O ministro da Fazenda, Guido Mantega, rebateu hoje as críticas que analistas de mercado estão fazendo ao Banco Central (BC) desde ontem, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa Selic de 12,5% para 12% ao ano. O ministro disse que não entende as críticas “porque até a reunião do Copom, o que eu lia em todos os jornais era que havia um consenso em torno da piora da economia internacional e que a taxa de juros devia cair”.

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Sobre as dúvidas levantadas a respeito da independência do Banco Central, Mantega disse que “até outro dia o BC estava subindo juros e ninguém falava nada”. “O BC estava aumentando juros agradando ou não o governo porque ele tem suas avaliações do cenário internacional e toma suas decisões”, afirmou.

Mantega discordou também de comentários segundo os quais o Ministério da Fazenda teria sido mais eficaz no gerenciamento das expectativas do que o próprio BC. “Não concordo com essas afirmações. Nós fizemos a nossa parte com o anúncio de corte de gastos e o BC fez a sua avaliação”, disse. De acordo com ele, a percepção dentro do governo é de que a crise econômica é deflacionária, justificando a queda de juros. “O presidente do Banco Central é especialista nisso e teme a deflação”, afirmou.

O ministro disse ainda que a taxa de juros brasileira é mais conservadora do que as do resto do mundo. “Não estou aqui fazendo uma crítica ao BC. A inflação dos demais países emergentes está chegando perto da nossa e, no entanto, a taxa de juros desses países é mais baixa do que a brasileira, que é a maior do mundo”, disse. Ele ponderou que a vocação do BC é mesmo ser conservador, “mas com limites”.

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Deflação mundial

Mantega afirmou hoje que a economia mundial está em plena desaceleração, que deve durar de dois a três anos, e que, em função disso, é mais provável que ocorra deflação no mundo no curto prazo. “Nível de atividade dos EUA está baixo. EUA continuarão a fazer política monetária expansionista. É mais provável que teremos deflação mundial com atividade fraca”, afirmou o ministro, ressaltando que seria adequado que o governo norte-americano também pudesse utilizar a política fiscal. Contudo, Mantega avaliou que, em função do debate político naquele país sobre a elevação do teto da dívida pública, o uso de instrumentos econômicos como gastos do governo está bem limitado.

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Mantega ressaltou que, em função da continuidade do afrouxamento quantitativo dos EUA, será mantido alto nível de liquidez financeira no mundo. “Continuaremos a ter guerra cambial nos próximos anos”, afirmou. Segundo seu raciocínio, a forte liquidez global e o fraco nível de atividade em vários países centrais devem dar continuidade a desvalorizações competitivas de moedas, ao mesmo tempo em que diversos países no mundo vão disputar mercados para exportar seus produtos, especialmente manufaturados.

Nesse contexto, o ministro destacou que está ocorrendo no Brasil o ingresso “de importações predatórias” que, segundo o ministro, serão devidamente coibidas.