Lula manda os ministros reativar logo a economia

Brasília –  O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reúne hoje com um grupo de ministros para discutir medidas que estimulem o desenvolvimento do País no curto prazo, para gerar efeitos ainda em 2003. Em menor escala do que no governo Fernando Henrique Cardoso, volta à cena o velho conflito entre os integrantes do governo que defendem ajuda a setores específicos e os que são favoráveis a políticas gerais para a economia. “Existe essa questão de fundo”, admitiu um assessor. “Mas nada tão forte como vimos no passado.”

Essa diferença ficou evidente com a declaração que o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, deu anteontem em Madri. Questionado se haveria redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis populares, ele respondeu que não havia nada decidido. “Mas não me parece adequado apenas proteger alguns setores”, afirmou ele, repetindo uma posição defendida também por seu antecessor no cargo, o ex-ministro Pedro Malan.

A redução do IPI para as montadoras havia sido anunciada na semana passada pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan. Ela foi confirmada pelo ministro do Planejamento, Guido Mantega, que foi além: outros setores também seriam beneficiados. Mantega não disse quais, mas técnicos acreditam que papel e celulose e siderurgia são bons candidatos. São setores que dão forte contribuição à balança comercial, mas estão próximos do limite de utilização de sua capacidade produtiva.

Palocci, porém, recusa o rótulo de “monetarista”, que era dado a Malan e seu grupo em oposição aos “desenvolvimentistas” liderados pelo ex-ministro da Saúde, José Serra. Ele já declarou, em várias entrevistas, que o crescimento econômico “não dá em árvore”, “não se dá por geração espontânea” e exige outras medidas além de estabilidade macroeconômica e juros baixos. Segundo auxiliares próximos, ele aceita a idéia de ajudar determinados setores, mas faz questão de calcular, antes, os impactos fiscais e econômicos de cada uma dessas medidas.

Existe uma avaliação na área técnica que uma ajuda às montadoras teria um efeito-dominó benéfico na economia, movimentando toda a cadeia produtiva. Potencialmente, a medida beneficia regiões como a Grande São Paulo, que tem registrado índices de desemprego e queda na atividade maiores do que a média do País. Ela também teria a capacidade de estimular o consumo, que é um dos motores do crescimento econômico.

“Não me julguem por 6 meses”

Madri

– O presidente Lula pediu ontem, em Madri, para que os brasileiros tenham paciência. O presidente disse ter a clareza de que seus sonhos são possíveis de serem realizados. Ele falou do desejo de dar sustentabilidade ao crescimento do país, para gerar empregos e distribuir melhor a renda. “Só peço para as pessoas não me julgarem nem para o bem, nem para o mal com apenas seis meses de trabalho, porque tenho quatro anos de governo”, afirmou Lula, no Palácio de Moncloa, sede do governo espanhol.

O presidente ressaltou a importância da construção do fortalecimento do Mercosul e da América do Sul. “Os países ricos precisam ser capazes de serem generosos com os mais frágeis. Caso contrário, o leste europeu não se reconstruiria, nem a União Européia existiria”, afirmou Lula. Ele destacou que o Brasil, como maior país da América do Sul, precisa ter atos de generosidade para fortalecer os demais países. “Não queremos uma relação de hegemonia, mas uma parceria com nossos irmãos da América do Sul”, ressaltou. De acordo com o presidente Lula, o Mercosul passou por problemas como bloco econômico e passará a ser mais respeitado quando tiver suas relações mais sólidas. Para isso, Lula diz que estão em estudo a criação de organizações e um instituto monetário para que o Mercosul tenha sua moeda única, como aconteceu com a União Européia. “O equivoco do Mercosul foi não criar uma organização, o que trouxe desconfiança até mesmo para países do bloco.

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