerca de 6,4 bilhões de dólares) até abril, o equivalente a 4,01% do Produto Interno Bruto (PIB), informou o Tesouro.

O resultado é claramente superior à meta fixada para o primeiro quadrimestre na Lei de Diretrizes Orçamentárias de 13,9 bilhões de reais (5,515 bilhões de dólares) para pagar os juros da dívida e ao registrado no mesmo período do ano passado, quando chegava a 3,6% do PIB.

Esses números refletem o resultado do Tesouro Nacional, que registrou superávit de 20,730 bilhões de reais, embora Seguridade Social e Banco Central tenham apresentado novos números vermelhos: 4,276 bilhões e 190,5 milhões de reais, respectivamente.

O superávit primário é a receita arrecadada menos os gastos, sem incluir o pagamento dos juros da dívida.

Estrangeiros estão investindo menos

Brasília (AE) – O Banco Central prevê investimentos diretos estrangeiros em maio entre US$ 1,2 bilhão e US$ 1,4 bilhão, o que deverá ser insuficiente para cobrir o déficit em conta corrente estimado para o mês, em torno de US$ 2 bilhões, informou ontem o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. “No mês de maio, não se espera cobertura do déficit em conta corrente (pelo investimento direto)”, disse Lopes, acrescentando que espera que o déficit atinja US$ 2 bilhões “ou um pouco abaixo” em maio. Até agora, os investimentos diretos somam US$ 800 milhões.

O fluxo de recursos estrangeiros para o País foi afetado pela recomendação feita por bancos estrangeiros para redução de investimentos relacionados ao Brasil em razão das análises pessimistas da economia. A expectativa do chefe do Departamento Econômico do Banco Central (Depec), Altamir Lopes, é de que o fechamento do mês fique em torno de US$ 1,2 bilhão, o que re-presentará uma queda de 40% em comparação com os US$ 2 bilhões registrados em maio do ano passado.

Esse valor será insuficiente para cobrir o déficit nas transações correntes (a diferença entre os recursos em moeda estrangeira que entram e saem do país) em maio, que, segundo estimativas do BC, deverá ficar em US$ 2 bilhões. Mas, no acumulado dos cinco primeiros meses do ano, o saldo ainda será positivo: o déficit das contas externas, estimado para o período em US$ 7,2 bilhões, deverá ser coberto com folga por investimentos diretos de US$ 7,8 bilhões.

Em abril, o déficit em conta corrente foi de US$ 1,983 bilhão, o melhor resultado desde abril de 1996 e os investimentos diretos somaram US$ 1,964 bilhão. No acumulado de 12 meses, o déficit está em US$ 19,380 bilhões, o menor valor desde outubro de 1996 e equivalente a 3,79% do Produto Interno Bruto (PIB).

A queda no fluxo de investimentos para o Brasil, segundo Lopes, “é reflexo da volatilidade verificada no mercado nas últimas semanas”. A estimativa do BC é de que o déficit em transações correntes termine 2002 em US$ 20,703 bilhões, enquanto os investimentos diretos deverão se manter na projeção inicial de US$ 18 bilhões. Até agora, no acumulado do ano, os investimentos estrangeiros diretos superam em US$ 1,447 bilhão o saldo acumulado do déficit em transações correntes no período. Apesar da redução no fluxo de ingresso, Lopes garante que os investimentos estrangeiros continuam ingressando no País “dentro da normalidade esperada”.

Segundo o chefe do Depec, essas oscilações de curto prazo afetam especificamente o pequeno investidor. “O grande investidor projeta seus investimentos com muito mais antecedência e está menos sujeito às variações conjunturais. Já o pequeno é mais sensível aos movimentos de mercado”, afirmou. Ele destacou ainda que o investimento no País está muito diversificado. Cerca de 40% do total de investimento estrangeiro corresponde a operações até US$ 10 milhões. Esses investidores, portanto, tendem a se retrair diante de turbulências no mercado.

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