Injeção de dinheiro vai estimular o comércio

Até dezembro, pelo menos R$ 31,6 bilhões, quase 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do País) serão injetados na economia brasileira. Essa montanha de dinheiro chega ao mercado no momento em que a maioria dos indicadores aponta uma retomada do crescimento econômico. Em outubro, as vendas do comércio varejista de São Paulo cresceram 9,3% frente ao mês anterior, já com ajuste sazonal. Na indústria paulista, o emprego teve o melhor outubro desde 1994, com a abertura de 7.731 postos de trabalho. Na avaliação dos economistas, a entrada de novos recursos na economia deve ajudar a consolidar esses sinais de recuperação.

São Paulo, Rio e Brasília (AG) – A estimativa dos R$ 31,6 bilhões considera o pagamento do décimo terceiro salário, a liberação de novos lotes da restituição do Imposto de Renda, o pagamento da correção do FGTS e os reajustes conquistados por metalúrgicos de São Paulo e bancários, que têm data-base no fim do ano. Juntas, as duas categorias reúnem cerca de 650 mil trabalhadores. Além destes, os 35 mil funcionários da Petrobras conseguiram um reajuste de 15,5%, mas a empresa e a Federação Única dos Petroleiros (FUP) não têm estimativas de valores.

O economista Armando Castelar, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), lembra que mesmo as categorias que não conseguiram repor a inflação passada obtiveram um reajuste superior ao aumento de preços previsto para os próximos 12 meses. Entre outubro de 2002 e o mês passado, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), taxa mais usada nas negociações salariais, subiu 16,15%. Os analistas financeiros estimam que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado nas metas do governo, vai subir 6,01% nos próximos 12 meses.

“Mesmo quem não está conseguindo reajuste do ponto de vista retroativo está conseguindo de forma prospectiva”, afirma Castelar.

Os bancários conseguiram um reajuste de 12,6% e, entre os metalúrgicos, alguns sindicatos conseguiram até 17%. Mas Castelar lembra que a expansão do crédito, graças à queda na taxa de juros, será o principal impulso para a retomada do crescimento. Essa injeção de recursos prevista para o fim do ano se deve, em grande medida, a fatores sazonais, como o décimo terceiro.

“De qualquer maneira, sem os reajustes salariais e outros recursos extras, a recuperação certamente seria mais lenta”, acredita.

O grosso da bolada de R$ 31,6 bilhões virá mesmo do pagamento do décimo terceiro salário. De acordo com estimativas do Dieese, cerca de 50 milhões de pessoas, entre pensionistas da Previdência e assalariados com carteira assinada, vão receber em novembro e dezembro R$ 25 bilhões.

Mas o supervisor nacional do Dieese, José Silvestre Prado de Oliveira, admite que a projeção pode ser conservadora, já que a pesquisa não considerou os empregados domésticos com e sem carteira assinada. Se fossem incluídos, a conta teria um acréscimo de R$ 1,4 bilhão.

Mais R$ 2,28 bilhões vão entrar no bolso de trabalhadores que têm direito à correção do saldo do FGTS. Pelos dados da Caixa Econômica Federal, entre outubro e dezembro devem ser pagos expurgos a 2,5 milhões (a quem fez acordo com o governo e deixou de sacar os recursos no primeiro semestre deste ano, quando, pelo cronograma oficial, estava prevista a retirada).

Outros R$ 7 milhões podem ser pagos, até o fim do ano, a trabalhadores que recusaram o acordo e mantiveram ações na Justiça.

Segunda-feira, a Receita Federal deposita cerca de R$ 1 bilhão referente ao sexto lote de devolução do Imposto de Renda, totalizando R$ 4 bilhões no ano. Depois disso, o órgão ainda ficará com um estoque de 2,5 milhões de declarações em aberto. Por essa razão, a expectativa do mercado é que o lote de dezembro some, no mínimo, R$ 500 milhões.

A conta dos R$ 31,6 bilhões é completada pelo dissídio de bancários e metalúrgicos. A projeção da Confederação Nacional dos Bancários é que os salários a partir deste mês vão chegar com um ganho extra de R$ 2 milhões. No caso dos metalúrgicos de São Paulo, a estimativa do sindicato é que os 280 mil integrantes da base vão levar mais R$ 141,1 milhões para casa.

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