A realização de lucros ensaiada pelo mercado na parte da manhã desta sexta-feira não prosperou e os juros passaram a oscilar perto da estabilidade à tarde, influenciados pela aceleração da queda do dólar. Como a sexta-feira foi de agenda fraca e poucos destaques no noticiário, os investidores aproveitaram a primeira etapa para recompor um pouco dos prêmios eliminados nas últimas sessões, mas o espaço para o ajuste continua sendo limitado pelo otimismo com relação à política monetária. Os eventos externos, mais uma vez, ficaram em segundo plano, assim como a crise no PSL também permanece apenas no radar.

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As principais taxas na ponta curta da curva fecharam nas mínimas, caso do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021, com taxa de 4,45%, ante 4,467% na quinta. A taxa do DI para janeiro de 2023 fechou estável em 5,43% e a do DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,12%, de 6,101%. Numa semana marcada por apostas mais agressivas no ciclo de afrouxamento monetário, as principais taxas devolveram entre 10 e 15 pontos-base em relação aos níveis da sexta-feira passada, com vários dias de renovação de pisos históricos. Assim, havia espaço para recomposição de parte dos prêmios mas, com o dólar indo para baixo de R$ 4,12 à tarde, o ajuste teve vida curta. A moeda fechou em R$ 4,1186, em baixa de 1,22%, maior queda desde 4 de setembro.

Uma realização de lucros mais firme esbarra ainda na percepção sobre a Selic, com as crescentes apostas de que a taxa pode fechar o ciclo em 4% ou menos. “O quadro geral não muda. A pergunta segue sendo quão mais frouxa vai ficar a política monetária e por quanto tempo. Os juros serão baixos até onde a vista alcança e está difícil ver algum fator que possa alterar essa trajetória”, disse o estrategista-chefe da CA Indosuez Brasil, Vladimir Caramaschi.

No noticiário o único destaque foram declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em Washington, mas com efeito pontual na curva, pela manhã. Em entrevista coletiva, ele afirmou que a despeito da liberação de parte dos compulsórios, um pedaço “ficou empoçado”. “O compulsório está estruturalmente alto e faremos liberações ao longo do tempo. Com sistema mais adequado de liquidez, pode haver liberação total de R$ 100 bilhões (em compulsórios)”, disse, sem se comprometer com datas. Para parte do mercado, com essas liberações, a injeção de liquidez no sistema cumpriria um papel estimulativo e, com isso, a Selic não precisaria cair tanto. Campos Neto disse ainda que o BC “não tem uma ideia de prazo para a política monetária estimulativa” no Brasil e ressaltou que “há espaço para juros menores”.

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A crise no PSL teve novos capítulos nesta sexta-feira, mas o mercado seguiu apenas monitorando o caso, ainda sob a percepção de que a agenda de reformas está preservada da confusão. O líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO), afirmou em entrevista exclusiva ao Broadcast Político, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, que o governo está parado, “não existe”, pois está focado na crise da legenda.