Mantega: conflito cambial leva a protecionismo

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse hoje que sem um acordo entre países em torno da questão cambial, cada nação acaba adotando medidas para desvalorizar sua moeda buscando maior competitividade, mas que isso não é bom para a economia global. “A meu ver isso pode levar a uma confusão ou problemas de ordem cambial com consequências negativas para todos os países. O conflito cambial leva a protecionismo e adoção de controle de capital”, afirmou o ministro, lembrando que o Brasil é um dos países que já lançou mão de medidas de controle de capital. O ministro concedeu entrevista à imprensa na sede do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington.

Mantega disse que existe hoje um “ativismo cambial” e que a causa do conflito entre as moedas é que a crise financeira global não foi “devidamente resolvida”. “Isso é subproduto da lenta retomada dos países avançados. Alguns países adotaram medidas, mas não foram bem-sucedidos, a verdade é essa. Por isso o que vemos hoje é uma retomada lenta, altas taxas de desemprego e nível de demanda bastante fraco, o que mostra que as políticas de recuperação dos países avançados não foram suficientes”, completou o ministro.

Segundo ele, será preciso recolocar na agenda do G-20 a questão da recuperação das economias avançadas. “O caminho que se trilha com políticas monetárias expansivas é você recuperar a economia usando mercados alheios e não domésticos. É a política do salve-se quem puder. O que temos que fazer é recolocar a política fiscal em alguns países”, disse.

Mantega disse que várias economias avançadas retiraram seus estímulos fiscais “muito rapidamente”. “As políticas fiscais funcionaram num primeiro momento, mas foram desativadas muito rapidamente”, disse. Houve precipitação da retirada dos estímulos fiscais, mas não foi por falta de aviso”, disse.

O ministro reconhece, no entanto, que muitos países não têm condições de conceder mais estímulos fiscais. Além disso, no encontro do G-20, em Toronto, no Canadá, as economias avançadas se comprometeram a caminhar para equilibrar o lado fiscal e vários países europeus estão com seus planos de austeridade fiscal em andamento. Mas países como Estados Unidos e Alemanha têm condições de retomar estímulos fiscais, segundo ele.

“É preciso recolocar uma política fiscal ativa nos países avançados que não conseguiram retomar crescimento. Não acho que seja fácil alguns países voltarem atrás e resolver voltar a dar estímulos”, disse Mantega, observando, no entanto, que é preciso recalibrar as políticas para não ficar “anos e anos com desemprego elevado”. E completou: “Países emergentes têm também que estimular o mercado doméstico. Essa é a parte que nos toca e o Brasil tem feito isso satisfatoriamente”. Ele disse ainda que medidas de política monetária têm efeito até “certo ponto”. “Política monetária é importante, mas tem seus limites”, disse.

Mantega disse que a recuperação da economia global não será em forma de “V” como muitos esperavam, mas em forma de “L”, ou seja, “uma recuperação fraca, demorada.”

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