IR pesado para a classe média

A nova metodologia que vem sendo estudada pelo governo para a atualização da tabela do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) pode elevar em até 176% o valor que famílias de classe média devem pagar pelo tributo. É o que demonstra estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), que simulou o cálculo de IR para trabalhadores representativos de diferentes classes de renda e observou que a mudança nas regras de dedução de despesas com educação, saúde e dependentes teria impacto direto sobre famílias com renda entre R$ 3 mil e R$ 10 mil mensais.

Semana passada, o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, admitiu que o governo poderá diminuir os abatimentos com saúde, educação e dependentes no Imposto de Renda. A mudança faria a classe média, que aproveita mais essas deduções, pagar mais imposto. Para compensar esse aumento sobre os que ganham mais, haveria correção no limite de isenção – valor sobre o qual não há imposto.

Segundo projeto em estudo pelo governo, o desconto no imposto devido em cada despesa dedutível deixaria de ser de 15% ou 27,5% para ser de 20% para todos. Com uma despesa médica de R$ 100, por exemplo, o contribuinte tributado em 15% deixa de pagar R$ 15. O tributado em 27,5% deixa de pagar R$ 27,50. Portanto, com a mudança, o contribuinte da primeira faixa – que ganha até R$ 2.115 mensais – passaria a ter desconto de R$ 20, ou seja, R$ 5 a mais do que hoje. Já o da segunda faixa, pertencente à classe média, ao ter direito também ao desconto limitado a R$ 20, perderia R$ 7,50. Dessa forma, seria eliminada uma distorção da tabela atual, na qual as pessoas que ganham mais deduzem mais.

Segundo o presidente do IBPT, Gilberto Luiz do Amaral, cerca de 6,5 milhões de pessoas de classe média seriam afetadas por essas mudanças, pelas quais o contribuinte deixaria de descontar esse tipo de despesas ao calcular seu rendimento líquido sobre o qual incidiria o imposto. Na nova forma planejada pelo governo, a dedução poderia ser feita depois de calculado o imposto devido e até o limite de 20%.

“Cerca de 29% da renda da classe média é dispendida em saúde, educação, previdência privada e medidas contra a violência”, afirmou Amaral, estimando que 25% da renda seja gasta com saúde e educação, potencialmente dedutíveis do imposto. “O perfil da classe média é de casais com filhos que não podem fugir desse tipo de gastos”, completou.

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