José Botafogo critica lei argentina do açúcar

Buenos Aires

  – O embaixador do Brasil na Argentina, José Botafogo Gonçalves, disse que o governo brasileiro estuda como reagirá à lei de proteção ao açúcar argentino, aprovada esta semana. Ela sobretaxa em 20% o produto brasileiro. Gonçalves afirmou que a situação ficou “mais complicada”, pois a lei tem validade até 2010, três anos mais do que o previsto no decreto que até então protegia o produto argentino até 2007.

“Eu não conheço Mercosul seletivo, que só concorda em negociar quando lhe convém”, criticou Botafogo Gonçalves. “Como podemos exigir que a União Européia (UE) e a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) derrubem barreiras agrícolas se nós mesmos não conseguimos chegar a um acordo aqui dentro do Mercosul”, reclamou. O governo argentino do presidente Eduardo Duhalde manteve silêncio sobre a medida. Depois da votação, o assunto não voltou a ser tratado pelas autoridades dos dois países.

Estratégia

Para outros diplomatas, o silêncio faz parte da estratégia do governo federal argentino de “ganhar tempo” frente a situações de crise. Faltam apenas 43 dias para as eleições presidenciais. Na segunda-feira, durante encontro com o ministro brasileiro da A gricultura, Roberto Rodrigues, o ministro argentino da Produção, Aníbal Fernández, prometeu conversar com a base governista na Câmara para tentar adiar a votação da lei do açúcar. A idéia seria assim dar tempo para que o setor privado dos dois países tentasse chegar a um acordo antes da esperada aprovação do projeto de lei que cria uma sobretaxa para a importação do produto.

Mas nada disso foi feito. As diferenças em torno da comercialização do açúcar brasileiro na Argentina são históricas. O produto brasileiro jamais entrou no mercado argentino. O último argumento usado pela poderosa União Açucareira Argentina é de que o governo brasileiro proporciona subsídios ao setor via programa do álcool.

Na tentativa de reverter a situação, Rodrigues sugeriu que os argentinos entrassem neste programa, importando açúcar brasileiro que seria transformado em álcool e comprado pelo Brasil. Mas a proposta não animou os produtores concentrados nas províncias de Tucumán, Salta e Jujuy. O açúcar e o setor automotivo estiveram por muito tempo, por diferentes razões, fora do livre comércio do Mercosul. Recentemente se chegou a um acordo no setor de automóveis de intercâmbio de comércio compensado, que está em vigor. Mas no caso do açúcar a questão é mais difícil de ser acertada. O governo do presidente Duhalde foi o primeiro a vetar a proteção ao produto, mas a poucos dias das eleições, reconheceram fontes da própria Casa Rosada, um novo debate em torno do assunto acabaria gerando desgaste para a imagem do governo.

Voltar ao topo