JP Morgan rebaixa títulos da dívida do Brasil

O banco de investimentos JP Morgan anunciou ontem a redução da recomendação de compra dos títulos da dívida do Brasil por conta de preocupações políticas relacionadas ao futuro governo do PT. Em seu portfólio para países em desenvolvimento, a instituição norte-americana resolveu retirar a classificação “neutra” para a dívida brasileira. A partir de agora, os papéis do país serão considerados “abaixo da média” de rentabilidade do mercado.

Segundo o JP Morgan, ainda há dúvidas se o governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, vai manter as políticas amigáveis ao mercado adotadas por Fernando Henrique Cardoso.

Desde meados de outubro, os títulos da dívida do Brasil vêm superando a rentabilidade de outros países em desenvolvimento devido ao discurso mais moderado adotado por Lula.

No entanto, o banco acredita que os papéis brasileiros só deverão manter a valorização registrada recentemente, ou mesmo obter uma melhor cotação, quando o governo petista transformar o atual discurso amigável em medidas concretas.

“Nós vemos pouco espaço para mais superação da performance do mercado [pelos títulos brasileiros] devido à falta de progressos concretos na legislação para fortalecer as contas fiscais”, diz o banco, em nota.

A instituição acrescentou considerar que os últimos movimentos do Congresso e dos governadores que tomam posse em 2003 “dão a impressão” de que as reformas econômicas vão ser mais lentas do que sugere o PT.

“A evidencia inicial da recente atividade do Legislativo e do tom das discussões sobre o Orçamento de 2003 é bastante confusa e dá poucas indicações de que o novo governo sabe da gravidade dos desafios para restaurar as contas do setor público para a sustentabilidade”, afirma o JP Morgan.

A instituição, no entanto, não prevê o “default” (calote, no jargão do mercado) da dívida brasileira em breve, mas acrescenta que os juros pedidos pelo mercado para a rolagem não são sustentáveis.

O risco Brasil, medido pelo próprio JP Morgan, tem oscilado nos últimos dias entre 1.500 e 1.600 pontos. Ou seja, o Brasil paga entre 15 e 16 pontos percentuais a mais de juros que os Estados Unidos para colocar no mercado títulos de prazo semelhante.

No auge da crise, há cerca de três meses, o risco Brasil chegou muito próximo aos 2.500 pontos. No entanto, em abril esse mesmo risco estava em apenas 700 pontos.

Palloci critica rebaixamento

O coordenador da equipe de transição, Antonio Palocci, rebateu o rebaixamento da dívida brasileira pelo banco de investimento estrangeiro JP Morgan de “neutra” para “abaixo da média” de rentabilidade do mercado. Na sua opinião, o Brasil tem se mostrado um país “economicamente forte, respondendo de maneira muito positiva à superação de seus obstáculos “.

Ao sair do Ministério da Fazenda, onde se reuniu com o ministro Pedro Malan, Palocci citou o superávit da balança comercial, que no ano acumula saldo de US$ 11,320 bilhões, como um evento da recuperação econômica do país.

“A balança comercial não pára de melhorar, o que é uma demonstração de força da economia brasileira, de força das exportações do país”, afirmou.

Palocci admitiu, entretanto, que o país enfrenta dificuldades no plano macroeconômico, mas afirmou que esses obstáculos estão sendo solucionados.

“Não há motivo para que se considere razoável que haja qualquer elemento maior de elevação do risco Brasil”, afirmou.

Dólar “sente” a medida e sobe 1,71% em um só dia

São Paulo

(AG) – O dólar comercial fechou ontem em alta de 1,71% e terminou o dia cotado a R$ 3,68 na compra e R$ 3,69 na venda. É a cotação mais alta desde 30 de outubro, pouco depois do segundo turno das eleições presidenciais. Os juros futuros acompanharam a tendência da moeda norte-americana e também subiram, num sinal de que o mercado financeiro aposta que o Banco Central voltará a elevar os juros básicos da economia.

A expectativa da divulgação dos nomes da equipe econômica do próximo governo contribuiu para reduzir o volume de negócios, favorecendo a pressão. Segundo Carlos Alberto Abdalla, diretor de câmbio da corretora Souza Barros, uma parte da pressão pode ser atribuída à precaução dos investidores à espera dos nomes para o Banco Central e o Ministério da Fazenda.

O fluxo cambial negativo ajudou a aprofundar a alta do dólar. Segundo operadores, o comércio exterior (importações e exportações) não movimentou quantias significativas. Boa parte da pressão teria vindo do segmento financeiro, que inclui remessas de lucros e pagamento de dívidas no exterior. Somente uma empresa de energia elétrica teria enviado quase US$ 200 milhões ao exterior, cerca de 30% de tudo o que foi negociado no mercado interbancário.

Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o Depósito Interfinanceiro (DI) de janeiro de 2003, que projeta os juros deste mês, fechou em 23,44% ao ano, contra os 22% da atual taxa Selic. O vencimento de abril, o mais negociado, projetou no final dos negócios taxa de 26,82%, com alta de 1,39% no dia. A alta das taxas na BM&F indica que o mercado dá como certa a elevação da Selic na reunião deste mês do Comitê de Política Monetária (Copom).

Metas para inflação podem mudar em 2003

São Paulo (AE) – A discussão sobre uma eventual mudança nas metas de inflação, admitida ontem para “um momento adequado” pelo homem forte da economia no PT, Antônio Palocci, deve esquentar à medida que sejam conhecidas as diretrizes do novo governo na área econômica. Para analistas consultados pela Agência Estado, há três caminhos possíveis a serem seguidos. A simples mudança do centro da meta, um alargamento das bandas de variação (combinado ou não com a mudança do centro) e ainda a perseguição de uma meta ajustada (aquela que considera nas metas os efeitos dos choques primários sobre os quais a política monetária não tem efeito direto), num horizonte intertemporal maior que o ano calendário.

Embora defendida por alguns economistas, uma mudança expressiva do centro da meta de inflação para o próximo ano por exemplo colocando-a dos 4% atuais (pelo IPCA) para algo em torno de 8% – é vista com restrições. “Uma mudança dessas talvez gere mais problemas do que benefícios. Dá a impressão de que se está colocando a meta no nível possível, não no nível desejado”, afirma o economista-chefe do Citibank, Carlos Kawall que não vê ganho de credibilidade para o regime com esse tipo de decisão. Ao contrário. “Se colocarmos a meta de 9% somente para que ela seja factível, ao fazer a mudança você já rompe com a idéia de que a credibilidade do regime só é perdida quando não se cumpre a meta”, destaca o economista.

Uma das soluções possíveis para esse impasse entre a realidade inflacionária e a credibilidade do regime de metas, dizem os economistas, pode estar na terceira alternativa: a de o BC trabalhar com metas ajustadas sem alterar a meta e o teto original. “A perseguição de uma meta ajustada, uma mira explicitada, parece-me a melhor fórmula que faz as vezes de uma cláusula de escape que ainda não existe”, avalia o economista chefe do BBV Banco, Octavio de Barros.

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