Meirelles diz que país terá desaceleração em 2009

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou nesta sexta-feira (7) que não há dúvidas de que haverá certa desaceleração da economia brasileira em 2009. De acordo com suas perspectivas, essa redução do ritmo, no entanto, não será tão acentuada quanto a que será verificada em outros países. “De qualquer forma, a taxa de crescimento do Brasil será maior que a prevista pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) para o mundo”, comparou. Durante evento do mercado publicitário na Amcham, em São Paulo, Meirelles lembrou que a projeção do Fundo para o próximo ano é de um crescimento de 2,2% para o mundo – para este ano, a previsão é de 3,7%.

Meirelles lembrou que o crescimento da economia vem sendo impulsionado pelos investimentos e consumo das famílias, mas destacou que outros canais também são importantes, como o do crédito e da corrente de comércio. Durante discurso, o presidente do BC salientou que as exportações brasileiras hoje estão mais diversificadas, mas ponderou que cada vez mais elas representam uma participação menor no Produto Interno Bruto (PIB). “Em um momento de crise, isso é uma vantagem”, acrescentou.

O presidente do BC ressaltou que a expansão do País em 12 meses até junho foi de 6,1%, e enfatizou que os indicadores antecedentes mostram que o terceiro trimestre ainda terá um resultado bastante forte para a economia. “A questão é o canal de crédito, que até então vinha apresentando crescimento substancial”, reforçou.

Crédito

Os dados do mercado de crédito relativos à última semana de outubro ainda são inferiores aos de igual período de setembro, adiantou Meirelles, sem, no entanto, apresentar os números dos períodos. “Nossa avaliação é a de que o mercado de crédito ainda não voltará à normalidade em outubro, mas, de qualquer maneira, posso adiantar que há uma recuperação no correr do mês”, disse durante rápida entrevista coletiva à imprensa após o evento na Amcham.

Meirelles ressaltou, entretanto, que essa recuperação no mercado de crédito ocorre com todos os agentes ao mesmo tempo. Ele lembrou a máxima entre os economistas de que usar a média de indicadores de um mercado nem sempre corresponde à realidade porque, muitas vezes, a cabeça pode estar na geladeira e o pé no forno, o que daria uma média de temperatura amena. “No nosso caso, a situação é menos grave, pois a cabeça está no sol e o pé no ar-condicionado”, disse, ainda durante sua palestra.

Ele ressaltou também os objetivos do BC para elevar a liquidez no mercado, que piorou com o agravamento da crise internacional: provisão de liquidez para bancos pequenos e médios, inclusive os de montadoras; destravamento do crédito interbancário e para a sociedade em geral; e o mecanismo de redesconto (linha de crédito do BC para bancos). Meirelles destacou que esse terceiro item está no Congresso para análise e votação e pressupõe que o BC possa fazer operações de redesconto caso julgue necessário. “Até hoje, isso não foi necessário, mas o mecanismo é importante pois é um ponto a mais de segurança”, argumentou.

Derivativos

O presidente do BC afirmou ainda que os maiores contratos de derivativos cambiais assumidos pelas empresas brasileiras já foram liquidados. Esses instrumentos financeiros fizeram com que grandes corporações do País, em especial empresas voltadas à exportação, registrassem vultosas perdas em seus balanços quando o dólar passou a registrar alta ante o real, nos últimos meses. Isso porque os contratos foram firmados com base na aposta, por parte das companhias, de que o dólar continuaria a se depreciar no mercado cambial brasileiro. “O problema está quase voltando à normalidade”, afirmou Meirelles.