Meirelles descarta bolha de crescimento

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, descartou a possibilidade de uma “bolha de crescimento” na economia brasileira nos próximos anos. “Não vivemos e nem viveremos uma bolha de crescimento”, afirmou. Segundo ele, no entanto, vai haver um crescimento sustentado.

“O sucesso das políticas fiscal e monetária implementadas pelo governo já deram as condições para a retomada do crescimento sustentável”, afirmou Meirelles, ontem, após participar de seminário sobre reavaliação do risco Brasil, promovido pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), em São Paulo.

A “grande discussão” que se coloca agora, segundo o presidente do BC, é qual será a dimensão da taxa de crescimento da economia nos “anos futuros”.

“Para isso, é importante a retomada dos investimentos. E isso faz parte do conjunto de medidas que estão sendo discutidas e implementadas pelo governo.”

Meirelles espera, para 2004, crescimento superior a 3% no PIB (Produto Interno Brasileiro), mas ainda acha “prematuro” falar em avanço de 4%.

Durante o evento, o presidente do BC afirmou que é preciso conter as ansiedades e citou um provérbio chinês: “A caminhada de mil quilômetros começa com o primeiro passo.”

O presidente do BC afirmou que os fundamentos da economia brasileira são hoje muito melhores do que no final do ano passado e disse que há anos o Brasil não reunia condições “tão favoráveis para ingressar em um processo sólido de crescimento sustentado sem gerar, como no passado, desequilíbrios nas contas externas ou pressões inflacionárias”.

“A rápida reversão das expectativas abriu caminho para que a retomada da atividade se iniciasse antes do que muitos imaginavam. A economia brasileira tem todas as condições para crescer mais de 3% no ano que vem e ainda mais nos anos seguintes. É para isso que estamos trabalhando”, afirmou durante o seminário.

Risco-Brasil

Para Meirelles, o Brasil ainda tem um risco elevado “em conseqüência de inúmeros fatores do passado”. “O presente de um país, todos sabemos, é a soma dos erros e acertos cometidos em seu passado. No Brasil, infelizmente, tivemos uma coleção enorme de erros heterodoxos que não desejamos repetir”, disse ele.

Meirelles citou como problemas do passado que ainda têm reflexo no risco-país o curto histórico de estabilidade macroeconômica; os déficits primários crescentes do setor público, que levou a uma trajetória desfavorável da relação dívida/PIB (Produto Interno Bruto); o rompimento de contratos, que aumentou a desconfiança dos investidores; a reduzida participação do setor externo na economia; e as intervenções abruptas do governo no funcionamento da economia.

“É possível reduzir o risco-Brasil com a adoção de políticas fiscais e monetárias consistentes, que assegurem a sustentabilidade intertemporal das contas internas e externas. Infelizmente, esse é um exercício recente no Brasil. É um esforço que exige empenho, perseverança e paciência”, disse.

Meirelles afirmou que o processo em curso de ajuste fiscal e a política de superávits primários “permitirá a diminuição consistente da relação dívida/PIB, que deve chegar a menos de 40% no final desta década”. No ano passado, essa relação superou 60%.

“Quanto maior o superávit primário, maior será a probalidade de uma país honrar seus compromissos. Menor, portanto, será o risco percebido deste país”, afirmou.

De acordo com ele, o superávit primário em 2003 e nos próximos anos é uma medida fundamental para conter a explosão do endividamento do setor público e “evitar o círculo vicioso de uma profecia auto-realizável em que o crescimento descontrolado da dívida leva a moratórias ou reestruturações da dívida, com efeitos perversos sobre o crescimento e a renda”.

Ele evitou, porém, falar sobre metas futuras do superávit primário, que hoje equivale a 4,25% do PIB. De acordo com ele, quem define as metas é o Ministério da Fazenda.

Voltar ao topo