Barragem de Itaipu, no Rio Paraná:
marco da engenharia moderna e mais
uma atração turística de Foz do Iguaçu.

Uma área de fazendas, sem estrutura alguma, nas margens do Rio Paraná e perto de um dos símbolos do Estado, as Cataratas do Iguaçu. Esse local foi destinado a abrigar a maior usina hidrelétrica em funcionamento do mundo. “Acredito que nem aqueles que projetaram tinham idéia da grandiosidade da obra e tudo em que se transformou”, afirma Tabajara Acácio Pereira, gerente do departamento de coordenação de segurança em Foz do Iguaçu e funcionário da Itaipu Binacional desde quando o projeto ainda estava no papel. Após proporcionar tantas revoluções, em diversos setores, a hidrelétrica completa amanhã trinta anos de existência.

Fazendo parte das comemorações, autoridades brasileiras e paraguaias se reúnem amanhã no edifício de produção da usina para homenagear os funcionários que estão há três décadas na Itaipu e descerrar uma placa que marca os vinte anos de produção, completados no último dia cinco. Para hoje, estão programados shows de música, apresentação da Esquadrilha da Fumaça e um culto ecumênico.

A Usina de Itaipu é fruto de intensas negociações entre Brasil e Paraguai na década de 1960. Em 22 de junho de 1966, foi assinada a Ata do Iguaçu, uma declaração que mostrava a intenção de estudar o aproveitamento do recurso hidráulico do Rio Paraná. Oito meses depois, criou-se a Comissão Mista Brasil -Paraguai para colocar o acordo em prática. Em 1970, o consórcio composto pelas empresas IECO (dos Estados Unidos) e ELC (da Itália) ganhou a concorrência para a realização dos estudos de viabilidade e elaboração do projeto da obra.

Após três anos, o Tratado de Itaipu foi assinado, dando o passo oficial para a construção. Em maio de 1974, a entidade binacional surgiu para gerenciar os trabalhos, que começaram em janeiro de 1975. Um dos pontos mais importantes da obra de Itaipu foi o desvio do leito do rio para a construção da barragem de concreto, em 1978. Com a sua conclusão, as comportas foram fechadas em 13 de outubro de 1982, surgindo o reservatório de Itaipu, que levou 14 dias para ser formado, com uma área de 1,3 mil quilômetros quadrados.

A usina está na lista das sete maravilhas do mundo moderno, ao lado de obras como o Canal do Panamá, o Eurotúnel (que liga Inglaterra e França sob o Canal da Mancha) e o Edifício Empire State, em Nova York. O levantamento foi feito pela revista americana Popular Mechanics, que se baseou em uma pesquisa realizada entre engenheiros de todo o mundo.

A usina começou a funcionar em maio de 1984 e, até agora, gerou mais de um bilhão e 243 milhões de megawatts-hora. Em 2003, a energia de Itaipu representou 23,1% do total utilizado no Brasil e 94% da luz consumida no Paraguai. “O mais importante é que essa energia no Brasil está concentrada nos estados onde estão as principais indústrias, redes de serviço, bancos, shoppings e um forte comércio”, explica Jorge Samek, diretor-geral brasileiro da hidrelétrica.

Nesses últimos trinta anos, os funcionários puderam perceber as revoluções tecnológicas dentro da empresa, se tornando uma referência mundial no segmento. “Ser contratado para essa obra já foi um grande motivo de orgulho”, comenta Pereira, um dos funcionários mais antigos de Itaipu. Ele entrou na hidrelétrica com apenas vinte anos, ocupando a função de escrituário. “Quando a construção terminou, pensávamos que toda aquela movimentação iria acalmar, mas não foi o que aconteceu. Os desafios não têm fim e se renovam a cada dia”, destaca.

Profissional e pessoal

Depois de tanto tempo presenciando o dia-a-dia da usina, a vida pessoal e profissional se misturaram com o passar do tempo. Foi o que aconteceu com Lúcia Helena Mocellin Lopes, secretaria da diretoria administrativa em Curitiba, funcionária da Itaipu há trinta anos. “Entrei com 18 anos e foi o meu primeiro emprego. Nesse período, muitas pessoas entraram e saíram da empresa. Elas também entram e saem da minha vida”, exemplifica.

Lúcia é da época em que se pintavam à mão os mapas da construção da usina. “Em trinta anos, vivenciamos a revolução tecnológica do mundo. Antes só tinha o telex. Hoje, não vivemos sem a internet. Na própria tecnologia da usina, muito se cresceu em apenas três décadas”, comenta. Para ela, é um orgulho ver o tamanho de Itaipu e saber que ela foi um pouco responsável por tudo aquilo. “Quando chego lá e vejo que tem uma marquinha minha, me emociona muito. Era uma coisa que a gente não imaginava como ia ficar”, relembra Lúcia.

Obra virou ponto de atração turística

O gigante de concreto sempre atraiu olhares e despertou curiosidades, atraindo visitantes de vários lugares do mundo. Visitar Itaipu é verificar a capacidade da engenharia e do ser humano em alcançar o que parecia impossível. A sua visitação é facilitada pela proximidade com as Cataratas do Iguaçu e pelo potencial turístico da região. Em 2001, a cidade de Foz do Iguaçu foi o quarto destino turístico mais visitado por estrangeiros, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur).

Somente no ano passado, 595 mil turistas passaram pela Itaipu, de acordo com dados da empresa. Antigamente, apenas 50% dos visitantes das Cataratas iam conhecer a usina. Hoje, o número equivale a 80% dos turistas que passam por Foz. Desde 1977, quando foi aberta à visitação, até dezembro de 2003, a usina recebeu mais de nove milhões de pessoas, de 175 países.

Segundo o diretor-geral brasileiro da hidrelétrica, Jorge Samek, os investimentos no setor do turismo são pesados. Recentemente, foi inaugurada a iluminação noturna da barragem, que acontece todas as sextas-feiras e sábados. “É um show muito bonito”, avalia. É o único passeio de Itaipu que se cobra ingresso: R$ 6 para turistas e R$ 3 para moradores da região. Os recursos obtidos são doados ao programa Fome Zero e para entidades assistenciais de Foz do Iguaçu.

As atrações turísticas da usina estão muito ligadas ao meio ambiente, setor incentivado à exaustão pela empresa binacional. O Ecomuseu, criado em 1987, passou recentemente por uma reformulação. Ele conta os primórdios daquela região e sua evolução. “Retrata a formação geológica, a povoação, os primeiros ciclos econômicos, até chegar na Foz do Iguaçu dos dias de hoje. O Ecomuseu ainda mostra a região antes e depois da região de Itaipu”, explica Samek. “Lá também estão os bichos que compõem a nossa fauna.”

Samek conta que, no próximo Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho), será inaugurado o Refúgio Biológico Bela Vista, único no gênero na América latina. “É uma área de mais de mil hectares. Uma espécie de zoológico sem ter os animais enjaulados, mas com condições excelentes para a população ver esses animais ao vivo”, afirma. O refúgio está localizado dentro do Complexo Turístico de Itaipu.

Outra atração da usina é o Canal da Piracema, que facilita a reprodução dos peixes no Rio Paraná. “Os peixes vinham até a barragem e não tinham como prosseguir. Para se reproduzir, eles precisam queimar todo ácido lático no interior do organismo. Por isso, os peixes batem contra as ondas”, explica Samek. “Nós aproveitamos o leito de um rio e construímos o canal, de dez quilômetros de extensão, em forma de escada e com pressão da água para provocar a necessidade do peixe bater na correnteza. E ali fizemos um parque, que está lindo”, conta o diretor.

Capacidade plena em 2005

Em 2005, Itaipu vai atingir a sua capacidade máxima de produção. Atualmente, são 18 unidades funcionando. Mais duas entrarão em operação até outubro do ano que vem, gerando uma capacidade total de 14 mil megawatts de potência. Com a instalação das unidades, a usina continuará sendo a maior em atividade no mundo, mesmo com a construção da hidrelétrica Três Gargantas, sobre o Rio Yang-Tse, na China. Essa terá um reservatório maior, mais potência instalada (18 mil megawatts) e mais turbinas (26 contra 20 de Itaipu). No entanto, a grande vazão do Rio Paraná e as unidades com maior potência (700 megawatts contra 680 dos chineses, cada uma), o Brasil e o Paraguai vão produzir mais energia, cerca de 89 bilhões de quilowatts/hora por ano, marca registrada no ano passado.

Mesmo atingindo o ápice, Itaipu não vai parar de crescer. Em trinta anos, a usina não produziu somente energia. A tecnologia empregada na hidrelétrica fez com que se tornasse referência mundial. Dentro do planejamento para os próximos anos e aproveitando a experiência acumulada, a empresa binacional criou o Parque Tecnológico de Itaipu (PTI) no ano passado.

O novo setor, que tem 120 mil metros quadrados de área construída, está localizado em um antigo alojamento do canteiro de obras de Itaipu. A área abandonada será o celeiro de novos trabalhos. “Nesses anos todos, a Itaipu produziu uma grande inteligência, concentrada ali na região. Nós temos os melhores técnicos do mundo”, afirma Jorge Samek, diretor-geral brasileiro da usina. “Desenvolvemos softwares e aplicativos de operação da usina que deram uma eficiência extraordinária no procedimento. Isso tudo resultou em inteligência, que somada à experiência que temos em proteção ambiental, nos colocam no topo do mundo nessas áreas”, explica.

A implantação do parque também é uma forma aproveitar os profissionais que dedicaram as suas vidas na implantação e no funcionamento de Itaipu. “O Estado, em modo geral, investiu muito pesado para que eles pudessem atingir o nível em que se encontram. Alguns estão de cabelo branco, já na hora de se aposentar e não podemos desperdiçar esse acúmulo de conhecimento”, comenta Samek.

O principal cliente do parque será a própria Itaipu. Estão sendo desenvolvidos projetos para cuidados com o meio ambiente e para a operação, manutenção e aperfeiçoamento da usina. A intenção também é apoiar o crescimento tecnológico e social da região das Três Fronteiras (Brasil, Paraguai e Argentina) e do Mercosul. No momento, o PTI inicia um complexo de incubadoras empresariais e de laboratórios. O parque conta com diversas parcerias, como ministérios, Instituto Tecnológico do Paraná (Tecpar) e universidades localizadas no Estado.

Exercício de diplomacia

A Usina Hidrelétrica de Itaipu é o maior empreendimento binacional do mundo. Tudo na empresa é feito a “quatro mãos”. Cada função é preenchida por um brasileiro e por um paraguaio. Segundo Jorge Samek, diretor-geral do Brasil na Itaipu, a atividade dentro da usina é um exercício diário de diplomacia.

O diálogo se tornou a base dos relacionamentos dentro da empresa. “Tudo tem que ser feito com consenso. Cada lado precisa consultar o outro. Por isso, o dia-a-dia é feito de muita conversa para fazer a usina operar nos moldes atuais”, explica Samek.

Para ele, a relação entre Brasil e Paraguai dentro da empresa serve de exemplo para o mundo, ainda mais neste momento, com diversas guerras e conflitos por causa de terras, petróleo, religião, entre outros. “Estamos mostrando ao mundo inteiro que é possível unir dois povos por meio de empreendimentos produtivos que sejam bons para seus países e suas populações. É um exemplo maravilhoso”, justifica Samek.

Desde o dia 5 de maio de 1984 até agora, a Usina Hidrelétrica de Itaipu produziu 1.243.041.552 megawatts-hora de energia. Essa quantidade daria para abastecer:

Curitiba por 357 anos

Londrina por 1.380 anos

Foz do Iguaçu por 3.325 anos

Estado de São Paulo por 14 anos

Estado de Minas Gerais por 33,7 anos

Estado do Rio de Janeiro por 44,8 anos

Paraguai por 282,1 anos

Argentina por 18,6 anos

Inglaterra por 3,7 anos

França por 3,1 anos

Japão por 1,4 ano

Estados Unidos por 4 meses

Mundo por 36 dias

Fonte: Agência Internacional de Energia, Comissão de Integração Energética Regional e Eletrobras.

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