A dona de casa Vera Brant e Silva acompanhou nas últimas semanas o sobe-e-desce da taxa de risco brasileira. Assustada com as oscilações, sacou todo o seu dinheiro de um fundo de investimento, apesar de não entender de que forma o risco-Brasil poderia prejudicá-la.

Rio (AG) – No desespero, saquei tudo. Não entendo o que está acontecendo, mas sei que quando os números mudam muito de um dia para o outro, boa coisa não é. Ouvi dizer que o mercado financeiro está instável por causa da eleição, mas o que o meu dinheiro tem a ver com isso?

Vera não está sozinha. Como ela, existem muitas outras pessoas que não conseguem entender de que forma indicadores macroeconômicos como o risco-país, C-Bond, Selic e juro futuro afetam o seu dia-a-dia.

O professor de Economia do Ibmec Business School, Antônio Carlos Assumpção, explica que, apesar de fazerem parte do temido “economês”, é preciso interpretar os indicadores e entender o que significam.

– Risco elevado provoca fuga de investimentos do país. Para evitar a saída de recursos, o Banco Central pode elevar os juros. Taxas mais altas retêm o capital, mas inibem o crescimento econômico. Com a estagnação, as empresas produzem menos e, sem demanda, podem ser obrigadas a demitir, causando desemprego.

Segundo o economista e escritor Victor Zaremba, saber para que serve cada indicador torna mais simples entender de que forma eles podem influenciar o seu bolso. E cita o risco como exemplo. Ele é calculado com base nos preços dos títulos brasileiros negociados no mercado financeiro internacional.

– O risco mede a confiança do investidor estrangeiro na capacidade de um país honrar seus pagamentos internacionais, apesar de essa percepção poder ser diferente da realidade. Risco elevado significa menos credibilidade e menos entrada de dólares no Brasil.

Os C-Bonds são indicadores de nome difícil, mas que estão intimamente relacionados ao risco-país. Eles são os títulos da dívida brasileira mais negociados no exterior e, quando seu preço cai, indicam que o investidor estrangeiro está pouco suscetível a investimentos em países como o Brasil.

– Quando os títulos perdem valor, o risco sobe – explica o economista Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central (BC).

O dólar costuma acompanhar de perto as variações desses dois indicadores. À medida que o C-Bond cai e o risco sobe, os investidores começam a buscar proteção no dólar. E, com o aumento das compras, o câmbio dispara.

– Produtos importados, como o petróleo, oscilam com o dólar. Além disso, algumas empresas têm gastos ou dívidas em moeda americana. Com a alta do câmbio, pode haver repasse de custos para o consumidor – lembra Assumpção, do Ibmec.

A trajetória do dólar pode ser antecipada pelos resultados da balança comercial. Ela nada mais é que o total das exportações menos as importações de produtos e serviços. Quando há superávit, as exportações superaram as importações. Já o déficit ocorre no cenário inverso.

– Com o superávit, há maior entrada de recursos estrangeiros, o que indica que o dólar não deve subir tanto a curto prazo – explica Freitas.

Os economistas alertam que, se o dólar mantiver trajetória de alta constante, o BC pode elevar a taxa de juros básica da economia (Selic) para segurar sua cotação. É ela que controla o custo do dinheiro, seu poder de compra.

– Quando a taxa sobe, as aplicações em juros ficam mais rentáveis. Isso atrai dólares para o país e estimula quem tem a moeda a vendê-la para aplicar o dinheiro. Assim, o dólar cai – diz Zaremba.

Por outro lado, juros altos desestimulam os empréstimos bancários e reduzem o dinheiro disponível para empresas e consumidores. Freitas alerta que é importante ficar atento ao resultado das reuniões do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom). Elas acontecem uma vez ao mês, quando é divulgada a taxa de juros vigente, e podem ajudar o consumidor a se planejar.

O significado de cada um

RISCO-BRASIL: Importante indicador da economia, o risco-país é calculado com base no movimento de preços dos títulos brasileiros negociados no mercado financeiro internacional. Ele mede a confiança do investidor estrangeiro no país. O valor do risco – por exemplo, 1.600 pontos centesimais (ou 16%) – significa quanto de juros o governo brasileiro tem que pagar sobre seus papéis além da taxa paga pelo Tesouro dos EUA pelos títulos americanos.

C-BONDS: São os títulos (bonds) da dívida externa brasileira mais negociados no exterior.

BALANÇA COMERCIAL: É o resultado da soma das exportações menos as importações de produtos e serviços realizados pelo país. Há superávit na balança quando as exportações são maiores que as importações. Já o déficit ocorre quando as importações superam as exportações.

TAXA DE JUROS (SELIC): As taxas básicas de juros são utilizadas pelo Banco Central para controlar o custo do dinheiro e o ritmo de crescimento econômico, expandindo ou reduzindo sua atividade. Ela afeta diretamente o custo do crédito para empresas e consumidores.

continua após a publicidade

continua após a publicidade