O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, adotou uma postura política ao comentar sobre a notícia veiculada neste sábado, 8, de que o seu antecessor na pasta, Guido Mantega, teria criado uma espécie de central de venda de informações para o setor financeiro. “Eu li nos jornais, como vocês leram”, disse a jornalistas em Hamburgo, após participar da cúpula de líderes do grupo das 20 economias mais ricas do mundo, o G-20. “Temos que ver, primeiro, se isso acontecia de fato”, disse.

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A notícia publicada pelo jornal Folha de S.Paulo diz que, nas negociações para fechar um acordo de colaboração premiada, o ex-ministro Antonio Palocci sustenta que Mantega montou o esquema durante os governos petistas. Meirelles foi presidente do Banco Central em todo o governo de Lula, de 2003 a 2010. “Caso seja provado (o esquema), não há dúvidas de que choca”, afirmou. Meirelles também defendeu que pessoas que cometam esse tipo de ato devam ser punidas.

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Um dos pontos da reportagem diz que uma das informações passadas pelo ex-ministro ao mercado era sobre o rumo dos juros, decisão que, em princípio, deveria ser circunscrita ao Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Houve, em alguns momentos na gestão da presidente Dilma Rousseff, a desconfiança por parte do mercado financeiro de que o Palácio do Planalto interferia nas decisões. “Também estranhei esse ponto, não sei do que se trata exatamente”, comentou Meirelles.

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Santander e Temer

Meirelles se limitou a dizer que a divulgação de ideias é livre no País, quando questionado sobre a avaliação feita pelo Banco Santander na sexta-feira, 7, de que uma mudança de presidente no Brasil poderia até impactar positivamente a atividade econômica em 2017 e 2018.

“Vivemos numa democracia, todos têm liberdade de opinião e expressão”, comentou a jornalistas, após participar do encerramento da cúpula de líderes do G-20. “Não me cabe fazer colocações de ordem política”, acrescentou.

De acordo com o economista-chefe do banco espanhol no Brasil, Maurício Molon, o mercado e a instituição apostam em um candidato reformista para as eleições do ano que vem. Para ele, se o País passar por essa transição e tiver um governo com apoio ainda maior, o resultado poderia ser positivo para o mercado e para a recuperação da economia.

O governo de Michel Temer, que vem passando por sucessivas crises políticas, sofreu mais um revés quando saiu do Brasil para participar do evento do G-20. A base aliada se esfarelou ainda mais depois que o presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), disse que o País “caminha para a ingovernabilidade” na gestão Temer e que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), poderia ser o seu sucessor.

Aço

Ponto de maior discussão durante a reunião de cúpula do G-20, um confronto comercial envolvendo o aço é uma questão que preocupa o governo brasileiro. “Não há dúvidas”, disse Meirelles. Na sexta, uma fonte do governo disse que o Brasil poderia ser “vítima de uma bala perdida” no meio dessa história.

O embate está localizado entre as duas maiores potências econômicas do mundo, os Estados Unidos e a China. O Brasil pode sofrer consequências por ser o segundo maior exportador do produto para os norte-americanos. “Não há dúvida de que existe um problema concreto, que é o problema do aço, que é um problema de mercado. Alguns países investiram em excesso e esse investimento terá de ser amortizado e absorvido no decorrer do tempo”, disse.

O ministro acrescentou que qualquer excesso de investimento, com criação de supercapacidade, pode gerar consequências positivas, como queda do preço, e negativas, depois de um momento, porque passa a inviabilizar a produção.

Meirelles argumentou que esse fenômeno ocorre principalmente quando é resultado de uma ação governamental. “Isso é negativo porque distorce a correta alocação de recursos na economia, que aparentemente é o caso. Por isso é importante, como temos defendido sistematicamente, a livre flutuação do sistema de preços”, disse.

Ele também defendeu a liberdade para que as decisões de investimentos sejam tomadas de acordo com critérios econômicos, e não políticos, porque, segundo ele, é isso que gera esse tipo de distorção.