Crise feia deixa os bancos com
os cofres estufados.

São Paulo – Se há um setor da economia brasileira que vai muito bem, é o setor bancário. Mesmo com a fraca atividade econômica e a ainda baixa demanda por crédito se comparada a padrões internacionais, os bancos vêm exibindo lucros robustos graças sobretudo aos elevados juros praticados no país.

No ano passado, os bancos tiveram ganhos bilionários, impulsionados principalmente por operações com títulos públicos e em segunda escala pelos empréstimos, como comprovam resultados já divulgados por instituições como o Bradesco, Santander Banespa e o estatal Banco do Brasil . Em 2003, segundo especialistas, a performance do setor não deverá ser diferente.

“Com a taxa Selic em alta e o spread bancário ainda elevado, o resultado (dos bancos) não deve fugir muito do que tem sido nos últimos anos,” avalia Fernando Coelho de Oliveira, analista da ABM Consulting. “O volume de crédito do país como um todo é muito baixo, mas eles se fazem valer pelo spread.”

Principal instrumento do Banco Central para conter a inflação, a taxa básica de juros subiu 8,5 pontos percentuais desde outubro do ano passado. Nos dois primeiros meses do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a taxa Selic já foi elevada de 25 por cento para 26,5 por cento ao ano, uma das mais altas do mundo.

Os bancos ganham aplicando em títulos públicos atrelados à taxa de juros e ao câmbio e com os spreads, que consistem na diferença entre o que a instituição gasta para captar recursos e o que cobra para emprestá-los. Cálculos da ABM Consulting, baseados em levantamento preliminar do BC a partir de demonstrações financeiras dos 50 maiores bancos que operam no Brasil, mostram que as operações com títulos responderam por 44 por cento da receita em 2002, seguidas pelas operações de crédito que corresponderam a 41 por cento. Os ganhos no mercado de câmbio e com a cobrança de tarifas pelos serviços prestados aos clientes representaram 9 e 6 por cento, respectivamente.

De acordo com a consultoria Austin Asis, a rentabilidade do setor, isto é, o retorno sobre patrimônio líquido garantido ao acionista, atingiu 25,7 por cento no ano passado, bem acima dos 19,9 por cento registrados em 2001, considerando os balanços já divulgados. O cálculo exclui o Banco Itaú e o HSBC Bamerindus, que ainda não anunciaram seus resultados.

Para aumentar a base de clientes e ganhar escala, os bancos devem continuar este ano de olho em oportunidades de compra que surgirem em 2003, dizem especialistas. Campeão de compras em 2002, o Bradesco mostrou renovado apetite, arrematando a unidade brasileira do espanhol BBVA e a carteira de recursos administrados do JP Morgan neste início de ano.

O mercado agora especula o destino do Banco Sudameris, controlado pelo grupo italiano Intesa, depois que o Itaú desistiu de adquirí-lo.

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