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‘Inovação social pode abrir novos mercados’, diz consultor

Fome, desmatamento e gravidez na adolescência são exemplos de questões que, para o consultor Jason Saul, não deveriam ser preocupação só do governo. O americano acredita que cabe ao setor privado criar modelos de negócio que solucionem esses problemas. À primeira vista, soa como caridade, mas ele é enfático: “As companhias estão utilizando sua inventividade e ativos para criar soluções pelas quais serão recompensadas financeiramente.” Confira a seguir os principais trechos da entrevista:

Como uma empresa pode crescer com inovação social?

O antigo paradigma é aquele no qual as empresas fazem o bem ao doar dinheiro a fundos de caridade ou apenas não fazendo nada errado – não maltratar funcionários ou poluir, por exemplo. Isso não faz os negócios crescerem, é apenas uma coisa bacana. As companhias estão utilizando inovação social para criar soluções pelas quais serão recompensadas financeiramente. Não estamos falando de caridade nem responsabilidade social. Elas usam seus negócios para solucionar problemas da sociedade e do meio ambiente: erradicar uma doença, reflorestar uma área, criar empregos para os mais pobres, ajudar jovens a prosperar na escola ou eliminar a fome. Ao solucionar um desses problemas, destrava valor econômico enorme, ganha clientes e amplia sua rede de relacionamentos.

Essa ideia não é alvo de certo ceticismo?

As pessoas tendem a pensar de maneira binária, esquerda e direita, não lucrativo e lucrativo. Muita gente não entende a integração de dois conceitos que não costumam andar juntos. “Como você pode resolver um problema social ao ganhar dinheiro? Não faz sentido!”. Mas faz. Porque o único caminho para resolvê-los é por meio da inovação. Não temos um problema real de falta de recursos. Estamos gastando bilhões de dólares em programas sociais sem mudar nada. Não é uma questão de gastar mais dinheiro ou aumentar impostos. Precisamos inovar e chegar a formas completamente mais sustentáveis que a caridade.

Se há oportunidade de lucro, por que as empresas não foram atrás dele?

As empresas não pensam na sociedade como um problema de negócios. Pensam somente em bens de consumo. Quanto mais as companhias tentarem mirar seus negócios na solução desses problemas, mais verão oportunidades de crescimento. Temos mercados maduros hoje. Preço, qualidade e conveniência estão praticamente iguais hoje em indústrias como celulose, alimentos, plásticos e agricultura. A única maneira delas crescerem é alcançando mercados ainda não atendidos e resolvendo problemas. Seja com a base da pirâmide, seja na questão ambiental.

O sr. viu algum progresso desde que começou a falar do tema?

Desde que publiquei meu livro sobre o tema, ajudei o Walmart a criar um programa de US$ 2 bilhões para eliminar a fome ao redor de suas lojas nos Estados Unidos. Ajudei a Coca-Cola a atuar sobre obesidade ao atrair jovens a praticar esportes. Aconselhei o McDonald’s a tornar mais fácil para as pessoas comerem de maneira saudável. Trabalhei com a Disney para alcançar pessoas que não podiam bancar passeios em seus parques. Acho muitas entenderam finalmente (o conceito), mas outras estão presas no modelo antigo.

O modelo serve para o Brasil?

Ele se aplica melhor no Brasil. As companhias mais maduras nos EUA estão presas ao modelo em que há um departamento de responsabilidade social e pronto. No Brasil, as companhias não são ricas o bastante para doar tanto para caridade, mas são bem-sucedidas o suficiente para perceber que devem fazer algo para crescer. É um mercado perfeitamente amadurecido para introduzir a inovação como ferramenta para mudanças sociais.

A polarização de hoje pode atrasar essas inovações por medo de ataques políticos?

É o oposto. O risco de ataques políticos a empresas são maiores se elas forem percebidas como parte do problema, e não da solução. Uma questão política é ser a favor do aborto ou não. A inovação social é como prevenir a gravidez de adolescentes. As empresas correm mais risco se não fizerem nada do que se fizerem algo considerado político. São problemas essenciais que governos desesperadamente tentam resolver, mas não têm inovação ou recursos para tal. No Canadá, uma das prioridades é criar empregos para jovens. O governo não pode fazer isso sem o setor privado, que precisa de mão de obra. É uma parceria óbvia.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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