A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a taxa básica de juros em 11% ao ano confirmou a expectativa do economista-chefe da MCM Consultores, Fernando Genta. Em entrevista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, ele afirmou, no entanto, que a demora da reunião dos diretores do Banco Central para definir a Selic, de mais de quatro horas, pode gerar interpretações no mercado financeiro sobre o grau de convencimento dos componentes da equipe monetária em relação à atitude tomada nesta quarta-feira, 28. “Pode ser um sinal de que o BC não está 100% convicto da decisão”, comentou.

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O economista fazia parte da corrente dominante dos analistas do mercado financeiro que, segundo levantamento do AE Projeções, aguardava exatamente a manutenção da Selic no nível de 11% ao ano. De acordo com a sondagem do serviço especializado do Broadcast da Agência Estado, 76 de 85 casas trabalhavam com este cenário.

Para Fernando Genta, a manutenção do termo “neste momento” no curto comunicado da decisão também mostra que o Copom não fechou totalmente a porta para novas altas nos juros. “É consistente com o quadro atual de inflação ainda elevada, a despeito da desaceleração na margem”, comentou, lembrando que, pelos cálculos da MCM, a inflação em 12 meses deve chegar próxima a 7% em julho e agosto. “De toda forma, vejo com pouca probabilidade qualquer mudança de juro de agora em diante. Não vejo fatos novos não contemplados já no cenário atual”, ressaltou.

Para o economista-chefe da MCM, a demora na reunião do Copom e o termo “neste momento” deverão ser fatores abordados pelo mercado financeiro amanhã. “Certamente serão comentados”, avaliou. “Acho que a curva de juro pode subir um pouquinho em função do BC”, complementou.

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Porta aberta

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Na avaliação do economista sênior do Besi Brasil, Flávio Serrano, em uma reunião de mais de quatro horas, o Copom fez o que o mercado esperava, ao manter a Selic estável em 11%. Mas, ao usar o termo “neste momento” no comunicado que acompanhou a decisão, o Banco Central deixou a porta aberta para novas ações, inclusive no curto prazo, e, de alguma forma, não sugere o fim do ciclo. Para ele, os juros futuros devem ficar voláteis no pregão de amanhã, devido à surpresa com o uso do termo citado acima.

“Após a forte queda de hoje dos juros longos, poderíamos ver alguma alta. No entanto, ao deixar a porta aberta, o Copom pode ser visto como um pouco mais ‘hawkish’ do que se imaginava, o que pode provocar a alta do juro com vencimento em janeiro de 2015”, pontuou Serrano. “Mesmo porque, ao usar o ‘neste momento’ e afirmar que acompanhará a ‘evolução do cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação’, o BC pode voltar a subir o juro a qualquer momento”, completou.

De acordo com o economista do Besi, o Banco Central, ao usar o termo “neste momento” no curto comunicado da reunião, “criou uma válvula de escape para subir, se for necessário, inclusive no curto prazo”.