Investindo em qualidade para fazer bons vinhos

São Joaquim (SC)  – A Serra de Santa Catarina, especificamente a cidade de São Joaquim e arredores, região tradicional na cultura de maçãs (é a terceira do Brasil), está apostando alto no plantio de uvas para produção de vinhos. E dos bons. Os primeiros cachos começaram a ser colhidos semana passada, trabalho que se estenderá até meados de maio. Como o outono é uma estação de poucas chuvas naquela região, os produtores estão aproveitando o quanto podem a insolação nos vinhedos. Graças ao sol, as uvas amadurecem suculentas e aromáticos. É a garantia de que vem bom vinho por aí…

Estamos colhendo na mesma estação que os europeus. O outono é a época ideal – defende Dilor de Freitas, proprietário da Villa Francioni, a maior vinícola da região, que conta com nada menos que Robert Mondavi, responsável pela explosão do vinho californiano no mundo, como consultor dos vinhedos. É o único do Brasil.

Mesmo vinícolas tradicionais do Vale dos Vinhedos (RS), como é o caso da Dal Pizzol, estão colhendo os primeiros exemplares de chardonnay, cabernet sauvignon e merlot de uvas cultivadas na serra catarinense. São uvas que cresceram em vinhas plantadas a 1.400 metros de altitude, em pequenas cidades como Bom Retiro, Rio Rufino, Bom Jardim da Serra, Urupema e São Joaquim. No inverno, a temperatura nestas localidades pode cair para 10 graus negativos, a mais baixa do Brasil. E neves e granizos são freqüentes por lá. Daí a cobertura dos vinhedos.

Além de plantar uvas, a cidade de São Joaquim também produzirá e engarrafará os seus vinhos. Como no caso da Vinícola Villa Francioni, com 1.100 hectares plantados – todos com cobertura de náilon – e expectativa de produção de 500 mil garrafas por ano, entre tintos, brancos, espumantes e vinho de sobremesa, que serão processadas na moderna cantina que está sendo construída no local.

O primeiro vinho Villa Francioni será um chardonnay, branco, que chegará ao mercado nacional em outubro. Os tintos só serão comercializados no ano que vem, em meados de abril.

– Serão vinhos de padrão internacional – afirma Dilor de Freitas, que usa capital próprio. – Afinal, nosso projeto é o resumo de tudo que tem de melhor no mundo do vinho. Não há como errar.

Ao contrário da Serra Gaúcha, onde a vindima (colheita) termina em março, a serra catarinense só agora começa a colher suas primeiras uvas, que inclui, além das espécies tradicionais, variedades pouco exploradas no Brasil, como a argentina Malbec, as italianas Nebiollo, Sangiovese e Montepulciano, entre outras. São culturas experimentais em alguns dos oito vinhedos que recebem assistência de técnicos da Epagri, a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina.

A mais nova região de vinhos do Brasil é promissora. Segundo Rinaldo Dal Pizzol, as condições climáticas são ideais para a uva crescer bem, já que a amplitude térmica – a diferença entre a mínima (noite) e máxima (dia) – é bem marcante: pode variar em até 12 graus.

– A Serra Catarinense tem características bem distintas da gaúcha. E isso é ótimo, porque poderemos fazer vinhos diferentes – diz Dal Pizzol, que processa por ano 400 toneladas de uvas, num total de 400 mil garrafas dos premiados Dal Pizzol e Do Lugar.

Como o Vale dos Vinhedos, que produz 300 milhões de litros de vinho anuais, está com suas áreas saturadas de vinhedos, o jeito tem sido procurar outras terras para o plantio de uvas. Vinícolas como Almadén, Salton e Miolo hoje estimulam e investem no plantio de vinhedos em cidades distantes, como Encruzilhada do Sul, Santana do Livramento e mesmo Bagé, na fronteira com o Uruguai. Apesar de não terem qualquer tradição na cultura da uva -são regiões fortes em pecuária, cavalos de raças, fruticultura e arroz – pequenos produtores de Livramento e fazendeiros de Bagé estão mudando o mapa das uvas do país e criando novas fronteiras para o vinho brasileiro. A serra de Santa Catarina é a região da vez. E tem tudo para dar certo.

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