Lula: situação é grave; o remédio vai ser amargo

Brasília – O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, avisou ontem aos críticos de seu governo que a situação econômica “gravíssima” herdada do governo anterior requer a adoção de soluções “amargas” para controlar a inflação, diminuir o risco país e recuperar a confiança interna e externa no Brasil.

“Recebemos o país numa situação muito grave, eu diria gravíssima”, afirmou Lula na cerimônia de instauração do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social que se reuniu pela primeira vez ontem no Palácio do Planalto. Dele participam 500 representantes da nata dos setores produtivo, intelectual e social do país.

“São medidas “amargas que não gostaríamos de tomar”, mas são “imprescindíveis para que a situação econômica e financeira do país não saia de controle”, disse o presidente, criticando as políticas públicas adotadas nos últimos anos, que “não deram prioridade ao crescimento econômico nem à geração e distribuição de renda”, o que faz com que o mapa distributivo do país, “um dos piores do planeta”, seja similar ao de há 30 anos.

Uma das medidas “amargas” adotadas pela equipe de Lula em menos de um mês e meio no governo para “recuperar a confiança interna e externa” no Brasil é o recente corte de R$ 14 bilhões (cerca de US$ 3,8 bilhões) do orçamento do Estado para este ano, que afetou todos os setores, inclusive os ministérios da área social como o programa Fome Zero, a saúde e a educação.

A essa medida se somam o aumento das taxas de juros em meio ponto, para 25,5%, com o objetivo de conter a inflação, e o aumento da meta de superávit primário para pagar a dívida pública, de 3,75% para 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB). Lula recordou aos 82 membros do Conselho, formado por intelectuais, industriais, religiosos, artistas, sindicalistas e ministros, que essa instância pretende ser um fórum permanente de coesão social e que é preciso vontade para mudar o país.

Nascido em meio a críticas à falta de definição de suas funções, à excessiva presença de empresários no órgão (41 pessoas) e à eventual concorrência com os trabalhos do Legislativo, esse organismo não é “um clube de amigos”, assegurou Lula, acrescentando que “em hipótese alguma vai substituir o Congresso ou relativizar suas atribuições”. O novo fórum, disse, é um órgão de assessoria e consulta da Presidência da República, que se encarregará de definir as principais ações do governo “em constante diálogo com a sociedade”.

O Conselho não é só um instrumento de debate, é um espaço muito especial com uma finalidade nova e precisa, do qual fazem parte pessoas de diferentes classes sociais, formação e visões políticas, com o objetivo comum de implementar as reformas necessárias para crescer de forma sustentável e conquistar uma “verdadeira” justiça social, acrescentou o presidente. Neste sentido, lembrou que as reformas da previdência, tributária, agrária, política, trabalhista e sindical são “inadiáveis” se se quiser favorecer a coesão social e conseguir a inclusão dos brasileiros marginalizados. Lula citou expressamente a reforma da Previdência. “Se não se corrigir o sistema agora, em breve não haverá dinheiro para pagar os benefícios”, advertiu.

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