Juros da dívida cairão acima de US$ 30 bilhões

Brasília  – O Brasil vai gastar, este ano, R$ 153,9 bilhões com pagamentos de juros, sendo R$ 131,1 bilhões da dívida interna e R$ 16,8 bilhões referentes à dívida externa, conforme revelou o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, durante audiência pública na Comissão Mista de Planos, Orçamento Público e Fiscalização do Congresso.

Ele ressaltou, no entanto, que as condições favoráveis para o reaquecimento da economia permitem ao governo reduzir a taxa básica de juros (Selic), hoje em 19% ao ano, e estimular a diminuição das taxas de juros de médio e de longo prazos, que caíram à metade, comparadas com as de outubro do ano passado.”Isso nos leva a estimar que o serviço da dívida será bem menor no ano que vem”, adiantou Meirelles. Segundo ele, o serviço ficará em torno de R$ 121 bilhões, dos quais R$ 105,4 bilhões de juros da dívida interna e R$ 15,6 bilhões de juros da dívida externa.

Meirelles reconheceu que as taxas de juros “ainda são muito altas”, mas afirmou que “tudo está sendo feito, com total responsabilidade e transparência”, para baixar as taxas. Ele ressaltou que “os fundamentos da economia brasileira hoje estão bastante sólidos, e as condições são favoráveis para o País ingressar em um processo de crescimento sustentado, sem gerar desequilíbrios nas contas externas, ou pressões inflacionárias”.

O presidente do BC disse que a rápida reversão da crise econômica – que provocou perdas equivalentes a US$ 28 bilhões, ou quase 6% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado – “abriu caminho para que a retomada da atividade econômica se iniciasse antes do que muitos imaginavam”. A economia, acrescentou ele, tem todas as condições para crescer 3% ou mais no ano que vem, e ainda mais nos anos seguintes. Porém, sobre as expectativas de crescimento do PIB este ano, Meirelles acompanha a estimativa do mercado, de apenas 0,6%.

Depois de uma exposição de 30 minutos sobre os fundamentos macroeconômicos de mercado, Henrique Meirelles recebeu muitos elogios de deputados e senadores governistas pela “condução firme e segura” das políticas fiscal e monetária. Mas também sobraram críticas, que foram endereçadas mais ao PT do que ao próprio governo em si ou ao Banco Central.

É o caso do deputado Alberto Goldman (PSDB-SP), para quem “o governo Lula tomou o antídoto contra o próprio veneno que o PT destilou durante duas décadas e que neutralizou as mudanças intentadas no país, bem como contra toda e qualquer negociação com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que hoje é incensado por esse mesmo partido”. Ataque que mereceu pronto revide de parlamentares governistas.

Alheio ao tiroteio das bancadas, o presidente do Banco Central reafirmou que “não resta dúvidas” sobre o fortalecimento gradativo da economia, que trabalha, no momento, com indicadores mais consistentes, embora ainda exija muito trabalho de longo prazo para a redução das taxas de juros.

“Temos razões sólidas para acreditar que estamos na rota do crescimento sustentado”, disse ele, adiantando que o mercado internacional e os investidores também vêem o país por esse prisma. Tanto que as condições para novo acordo com o FMI “nos são inteiramente favoráveis”, segundo Meirelles. Porém, ele afirmou que qualquer decisão a respeito será anunciada só no final da semana que vem. “Qualquer manifestação nesse sentido seria prematura”, concluiu.

Acordo seria transição para pós-FMI

Brasília

– O secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Otaviano Canuto, disse que um eventual acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) seria simplesmente para criar uma descompressão (transição) até o período pós-Fundo. “A possibilidade de assinar um novo acordo decorre apenas daquilo que foi sinalizado pelos mercados, e por nós, de se criar uma descompressão entre o acordo e o período pós-Fundo Monetário”, afirmou Canuto, após participar da assinatura de acordo entre os governos brasileiro e espanhol.

Segundo o secretário, é importante notar que o governo vem trabalhando gradualmente com o objetivo de manter um “colchão” (reservas monetárias) para eventual turbulência no ano que vem. Entre os fatores que preocupam a equipe econômica estão o câmbio e a retomada do crescimento da economia mundial.

“A rigor, todo mundo se preocupa com turbulências na relação de câmbio entre as economias desenvolvidas e com a não recuperação da economia mundial. Mas essas preocupações estão sendo reduzidas a cada dia que passa porque os sinais da recuperação americana são sustentados e o dólar tem se ajustado em relação a outras moedas de maneira de forma gradual”, explicou o secretário.

O secretário não quis confirmar quanto seria liberado pelo Fundo num possível acordo, se US$ 10 bilhões ou US$ 20 bilhões, mas fez questão de afirmar que o País está tranqüilo quanto ao fluxo do balanço de pagamento e do ponto de vista fiscal no ano que vem. Canuto reafirmou o discurso do governo de que um novo acordo funcionaria como um seguro para o país. Ele afirmou que a idéia não é fazer um aporte de recursos, uma vez que o governo está tranqüilo do ponto de vista fiscal e em relação ao fluxo do balanço de pagamentos.

Equilíbrio

O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, disse que um eventual acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) não chegaria a US$ 20 bilhões. “Não precisamos de uma coisa tão estratosférica.” Ele afirmou que, nas conversas com o Fundo, o volume de recursos ainda não foi mencionado, mas que o País tem um bom nível de reservas internacionais que dispensa um valor elevado. Levy lembrou que a participação dos empréstimos do FMI nas reservas brasileiras é próxima de US$ 30 bilhões.

Ele comentou também que o balanço de pagamentos está equilibrado, um dado “extremamente significante”. Voltou a dizer que as condições de crescimento para os próximos anos são o tema que envolve a conversa com a missão do Fundo que está no Brasil. Segundo ele, neste quarto trimestre haverá recuperação no nível de atividade econômica e que a previsão para o crescimento do próximo ano é de 3,5%. “Precisamos discutir agora quais serão as bases para o crescimento.”

O governo central já superou, em setembro, a meta de superávit primário estabelecida para o ano, de R$ 38,2 bilhões, alcançando, até setembro, R$ 38,8 bilhões.

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