Mercado cogita mudanças do Conselho Monetário Nacional

Rio – A dois meses da reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) que vai ratificar ? ou mudar ? as metas para inflação dos próximos anos, crescem as pressões para que o governo estabeleça objetivos menos rigorosos, abrindo espaço para uma queda mais rápida dos juros e um maior crescimento econômico. O próprio Banco Central (BC), no seu último relatório trimestral de inflação, concluído semana passada, afirma que, no cenário atual, para cumprir a meta central deste e do próximo ano, será preciso manter os juros básicos nos atuais 16,25% ao ano até dezembro de 2005.

Pelos cálculos do BC, a esse patamar de juros, a inflação ficaria em 4,2% no ano que vem, ou seja, próximo da meta fixada até agora, de 4,5%. O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), já sugeriu que, no ano que vem e no próximo, a meta seja mantida em 5,5%, igual a deste ano. A princípio, a meta para 2006 é de 4%, a ser confirmada pelo CMN.

Os analistas afirmam que frente às características do sistema de preços no Brasil ? com itens de peso indexados, como as tarifas públicas ? o combate à inflação deveria ser mais gradual. E acrescentam que outros países levaram até mais de uma década para baixar a meta de inflação ao patamar desejado.

? A inflação brasileira tem um componente de inércia muito forte, que é a indexação dos preços administrados. Isso inviabiliza um ajuste grande de um ano para outro ? afirma Carlos Thadeu Filho, que acaba de defender, numa tese de mestrado no Ibmec, a adoção do núcleo de inflação como referência para as metas.

Ele sugere objetivos mais flexíveis para os próximos anos:

? No ano que vem, a meta poderia ser algo em torno de 5,5% e, em 2006, 5%.

Salomão Quadros, economista da Fundação Getúlio Vargas, lembra que o Chile demorou 11 anos para reduzir suas metas de inflação ao patamar atual, entre 1% e 3% ao ano:

? Outros países que adotaram o regime começaram com metas pouco ambiciosas em relação às nossas. É preciso discutir o sistema no Brasil.

Francisco Eduardo Pires de Souza, professor da UFRJ, defende que as metas sejam reduzidas mais lentamente:

? Tentar ir muito rápido para taxas de inflação muito baixas cria uma armadilha de juros altos que freiam o crescimento e aumentam a dívida pública. Já estamos num nível de inflação baixo, que não é problemático, que não gera indexação.

Os economistas também acreditam que, este ano, o BC deveria praticar suas taxas de juros mirando não mais no centro da meta ? 5,5% ? e sim num patamar um pouco acima, mas ainda dentro da margem de tolerância, que chega a 8%. Para Carlos Thadeu Filho, a alta das commodities, o aumento dos preços agrícolas e a pressão da Cofins foram claramente choques de custos, ou seja, aumentos que ocorreram sem influência da demanda dos consumidores, que continua fraca.

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