Juro real cai e ajuda retomada da economia

São Paulo – O juro real caiu ontem abaixo de dois dígitos, de 10,03% para 9,9%, comparando-se a taxa de um ano, de 16,38%, com a inflação prevista para os próximos 12 meses, de 5,89%. A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de cortar a taxa Selic de 19% para 17,5% ao ano, acima da redução de 1 ponto porcentual esperada pelo mercado, derrubou os juros de um ano de 17,24% para os atuais 16,38%. O recuo dos juros de longo prazo pode dar um gás adicional à retomada da atividade econômica porque essas taxas são as mais importantes para definir o custo de empréstimos e financiamentos.

As expectativas de inflação do mercado para os próximos 12 meses coletadas pelo Banco Central (BC) estão disponíveis desde novembro de 2001. De lá para cá, a taxa real nunca recuou abaixo de dois dígitos, afirma o economista-chefe do HSBC Investment Bank, Alexandre Bassoli. Com base nas projeções dos investidores para a inflação no ano fechado, o HSBC estimou previsões do mercado para os índices de preços entre janeiro de 2000 e novembro de 2001. Mesmo nesse período, o juro real nunca atingiu o nível de um dígito.

Segundo ele, a queda rápida dos juros reais deve acelerar a recuperação da atividade econômica. Em uma semana, essas taxas caíram de 10,78% para os atuais 9,9%. A maior parte dos analistas prefere a comparação dos juros de um ano com a inflação projetada para os próximos 12 meses porque decisões de consumo e investimento são tomadas com base nas expectativas futuras para as taxas.

Para o economista Fábio Akira, do banco JP Morgan, a decisão do Copom deixou claro que o BC vai testar novos níveis dos juros reais, até mesmo inferiores ao que foi registrado em 2000. Nesse ano, a economia cresceu 4,4% e os juros reais estavam em 10,5%. Akira aposta que a Selic vai terminar o ano em 16,5%. A capacidade ociosa da economia e o mercado de trabalho fraco permitem uma afrouxamento maior da política monetária, diz ele, lembrando que o País tem uma situação mais tranqüila nas contas externas. Com isso, um crescimento mais forte da economia não tende a acender o sinal vermelho no front externo, o que ocorria antes pela disparada das importações.

Bassoli diz que o recuo consistente do risco país – que fechou hoje em 542 pontos, o menor desde 21 de maio de 1998 – e o fato de os juros americanos estarem em apenas 1% abrem espaço para o BC testar níveis mais baixos para a taxa real. Segundo ele, os juros internos têm uma relação direta com o risco país e as taxas internacionais.

O economista Alexandre Póvoa, do Banco Modal, diz que o movimento dos juros reais é um pouco precipitado. Ele entende que o BC quer, de fato, testar novos níveis para a taxa real, mas isso não quer dizer que abandonou a idéia de reduzi-la gradualmente. “O risco é de que o mercado se surpreenda negativamente na próxima reunião do Copom.”

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