IPCA de junho teve deflação, a primeira desde 1998

O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) registrou em junho deflação de 0,15%, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Essa é a primeira deflação desde novembro de 1998, quando a queda de preços chegou a 0,12%. Também é a maior deflação desde setembro de 98, quando os preço caíram 0,22%.

Apesar de atípico, o resultado de junho já era esperado pelo mercado, que previa um número entre -0,05% e -0,20%. A deflação mostrada pelo IPCA, índice que serve de base para as metas de inflação do Banco Central, também abre espaço para uma queda firme na taxa básica de juros da economia brasileira, que atualmente está em 26% ao ano. O próprio ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, já admite uma redução apesar da reunião do Copom (Comitê de Política do Banco Central) só acontecer na próxima semana.

Motivos

A deflação no IPCA deveu-se principalmente à queda do dólar ao longo deste ano, à safra agrícola do período e à queda do preço da gasolina nas refinarias da Petrobras ocorrida no final de abril. Assim, os preços que registraram maiores quedas foram os da gasolina, do álcool e dos alimentos.

A gasolina, cuja queda chegou a 4,94%, foi o produto que mais influenciou na baixa. Já o preço do álcool caiu 12,14%. Os alimentos, favorecidos pelo final da safra agrícola, tiveram queda de 0,34% no mês. Entre as principais reduções, estão o tomate (-25,02%), a cebola (-21%), a cenoura (-16,01%) e o açúcar cristal (-10,95%).

A maior deflação ocorreu em Brasília, onde os preços caíram 0,71% e a maior alta de preços foi em Salvador: 0,36%. Em São Paulo, houve deflação de 0,15%.

O IPCA é calculado em nove regiões metropolitanas brasileiras além de Goiânia e Brasília. O índice se refere às famílias com renda entre 1 e 40 salários mínimos.

Trajetória de queda

A deflação de junho também mostra a trajetória declinante dos preços no país. Em maio, o índice apresentou alta de 0,61%.

No ano, no entanto, a inflação acumulada chega a 6,64% e, nos últimos 12 meses, a 16,57%. No primeiro semestre do ano passado, o IPCA havia registrado alta de 2,94%.

IGP-M

Anteontem, o IGP-M mostrou deflação de 0,17% na primeira prévia de junho, com um recuo de 0,37% nos preços ao consumidor. A mesma FGV (Fundação Getúlio Vargas), que calcula o IGP-M, já anunciou deflação ao consumidor por duas semanas seguidas consecutivas no seu recém-criado IPC-S – quedas de 0,14% e de 0,03% nas duas quadrissemanas anteriores ao dia 27 de junho.

Segundo a FGV, a deflação está diretamente ligada à queda nos preços dos alimentos por conta da entrada da nova safra.

Na avaliação do coordenador de análises econômicas da FGV, Salomão Quadros, porém, a deflação do varejo está com os dias contados. Isso porque já diminui o repasse da queda do dólar do atacado para o varejo e chega agora em julho o reajuste de energia em São Paulo e da telefonia fixa em todo o país.

Queda em Curitiba foi de 0,23%

A Região Metropolitana de Curitiba apresentou variação de -0,23% no IPCA de junho. Foi a segunda redução consecutiva (em maio, o índice foi -0,36%, a maior deflação do País) e a quinta maior queda entre as onze regiões pesquisadas pelo IBGE, atrás de Brasília (-0,71%), Belém (-0,36%), Porto Alegre (-0,36%) e Recife (-0,27%). No ano, o índice acumula alta de 5,28%, a menor do País, que teve elevação de 6,64%.

O recuo do IPCA na Grande Curitiba foi determinado pelas reduções bem superiores à média nacional nos grupos Alimentos e Bebidas (-0,60% contra -0,34%) e Transportes (-1,85% contra -1,45%). Além disso, o aumento em Habitação (0,26%) foi inferior à taxa brasileira (0,52%). Os demais grupos tiveram elevação acima das variações nacionais: Artigos de Residência (0,22%), Vestuário (2,64%), Saúde e Cuidados Pessoais (0,66%), Despesas pessoais (0,23%), Educação (0,74%) e Comunicação (0,21%).

O INPC de Curitiba, com variação de -0,15%, apresentou a menor queda entre as capitais, depois de fechar maio com -0,21%. No acumulado do primeiro semestre, o INPC teve incremento de 5,87%. (Olavo Pesch)

Agora só falta Copom ajustar corte nos juros

A trajetória de queda da inflação é “nítida” e “inquestionável”, o que abre espaço para um corte de pelo menos dois pontos percentuais na taxa de juro da economia na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central. A avaliação é do diretor da consultoria Global Invest, Fernando Ferreira.

A taxa de juro está atualmente em 26% ao ano. O Copom se reúne dias 22 e 23 de julho para decidir a trajetória da taxa para os próximos 30 dias. Na reunião de junho, o comitê promoveu um corte de 0,5 ponto percentual no juro, a primeira redução em 11 meses.

“O IPCA é só mais um índice que mostra deflação. E a situação só será perturbada por um potencial aumento dos preços administrados”, afirmou Fernando Ferreira.

De acordo com ele, uma redução inferior a 2 pontos percentuais na taxa Selic na reunião deste mês não faz sentido.

“Mesmo com o corte de dois pontos o juro continuará alto, em 24% ao ano, patamar muito superior ao verificado em outubro do ano passado, quando a taxa básica estava em 18% ao ano”, afirmou.

O juro alto já compromete o crescimento da economia neste ano. Ferreira avalia que um corte agora só fará efeito a partir do próximo ano. “No ano passado, quando o juro estava menor, o crescimento da economia já foi irrisório, de 1,5%. Imagine este ano, com o juro bem mais alto”, disse.

Segundo cálculo da Global Invest, a taxa básica média de 2002 foi de 19,1% ao ano, enquanto neste ano, até junho, estava em 25,9% ao ano, na média do período.

“A deflação mostra que o juro deveria ter sido reduzido muito antes. Agora que o caminhão está ladeira abaixo, é difícil fazer a economia reagir”, finalizou.

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