A leitura do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado nesta quinta-feira, 26, pelo Banco Central (BC), indica que a autoridade monetária será obrigada a elevar a taxa básica de juros (Selic) para além dos 13,0% já esperados pelo mercado no Boletim Focus. A avaliação é do estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, que destacou que o aperto monetário ainda mais forte se dará mesmo em meio a um cenário de recessão da economia. “Além disso, a inflação deve estourar o teto da meta (6,5%) em 2015 pela primeira vez em mais de um década e as projeções do BC não sugerem a convergência da inflação para o centro da meta (4,5%) em 2016”, pontuou o especialista.
O fato de as projeções do mercado para o IPCA em 2016 terem avançado de 4,9% para 5,1% sugere, segundo Rostagno, que será necessário um esforço adicional na Selic, já que nem a atual projeção no Focus de os juros encerrarem 2015 a 13% tem sido necessária para trazer as expectativas de inflação do ano que vem para o centro da meta. O especialista projeta que deve haver uma alta de 0,50 ponto porcentual na próxima reunião do Copom, em abril, e outra elevação de 0,25 ponto no encontro seguinte, em junho, levando a taxa básica para 13,5%. “O RTI reforça a revisão para cima na projeção da Selic que já havia feito”, disse.
O estrategista-chefe do Banco Mizuho destacou também as novas projeções da autoridade monetária para o reajuste de preços administrados. No RTI divulgado hoje, a previsão para a alta dos preços controlados passou de 6,2% para 11%. “Isso sugere que o próprio BC foi surpreendido pelo realinhamento dos administrados”, apontou Rostagno. “No RTI, o Banco Central já admite um cenário bastante difícil”, disse. Para o especialista, os dados do Produto Interno Bruto (PIB), que serão divulgados amanhã pelo IBGE, devem confirmar um cenário de estagflação na economia brasileira desde 2014. “Já estávamos vivendo isso desde o ano passado. Economia estagnada e inflação no teto da meta”, pontuou